Os comentários ao meu anterior post, muito pertinentes e estimulantes, sugerem-me que permaneça no tema, que é actual e merece por isso mais algum desenvolvimento e debate.
Vou esquecer hoje as razões que trouxeram à discussão o assunto e vou apenas dar a minha actual opinião sobre a prática na formação de professores. Digo actual porque tenho evoluído nas minhas ideias.
O estágio na formação de um professor, como aliás acontece com qualquer outra profissão, visa proporcionar uma vivência em contexto apropriado que permita testar as capacidades do candidato para exercer com qualidade a profissão para a qual se preparou. E preparou, como? Aprendendo as matérias da sua especialidade, das chamadas ciências da educação, numa mescla de teoria e prática às quais faltaram, normalmente, uma clara aplicação no terreno – a escola. Isto é: estar diante de alunos, ter de planear e concretizar situações de ensino-aprendizagem, seleccionando materiais, delineando estratégias e escolhendo técnicas apropriadas, incluindo a avaliação desses alunos.
Não se pode assimilar um estágio desta profissão ao de muitas outras, em que o trabalho é predominantemente dominar uma técnica, e comprová-lo de modo mais ou menos seguro. Um professor enfrenta todos os dias situações diferentes, mesmo quando parecem iguais. Não se pode pois esperar que o estágio lhe dê mais do que algumas oportunidades de experimentar as suas competências. Ele (ou ela) irá aprendendo sempre coisas novas ao longo da vida, e é por isso que a formação contínua deveria ser obrigatória e avaliada. Eu comparo muitas vezes o professor ao médico, porque tal como ele encontrará certamente situações que nunca imaginara ter de resolver.
Durante o estágio, tanto ou mais importante do que dar aulas, é ter um orientador (eu preferiria a designação inglesa tutor ou mentor) experiente, que aceite reflectir com o estagiário e que provoque ele próprio a reflexão. Por outro lado, é bom que o estagiário seja colocado em contextos diferentes (isto é, experimente turmas de anos diferentes).
Na maior parte das vezes, o aluno que entra em estágio quer apropriar-se de um modelo, coleccionar umas tantas “receitas” para as usar no futuro. Cada vez me convenço mais que é um erro fornecer modelos aos alunos. Cada professor deve criar o seu próprio modelo. (Não se confunda modelo com estratégias e técnicas, que as há diversificadas; o modelo que combato é o estereótipo tipo diagrama pronto a aplicar). Um orientador experiente deverá pois acompanhar o estagiário sem querer fazer dele um clone – o que exige de sua parte compreensão da sua função e competência para ser um bom supervisor.
Ora bem, aqui chegado, direi que penso (hoje) que nem é necessário um ano de estágio, e muito menos que os estagiários tenham turmas próprias. O que acontece na formação dos educadores e professores do 1º ciclo do ensino básico poderia ser repetido no secundário com grande vantagem. A leccionação de séries de aulas sobre temas do programa na turma do orientador, cuidadosamente preparadas e executadas, discutidas com os colegas, em ambiente cooperativo, abriria mais portas para o futuro do que estar ao longo do ano a leccionar a mesma turma, com visitas episódicas do orientador (e menos ainda do da Universidade).
De qualquer forma, todos temos de ter consciência que o estágio não torna milagrosamente bom professor um aluno que não possua as capacidades para tal, nem conseguirá facultar-lhe todos os ensinamentos práticos que, idealmente, desejaria.
Postas estas ideias, voltarei ao tema para o abordar de outros ângulos.