Na quarta-feira passada fui a Coimbra para apresentar um livro que é a tese de doutoramento de uma docente da Escola de Enfermagem Bissaya Barreto de quem fui orientador. A Escola comemorava 35 anos de idade e quis também homenagear essa docente, que bem o mereceu. Foi uma festa bonita e que me deu a ideia de a Escola ter conseguido ao longo destes anos criar um “ethos” que a personalizou.
Aproveitei a manhã para uma romagem de saudade à Coimbra dos anos 60 do século passado na qual vivi. Muitas diferenças… As ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz, o Largo de Santa Cruz, predominantemente pedonais (mas apesar disso, com trânsito de veículos a mais) conservam muito do passado. Mas desapareceu o Café Internacional, o que mais frequentava quando ia à Baixa, mas também a Brasileira; na Praça da República procurei em vão o Mandarim… Contudo, ao subir para a Alta, mesmo ao fim da Rua Lourenço de Almeida Azevedo tive a surpresa agradável: o pequeno Café Atenas ainda existia! Foi lá que durante quase dois anos almocei e jantei.
Entrei. À distância de mais de quarenta anos ainda posso reconhecer que no essencial pouco mudou – ainda que o mobiliário não seja da época. Sento-me na mesa do canto, que normalmente ocupava. Via dali a televisão, a preto e branco nessa altura, hoje a cores e já em LCD… Há meia dúzia de fregueses àquela hora (seriam onze e meia da manhã). Alguns serão professores da Escola José Falcão, que fica ali a dois passos… Tento saber se ainda há qualquer ligação ao proprietário do meu tempo (creio que era o Sr. Quaresma, mas não estou seguro). A senhora que me atende diz que não – o Café já terá passado por outras mãos, mas tem-se conservado. Ainda bem!
Vou ver as “minhas” duas casas, onde morei: uma na Rua João Pinto Ribeiro, outra na Avenida Afonso Henriques. Estão na mesma – melhor, mais velhas mas ainda firmes… Na fachada do Liceu (deixem-me dizer assim…) um cartaz anuncia que o edifício comemora os 70 anos de idade. Não sabia que também ele nascera em 1936… Não entrei. Um dia fá-lo-ei, naquele momento não me apeteceu. Preferi regressar à Baixa, demorar-me ainda deambulando no Parque de Santa Cruz…
Creio que já o disse anteriormente: gostei de viver em Coimbra, Por isso gostei também de, nesta manhã, deixar a minha memória flutuar até esse passado tão distante.