2005/08/06

Naturalmente, Hiroshima


Foi há sessenta anos que a Humanidade percebeu que se encontrara um meio de destruição poderoso e terrível. A guerra na Europa acabara – mas as hostilidades continuavam no Oriente, e o Japão, que infligira uma humilhação aos norte-americanos em Pearl-Harbor em 1941, era agora o alvo a abater. A decisão de usar a bomba atómica, que desde o começo da guerra estava a ser construída, tomada pelo Presidente Truman, foi criticada mesmo por altas personalidades norte-americanas, como o General Eisenhower; por um lado, porque se acreditava que os japoneses iriam ser vencidos sem o recurso à bomba, e por outro porque o seu uso punha em causa um dos princípios que toda a guerra pretende salvaguardar – não causar danos a populações civis. É bem verdade que tal princípio não fora respeitado em todo o conflito, mas o massacre do dia 6 de Agosto de 1945 (mais de 140 000 pessoas mortas na cidade de Hiroshima) excedeu tudo o que até então se fizera.

Não tenho memória de quando e como soube do lançamento da primeira bomba atómica. É curioso, porque me recordo de outros momentos da Grande Guerra de 1939-1945.

Para o futuro ficou o medo das armas atómicas – a sua proliferação por diversos países tornou a bomba atómica um elemento de receio que de algum modo favoreceu a contenção (lembram-se da “guerra fria”?). Mas as guerras continuaram, e continuam. Não me apetece, neste momento, escrever sobre isso. Só quis lembrar a efeméride.

(A propósito! Sabem que faz hoje 115 anos que, nos Estados Unidos, se procedeu à primeira execução através da cadeira eléctrica?)

2005/08/05

A comunicação social que temos


Desde há muito tempo que, com raras excepções, tenho uma desconfiança enorme acerca da comunicação social. Informar com isenção não é fácil, sobretudo quando se escreve para uma sociedade que ainda está longe de ter compreendido o sentido pleno do que é a democracia. Informar tendo respeito pelos outros seria mais fácil mas não é: ainda agora comentei isso num post da Saltapocinhas acerca das entrevistas caricatas a quem é vítima dos fogos. Informar sem envenenar seria excelente. Mas não é. Um exemplo de uma revista que, apesar de tudo, leio aos fins-de-semana: a Sábado de hoje. Uma local sobre a aposentação do Provedor de Justiça, Nascimento Rodrigues (ver aqui a sua biografia) é titulada “Uma boa reforma”.

Nascimento Rodrigues vai receber de aposentação cerca de 4,500.00 €, o que é considerado uma “reforma dourada”…

Fico perplexo. Nascimento Rodrigues trabalhou toda a vida na função pública. Foi técnico superior, deputado, Ministro, exerceu numerosos cargos importantes – incluindo o último, o de Provedor de Justiça. O que recebe como pensão de aposentação, tendo 65 anos, é pouco mais ou menos o que recebem muitos juízes, professores catedráticos, e funcionários de algumas carreiras da saúde. Reforma dourada porquê? Que chamem reforma dourada a quem receba um bónus por trabalhar meia dúzia de anos num serviço, certo! Mas a quem acaba uma carreira e ostenta um currículo como ele?

Devo prevenir que não tenho relações pessoais com Nascimento Rodrigues. Mas irritou-me o veneno.

Marilyn Monroe


Passam hoje 43 anos sobre a morte de Marilyn Monroe. Não sendo um seu admirador (e na altura dava muito mais espaço ao cinema na minha vida do que dou hoje, mesmo incluindo o cinema que me chega pela televisão) a morte de Marilyn, pelas circunstâncias dramáticas em que ocorreu, não me passou desapercebida. No entanto, e como parece óbvio, não me recordaria da data se não fosse para ela lembrado pela comunicação social. Tendo-o sido, a minha memória reconstituiu parte dos meus pensamentos perante a notícia, muito centrados no problema do consumo de estupefacientes, imaginando-os um mal que afectava sobretudo a classes socialmente mais expostas. Mal podia imaginar o que o futuro nos iria reservar em relação aos malefícios das drogas!

Nota: A prometida análise do documento Os números chave da Educação na Europa – 2005 vai demorar um pouco. Há dados interessantíssimos mas é preciso cuidado na análise. E sempre são 392 páginas!

2005/08/03

Recuperar partes do passado


Primeira página do dossier...

Aproveito os primeiros dias de férias – entenda-se, dias em que me dispensei de ir regularmente à Universidade, quase certo que nenhum assunto urgente caia na minha secretária – e resolvo dar uma volta aos meus “papéis”, que persistem em amontoar-se. Vou um pouco mais longe do que arrumar papéis, diga-se: há zonas de estantes e armários, caixas que não toco há muito. O que terei eu guardado nesta? Que desleixo não ter um letreiro…

E dela salta um dossier (perdão: dossié é palavra que nunca escreverei!) do tamanho de um caderno diário dos meus tempos de aluno, formato 22x15, capa de cartão hidráulico castanha. Reconheço-o imediatamente. Sei o que contém. Viajo até aos meus 17 anos. Estou em férias, entre o meu 6º e 7º ano do Liceu (actuais 10º-11º). Uma colega, mesmo ao findar do ano lectivo, emprestara-me um livro “mais ou menos proibido”, Príncipes Élementaires de Philosophie, de Georges Politzer. Quando comecei a lê-lo achei-o de uma grande clareza, e decidi… traduzi-lo! E se bem o pensei, melhor o fiz. Como era hábito, devo ter tido férias em Agosto, indo com os meus pais e irmãos ou para Runa ou para Sesimbra (aqui, a memória falha…), mas em Setembro (que ao tempo era um mês inteirinho de férias para os estudantes) estava em Lisboa. E entre os dias 2 e 19 (é o que consta no dossier, ver acima) traduzi, escrevendo em folhas soltas de caderno diário, todo o livro. Lembro-me que grande parte do trabalho foi feito no Café Monte Carlo, ao Saldanha – já não existe – para onde ia depois do almoço, e onde me deixavam estar quase toda a tarde a escrever a troco da “bica” que tomava. Pergunto-me hoje se terei alguma vez tido consciência que poderia ter eventualmente corrido algum perigo se olhar indiscreto percebesse o que eu estava a fazer, uma vez que em 1953 traduzir um autor comunista não seria o mais aconselhável. Creio que não tive essa consciência.
Ao folhear as 312 páginas escritas quando eu tinha 17 anos, não posso deixar de ter um sentimento estranho de recuperar um tempo de juventude que foi determinante para a minha formação pessoal.

A minha tradução andou depois por várias mãos, e contém algumas anotações de colegas que a leram. Depois… tem repousado, a constituir-se quase como uma relíquia (perdoe-se-me o exagero) do meu passado. Deve por isso constar da minha Memória.

Nota: Por curiosidade, fui ver à Net. O livro de Politzer existe para download aqui.

Marcas do passado


Marcas do passado... (Curia, parque)

2005/08/02

A avaliação das Universidades


Em dias próximos, houve notícias de estudos centrados na avaliação das Universidades, e, naturalmente, de reacções a esses estudos. Digo naturalmente porque a minha experiência em avaliações diz-me que esse é um dos processos mais complicados de gerir, seja qual for o seu âmbito. Isto em especial se a partir das avaliações se tentarem estabelecer “rankings”.

Hoje, queria apenas deixar uma nota muito breve.

Não se pode dizer, generalizando, que as Universidades receiem ou não queiram ser avaliadas. Penso que, pelo contrário, tem existido a diversos níveis, interno e externo, abertura para a avaliação. Contudo, essa abertura não pode deixar de exigir, como contrapartida, clareza no estabelecimento de indicadores e da lisura de processos de análise. Não basta dizer que “os trabalhos que efectuam comparações de eficiência entre grandes instituições … deve(m) ser lido(s) com algum cuidado” (local de António Granado no Público de ontem, sob o título “Investigadores medem eficiência das Universidades portuguesas”. A verdade é que não há comparação possível de instituições organizacionalmente diferentes, em especial se se usarem apenas dados numéricos. A divulgação desses resultados pode ter (para não dizer claramente que tem) o efeito de para a maior parte dos leitores se tomar como decisiva a informação dada. O que não se afigura justo, quando qualquer avaliação deve ter como meta a objectividade, factor que deve minorar as injustiças…

2005/08/01

A Emissora Nacional


Faz hoje 70 anos nasceu, oficialmente (porque desde há alguns anos se faziam emissões experimentais), a Emissora Nacional de Radiodifusão, que em 1975 passou a RDP (Rádio Difusão Portuguesa), a estação pública de rádio. Nasceu, como era natural na época, sob o signo da política do regime personificado em Salazar, e como resposta a rádios privadas que entretanto já emitiam regularmente – como a Rádio Sonora ou o Rádio Clube Português, no Sul, ou a Sonora Rádio no Porto. A EN é apenas um pouco mais velha do que eu…

Como só em 1957 nasceu a televisão, a minha infância e juventude foi muito marcada pela rádio, como aliás já disse em posts anteriores. Ainda recordo com nitidez as vozes de alguns locutores: Pedro Moutinho, Maria Leonor, Igrejas Caeiro, Alberto Reprezas, Olavo d’Eça Leal… (e do Rádio Clube, como esquecer a Mary – uma voz de oiro num corpo enorme!) Também me lembro dos relatos de desafios de futebol com o Quádrios Raposo (normalmente, o resumo da primeira parte e o relato da segunda…), dos Serões para Trabalhadores aos sábados, e de esperar a hora do almoço de domingo para ouvir o Domingo Sonoro, a revista semanal de actualidades que terminava com os diálogos – do Eça, da Lélé e do Zequinha…

A Emissora Nacional, enquanto “serviço público”, não foi melhor nem pior do que outras instituições no que se referia à reverência pelo regime. Teve como tutor António Ferro – o homem da propaganda – e, imagine-se, um dos seus primeiros directores foi Henrique Galvão, que mais tarde haveria de romper com Salazar e ser rosto da oposição e autor do assalto ao “Santa Maria”, em 1961.

Hoje, transformada em RDP, com as suas várias Antenas, perdeu audiência para outras rádios privadas – a Renascença, a TSF. Mas de qualquer modo merece parabéns; e a minha memória flutuou até ao começo dos anos quarenta, quando comecei a ouvir regulamente rádio e – preferencialmente – a Emissora Nacional…

2005/07/31

Os números chave da Educação na Europa – 2005


A rede de informação sobre a educação na União Europeia, Eurydice, criada em 1980, tem como missão disponibilizar dados acerca das políticas educativas dos diferentes Estados das União, bem como dos relativos à sua estrutura e organização, constituindo por isso uma base de dados importante (a Eurybase) que está sempre disponível na Internet. Em cada país existe uma unidade Eurydice (em Portugal sediada no GIASE (ver aqui).

Foi recentemente divulgado, e já está disponível na Net nas versões francesa e inglesa, o documento Os números chave da Educação na Europa – 2005, um documento extenso, de 392 páginas, do qual pode fazer o download aqui.

Tive conhecimento pelos jornais da saída do documento e vou aproveitar o tempo de férias para o ver com atenção. Por isso não vou comentar já o que a imprensa divulgou – prefiro ir à fonte.
Um bom domingo!