2021/02/27

PLANOS

De há uns tempos para cá, muita gente clama por um plano para o desconfinamento, o qual deve ser organizado pelo Governo. O Primeiro Ministro disse ontem (26 de Fevereiro) que apresentaria esse plano no próximo dia 11 de Março, pelo que resta esperarmos mais alguns dias.

Na primeira vez que tive de colaborar na elaboração de um plano que não fosse trivial, como planear como passar o domingo, recebi de um colega uma sensata prevenção: “Meu caro, os planos são para furar!” O que, traduzido em linguagem não alegórica, significa que um plano não dá garantias de ser executado como prevê, porque isso raramente – ou nunca – acontece. E isto não tem mal nenhum, pelo contrário; ter um plano é excelente porque nos conserva dentro dos limites que nos levem a atingir o objectivo, mas o como alcançar esse objectivo pode requerer, de acordo com as circunstâncias de momento, alterar a estratégia que esteve na base da sua construção.  

Ora eu não creio que a esmagadora maioria dos que exigem o plano de desconfinamento esteja consciente do que acabei de dizer. Uns, porque não entendem; outros, porque entendem mas dá jeito, seja por que motivo for, reclamar porque o plano não foi cumprido. Temos o exemplo recente do plano de vacinação: existe, mas já teve de ser alterado: bastou que os prazos de entrega das vacinas não fossem cumpridos…

Compreendo pois muito bem a razão de o Governo não ter pressa em apresentar um plano. Porque quando o fizer, em 11 de Março, toda a gente vai tomar conta das datas e ser implacável se elas tiverem de ser alteradas. A não ser que não existam datas mas indicadores de situação – o que seria, porventura, preferível. A ver vamos.

2021/02/23

CARTAS ABERTAS…

Foram disponibilizadas hoje duas, na imprensa. Uma dirigida ao Governo e ao Presidente da República (por esta ordem, pouco hierárquica), no sentido de terminar gradativamente o confinamento das escolas, assinada por “um grupo de cidadãos e cidadãs, pais, professores, epidemiologistas, psiquiatras, pediatras e outros médicos, psicólogos, cientistas e profissionais de diferentes áreas”. Outra, dirigida às televisões generalistas nacionais, “exige uma informação que respeite princípios éticos, sobriedade e contenção”, criticando os critérios jornalísticos que têm sido usados nas notícias sobre a pandemia. Assinam quarenta e duas personalidades, mais ou menos conhecidas, de diferentes sectores da sociedade.

Uma carta aberta revela sempre alguma coragem, maior ou menor consoante o seu conteúdo. Podem ser mais ou menos justificáveis. Em relação às hoje divulgadas, pergunto-me o que podem esperar os seus autores como resultado da acção empreendida.

Vejamos: tendo em conta tudo o que aconteceu na evolução da pandemia, vale a pena um grupo de cidadãos pressionar o poder político para tomar uma decisão que é crucial seja a correcta, para não “andarmos para trás”? Não houve cartas abertas para a abertura no Natal, mas houve uma concordância evidente de quase toda a gente: correu mal. Muito mal. E depois culpou-se o governo! E agora? Se se aceitassem as propostas dos proponentes da carta aberta e voltasse a correr mal, assumiriam eles as culpas? Num momento tão delicado não faz sentido haver pressões, venham de onde vierem: quem tem de decidir que decida com a convicção que tiver formado.

Quanto à segunda carta aberta, subscrevê-la-ia na íntegra: ela expressa o que estou certo muitos pensam, que tem havido um exagero no modo e no tom da informação e alguma distorção quando se interpretam os factos. Mas não espero consequências…  

2021/02/22


CLARO, HÁ AS REDES SOCIAIS… E OS BLOGS!

Sim, além dos jornais e revistas, há hoje as redes sociais, que se tornaram tão importantes que têm sido determinantes na estratégia de governantes e até do Papa! E antes delas, os blogs, que tendo pedido o seu ímpeto inicial têm resistido por parte de alguns dos seus mais resilientes criadores.

Sou muito crítico das redes sociais em geral, embora acredite que entre as muitas existentes algumas possam cumprir objectivos valiosos para os seus seguidores. Mas     aquelas mais generalizadas vieram piorar consideravelmente a informação disponível, difundindo mentiras que são acolhidas e espalhadas como verdades, lançando confusão nas pessoas, espalhando calúnias que mesmo não provadas resistem ao tempo e perseguem os caluniados, semeando ódios que se multiplicam porque não é fácil seguir o preceito evangélico de ser esbofeteado e dar a outra face para que repitam a agressão. Em tempos aderi ao Facebook, mas nunca fui um “praticante” sustentado, e recentemente encerrei a minha conta.

Os blogs, que em certo sentido podem cair no âmbito das redes sociais, por causa dos comentários abertos, permitindo a troca de ideias, não têm a abrangência das verdadeiras redes sociais. E são muito mais interessantes. No princípio, frequentava vários blogs com alguma assiduidade; com o tempo fui deixando cair muitos deles e hoje talvez visite uma meia dúzia que acho merecerem a pena. Normalmente não comento, a não ser para explicitar, informar ou corrigir o que sei está errado (isso aconteceu já por algumas vezes).

Curiosamente, a maior parte dos blogs sobre educação por que passei recentemente não me deixaram boas impressões. Os professores estão muito ácidos, hipercríticos, e desde a Maria de Lurdes Rodrigues decidiram que seja quem for para o Ministério é incompetente – a competência parou neles. Paciência.

2021/02/19

 EU E OS JORNAIS

Não posso jurar, mas creio como muito provável que tenha começado a aprender a ler folheando jornais e revistas. Nas minhas lembranças da infância, aos quatro, cinco anos, vivendo no Seixal, nos anos 40 do século passado, encontra-se o cerimonial diário de, pela manhãzinha, o Sr. Firmino, que distribuía os jornais que chegavam de Lisboa pelo primeiro barco, lançar O Século com destreza para que ele aterrasse no soalho da sala do 2º andar onde vivia. Depois o meu Pai “desembrulhava” o jornal, e de pé, junto à mesa do pequeno almoço, folheava-o numa primeira leitura antes de seguir para o seu emprego. Eu ficava ao pé dele, provavelmente mais atento a fotografias do que a texto, mas mesmo assim assimilando o princípio, que ficou para a vida, de que ler o jornal era o natural começo do dia (não dizia Hegel que a leitura do jornal era como a oração matinal para os crentes?). Na casa dos meus pais o diário era O Século, como mais tarde foi o Diário Popular. Também se lia o Século Ilustrado e a Flama, e jornais infantis existiam muitos: O Senhor Doutor e o TicTac, que vinham dos meus irmãos, e depois o Diabrete, o Papagaio, e finalmente, a acabar, o Cavaleiro Andante, foram meus companheiros por largos anos.

Depois, já estudante, descobri o Diário de Lisboa e a República, mais tarde refinei as minhas escolhas lendo de vez em quando o Le Monde e durante algum tempo, todas as semanas, o The Observer (isto em meados da década de 60). Fui depois cativado pelo Le Nouvel Observateur, que assinei uns dois ou três anos. Internamente acompanhei o reaparecimento de A Capital, e, claro, fui dos muitos que viu no Expresso a redenção de uma imprensa que prometia sempre muito mais do que cumpria. No Funchal tornei-me assinante do jornal cor de rosa, o Comércio do Funchal, situação que mantive até ao seu falecimento.

Estava nos Estados Unidos quando surgiu o Público pelo que só quase três anos depois passei a ser seu leitor. O meu respeito pela imprensa levou-me sempre a ler os jornais das localidades onde vivia – por isso em Iowa City assinei o Iowa City Press Citizen (e, claro, lia o Daily Iowan, o jornal da Universidade!) e em Braga lia diariamente quer o Correio do Minho quer o Diário do Minho.

Hoje, mantenho a assinatura do Público, Diário de Notícias e Expresso, nas versões digitais, mas perdi muito do meu sentimento positivo quanto ao papel e valor da imprensa. Talvez pela influência das redes sociais, o jornalismo aparece hoje a meus olhos não como uma fonte de informação independente e credível, mas como um repositório de opiniões que, tendo de ser respeitadas numa sociedade plural, têm por vezes mais toxinas do que o que devia ser permitido a bem da saúde pública… Por exemplo, o estatuto editorial do Público afirma que este “é um jornal diário de grande informação, orientado por critérios de rigor e criatividade editorial, sem qualquer dependência de ordem ideológica, política e económica”. Tenho as minhas dúvidas, a ver pelos editoriais assinados pelos responsáveis da publicação, que estejam a cumprir essas directivas. Há – ou deveria haver – uma grande diferença entre um articulista comentador, que pode distorcer os factos a seu bel-prazer, e um jornalista, de quem se espera que nos apresente os factos.

Os jornais foram muito prejudicados pelo desenvolvimento das tecnologias digitais. A necessidade de estarem presentes na Internet, mesmo quando não permitem que boa parte dos seus conteúdos sejam de leitura livre, levou ao quase desaparecimento do jornal em papel e a uma diminuição de proveitos importante. Adicionalmente, o aparecimento e crescimento rápido e maciço das redes sociais, em algumas delas surgindo “fontes de informação” muitíssimo suspeitas mas nem por isso ignoráveis por quem busca notícias, tem contaminado jornais que se queriam de excelência.

Apesar destas considerações, não sou capaz de deixar de ler jornais…

2021/02/18

 

A Presidente do Conselho Nacional de Educação

Quando Maria Emília Brederode Santos tomou posse como Presidente do Conselho Nacional de Educação, há quase quatro anos, dediquei-lhe um post (que pode ser recuperado aqui).

A sua presidência tem sido relativamente discreta, mas sempre consistente com o que se poderia esprar de alguém que tem da educação uma visão esclarecida, aberta à evolução do pensamento pedagógico, alicerçada em bases simultaneamente humanistas e progressistas. Num tempo em que é fácil aceitar extremismos, quando a Maria Emília intervém fá-lo sempre com a palavra lúcida e sensata que desmonta as grandes frases de quem pensa que tem sempre razão.

Ora a Maria Emília deu uma entrevista ao Público e à Rádio Renascença na qual, uma vez mais, me pude rever em praticamente tudo o que diz. Vale a pena ler (ou ouvir).

2021/02/16

 

O PRR E A EDUCAÇÃO

Foi disponibilizada hoje a versão final do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para um curto período de 13 dias para consulta pública. É um documento extenso, não o li todo, mas procurei nele o que estava consignado para a educação. E entre os muitos milhões destinados a aquisições de equipamentos e para a formação, despertou-me a atenção a secção “Reforma para a educação digital”, e em especial umas linhas que transcrevo a seguir:

“[E]sta reforma permite alavancar as mudanças introduzidas pelas políticas educativas mais recentes, nomeadamente o regime de autonomia e flexibilidade curricular (DL 55/2018) e a organização curricular em torno das Aprendizagens Essenciais, e consolidar o potencial destas políticas na transformação dos processos de ensino-aprendizagem.” (p. 116)

Não posso concordar mais com o objectivo enunciado. Parece que ele responde à minha inquietação de ontem, quando dizia que o que mais me preocupava é que se pudesse estar a perder uma oportunidade para a mudança da escola. 

Mas, parafraseando o Primeiro Ministro, “vamos lá ver…”

2021/02/15

DEBATER O DIGITAL NA ESCOLA

Não há duas opiniões para este dado: a escola, e tudo o que a ela está ligado, desde a cúpula do governo à comunidade educativa lato sensu, sofreu por causa da pandemia um severo desafio, não à sua existência, mas à sua configuração tradicional.

Não que a discussão sobre a necessidade de uma “nova” escola não seja recorrente e que não tenham existido numerosas tentativas de a reformular, algumas bem antigas (e algumas bem interessantes). Desde há uns anos, a evolução rapidíssima das tecnologias digitais tem determinado um incremento da sua aplicação à educação e começou a pensar-se mais em termos de uma “escola digital” (designação que, pessoalmente, não me agrada).

A Covid-19 veio, subitamente, colocar no centro das preocupações de todos os interessados. e são muitos, o problema de como continuar a ensinar os nossos alunos se as escolas tinham de ser encerradas, para evitar os contactos pessoais. A resposta foi rápida e geral: uma vez que não constituía segredo que era possível haver um ensino a distância – que há dezenas de anos existe em todo o mundo – tentou-se universalizar o método.

No caso português, fez-se o que se podia, na expectativa de que pudesse correr melhor do que pior. Dado, por um lado, os equipamentos disponíveis nas escolas e também por parte dos alunos, e ainda os constrangimentos familiares que o estudo em casa implica, e por outro o tempo de que se dispôs para a organização do modelo e os professores que temos, muitos sem grande informação e formação na área do digital, eu diria que correu melhor do que se poderia esperar.

Quando se julgou possível e sem risco para a saúde pública as escolas reabriram, e o ensino presencial regressou. Esperava que, apesar disso, estivesse previsto e preparado um plano para regresso ao ensino a distância, uma vez que a evolução da pandemia não parecia augurar melhorias significativas. Mas não foi assim; e por isso, quando se tornou necessário voltar a fechar as escolas, verificou-se que o governo não cumprira o que prometera em relação a equipamentos para alunos e escolas (e Internet de alta velocidade) e, na prática, voltou a improvisar-se.

O que me confunde, no entanto, nem é a situação de incumprimento, são as afirmações de responsáveis (incluindo o Ministro da Educação) acerca da imprescindibilidade do ensino presencial, quando, de acordo com o Plano de Recuperação e Resiliência 2021-2026 (PRR), cuja discussão está em curso, um dos roteiros propostos é intitulado Reforma para a Educação Digital! Que outros afirmem que o ensino a distância “é uma porcaria” (sic), é uma opinião; que sejam os responsáveis a minimizar uma das ferramentas que mais contribuirá para o futuro da nossa educação custa mais a admitir.

O que me preocupa é que se possa estar a perder uma oportunidade para a mudança da escola. Porque ninguém quer que a escola desapareça. Quer-se é outra escola. Que terá de ser compatível com o digital, ou não será. E para essa escola é necessário, para além de equipamentos, que existam professores preparados para assumirem a sua profissão, que não muda de essência, mas de modo de actuar.

Que não se hesite mais em começar um debate sério sobre este tema. 


2021/02/12

 

CURTAS DE CONFINADO

Não haverá exagero, por parte dos responsáveis pelos canais de notícias da televisão, na repetição, ad nauseam, de vacinações contra a Covid-19? Confesso que estou farto!

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Encontrei um entretém: ir para a janela pela hora de almoço, aos fins de semana, contar quantos estafetas da Uber, Glovo, etc., passam na rua para fazer entregas ao domicílio. São dezenas!

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É só impressão minha, ou não foi o Presidente da República quem mais “empurrou” o Governo para “adoçar” o confinamento no Natal?

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Num período de confinamento, faz sentido a EPAL (Empresa Pública das Águas de Lisboa) fazer leitura domiciliária de contadores?

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Haverá alguma relação entre a pandemia e a carreira do Sporting Clube de Portugal nesta temporada?

2021/02/10

 

A TER EM CONSIDERAÇÃO

Leio no Público de hoje que o novo responsável pela Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior (CNAES), o Prof. Fontainhas Fernandes, irá liderar um grupo de trabalho com a missão de analisar as recomendações do Conselho Nacional de Educação sobre as condições de acesso ao ensino superior, recomendações essas que põem em causa os pesos das classificações no ensino secundário, admitindo que universidades e politécnicos deveriam ter maior responsabilidade na admissão dos seus alunos.

É uma boa notícia. Reconheço que não será fácil encontrar uma solução que seja facilmente aceite, mas pelo menos, serão discutidas opções. Lembro-me que nos finais dos anos 80, estava eu em Faro na Escola Superior de Educação, facultámos instalações para que um pequeno grupo de professores da Faculdade de Medicina de Lisboa entrevistasse creio que umas duas dezenas de alunos do Algarve que pretendiam entrar nessa faculdade. Não sei em que condições foi isso autorizado nem os seus resultados. Mas era óbvia a ideia de poder acrescentar aos conhecimentos do secundário as motivações e condições psicológicas para a profissão que os alunos pretendem seguir.

No caso dos cursos de formação de professores seria igualmente muito importante uma entrevista que contasse para a decisão de admissão de candidaturas. Repito, reconheço que não será fácil encontrar uma solução. Mas fiquemos atentos, na expectativa do que possa acontecer.

2021/02/08

 

SERÁ POSSÍVEL ENTENDERMO-NOS?

Na noite de ontem, os três canais de TV que dispõem de um serviço noticioso (SIC-N, TVI24 e RTP3) dedicaram tempo ao recomeço do ensino a distância, dando a voz a dois ex-ministros da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues (MLR) e Nuno Crato (NC), uma economista que de vez em quando escreve sobre educação, Susana Peralta (SP), e um professor do ensino básico, Paulo Guinote (PG).

Se procurássemos um denominador comum às diferentes vozes escutadas, talvez fosse aceitável uma frase de NC que, de algum modo, teria sido subscrita por todos; “Nada substitui o ensino presencial”. Houve outros temas comuns, como o facto de as crianças desprotegidas serem mais prejudicadas, de a situação de algumas famílias não lhes permitir dar acompanhamento aos filhos no seu estudo em casa, e houve críticas ao Ministério da Educação pelo facto de não existirem os equipamentos prometidos em Abril do ano passado. Inteiramente de acordo na censura ao Ministério por essa falha.

Centro-me no tal denominador comum: “Nada substitui o ensino presencial”. Ora, vamos lá ver se é possível entendermo-nos. Eu penso que poucas pessoas pensarão no desaparecimento das escolas, apesar do interesse que na altura despertou o livro de Illich Deschooling Society. Ninguém quer prescindir da acção dos professores. Mas muitos pensam (e estou com eles) que a escola tradicional tem de se adaptar aos novos tempos e contar com a verdadeira revolução digital que transformou o nosso modo de viver. Desde os anos 80 do século passado que Portugal acertou o passo no caminho do digital na educação: quem se lembra do projecto MINERVA? e, mais tarde, do NÓNIO, Século XXI? E, recentemente, do programa Escola Digital? Mais: não existiu – e existe – em Portugal, a Escola Móvel, um projecto para apoio de crianças e jovens filhos de pais itinerantes, que utiliza a Internet para a sua consecução?

Vamos esquecer tudo isso e, porque numa emergência dificílima, quando se teve de organizar um ensino a distância para todas as escolas do sistema, nem tudo correu bem, varrer das nossas preocupações a integração das tecnologias nos projectos curriculares das escolas?

Portanto, deixem-me sugerir uma mudança na frase que comentei. Não é “nada substitui o ensino presencial”, é “nada substitui o papel do professor na escola”. Isto é: escola e professores são essenciais, mas muito pode ser feito no sentido de aproveitar um meio a que a generalidade dos alunos tem acesso para benefício das suas aprendizagens.

Mais um ou dois comentários à noite de ontem. O retrato que foi feito das condições de parte das crianças e jovens carenciados por SP, que como bem disse MLR, é conhecido, só por si é condição que sugere maiores dificuldades de aprendizagens escolares. Infelizmente é uma situação que ainda não foi resolvida em democracia. E a escola não pode, por si, resolvê-la.

PG, como professor, elencou com clareza todos os problemas que o ensino a distância levanta, que são muitos e, em alguns casos, sérios. Reconheceu, contudo, que é possível que em algumas situações, escolas e professores consigam resultados interessantes. Mostrou-se crítico da “tutela” (termo que não ouvia há muito) o que penso possa ser um sentimento comum a muitos professores.

Uma última palavra para NC, que apareceu calmo a desejar que no futuro houvesse um currículo ambicioso. Não lhe perguntaram o que era isso, portanto…

2021/02/07

 

AMANHÃ…

… regressa o ensino a distância em Portugal. Como em Março, regressa por uma emergência e não por ter sido definido um plano em que a sua implementação tivesse um enquadramento em que escolas, professores, alunos, e comunidade escolar, tivessem uma informação clara e sobretudo atempada.

Os dados estão lançados, e por isso, resta-nos estar atentos ao que vai acontecer, principalmente as decisões do poder central e ao modo como as escolas vão interpretar a sua autonomia para gerir este novo período de um ensino a distância.

Pela minha parte, confinado e apenas informado pelo que oiço, vejo e leio, estarei atento e sempre que possível darei conta do que penso.

2021/02/06

 

EM TEMPO…

Depois de ter publicado o texto de ontem, soube que a Direcção-Geral de Educação divulgara, no passado dia 3, o documento “Contributos para a implementação do ensino a distância nas escolas” (ver aqui), no qual são dadas orientações para a preparação das actividades lectivas a distância das próximas semanas.

Não é, propriamente, o plano a que me referia ontem, mas considero ser um elemento importante para as escolas e professores, na medida em que, apelando à sua autonomia, caracteriza o que são (ou podem ser) actividades síncronas e assíncronas, fornecendo indicações pertinentes sobre a construção dessas actividades.  

Salientem-se dois aspectos, um mais relevante do que outro: a consideração do papel do professor titular/director de turma/coordenador de Curso em todo o processo; e a manutenção da forma correcta de grafar (e dizer) “ensino a distância” e não “ensino à distância”.

2021/02/05

 

ENTENDO AS DIFICULDADES, MAS…

Desde o verão que não comento o que está acontecendo no campo da educação. É muito complicado ter de tomar decisões quando se enfrenta a incerteza e existem pressões várias em direcções opostas. Mas a situação em que a pandemia colocou o sector, e que num primeiro momento até foi relativamente bem resolvida, tem agora um outro desenvolvimento e importa reflectir sobre ele.

Praticamente em todo o mundo a Covid-19 fechou escolas e ensaiaram-se modelos de ensino a distância. Seria espantoso que de um momento para o outro tudo funcionasse muito bem. Centrando-nos no caso português, apesar de há mais de trinta anos os nossos professores estarem familiarizados com as tecnologias de comunicação e de existirem centros onde se têm desenvolvido experiências importantes, não se poderia esperar que, como num acto de mágica, todas as escolas e todos os professores dessem a resposta adequada ao desafio lançado. E temos de acrescentar a falta de computadores, quer nas escolas, quer em muitos alunos, e os problemas da rede. E muitos outros – dos quais, porque muito debatido, avulta o problema dos alunos mais carenciados, que continuariam a ver agravadas as desigualdades em relação aos colegas mais protegidos.

As promessas explícitas de Abril de 2020 de fornecimento de equipamentos para ao alunos e de condições de acesso favoráveis à rede de alto desempenho para este ano lectivo foram feitas em vão. Lamentavelmente. Eu entendo as dificuldades, mas…

Disse na altura que não perdoaria ao Primeiro Ministro se falhasse esse objectivo. Isto porque eu pensava que, numa previsão de continuidade da pandemia no novo ano lectivo, o Ministério da Educação desenvolvesse um plano, no qual as escolas e professores teriam certamente um papel central, com duas ou mais alternativas, claramente enunciadas, em que o ensino a distância, não como substituto do ensino presencial mas como seu adjuvante, fosse contemplado. Respeitando a autonomia e a flexibilidade curricular desejadas e que neste caso se justificariam redobradamente.

Foi com perplexidade que percebi que tal plano não existia. A insistência em manter as escolas abertas quando parecia que tal estava a contribuir para piorar a pandemia avolumou a minha suspeita. Ninguém defende que o ensino a distância seja mais eficaz do que o presencial, em especial nas primeiras idades. Mas ignorar as suas virtualidades se integrado num plano adequado parece-me desajustado.

E agora? Vamos ver como corre esta segunda fase. Será que dela se poderá partir para um repensar de uma escola diferente?

   

2021/02/04

 

REGRESSO

Há pouco mais de cinco anos, associei este blog a um outro, A Destreza das Dúvidas, na sequência de um amável convite que muito apreciei, até porque se tratava de um blog colectivo que, na altura, contava com uma colaboração variada. Desde então, os meus posts passaram a ser publicados simultaneamente nos dois blogs, com periodicidade muito irregular. Com o tempo, porém, as contribuições dos vários colaboradores passaram a escassear, e praticamente o blog A Destreza das Dúvidas tornou-se quase um blog unipessoal, onde de vez em vez aparecia uma entrada diferente – minha.

Aparentemente, o interesse pelos blogs tem diminuído. A rápida evolução das redes sociais, permitindo uma interacção diferente, terão desviado muitos leitores dos blogs. Pessoalmente as redes sociais não me seduzem, ainda que em certos aspectos possam ter grande utilidade. Por isso cheguei a pensar deixar “morrer” A Memória Flutuante, já que a minha colaboração n’ A Destreza das Dúvidas estava, na prática, terminada.

Contudo, verifiquei ontem, com surpresa, olhando as estatísticas fornecidas pelo Blogger, que diariamente ainda passam por aqui dezenas de leitores. Mesmo que isso aconteça casualmente, esse facto não deixou de me impressionar. E reflectindo, senti-me quase obrigado a retomar o contacto com esses leitores passantes ou (eventualmente) antigos frequentadores do blog.

Deste modo, A Memória Flutuante retoma hoje a sua publicação.

Com gosto por regressar.