Não tenho cumprido o que de algum modo me propus ao aceitar
o convite para colaborar no DdD – publicar posts
sobre educação, tal como faço n' A Memória Flutuante. Depois de tê-lo feito numa fase inicial, a pouco e pouco perdi a
vontade. Talvez esta pouca apetência tenha a ver com um certo distanciamento da
acção do Ministério da Educação do actual governo, que embora satisfizesse um
objectivo que me agradou – eliminar os desvios de Nuno Crato ao que vigorava
antes do seu consulado – não fazia mais do que tomar medidas avulsas.
Acontece que, neste momento, há razões para deixar de estar
silencioso. Menos de um ano depois de ser constituído um grupo de trabalho com
a finalidade de definir o “perfil do aluno para o século XXI”, foi apresentado
um documento com esse mesmo título (que pode ser obtido aqui) e que está em
consulta pública até ao dia 13 de Março.
É um documento relativamente curto, o que é bom. Futuros
desenvolvimentos serão necessários, mas para já o que é dito é suficiente. Expõe
com clareza princípios que nem sequer são uma novidade: o que se propõe (com
diferenças devidas à óbvia distância temporal) é o que foi pensado e executado
no tempo do Ministro Marçal Grilo e da Secretária de Estado Ana Benavente e que
levou à reorganização curricular dos ensinos básico e secundário do início do
século. Infelizmente a força dessa mudança esmoreceu com rapidez: lamentavelmente,
os governos posteriores, todos, não deram
suporte ao que fora feito.
Como é óbvio, a proposta que está, a partir de agora, em
discussão, tem uma dimensão ideológica clara, definidora de uma política
educativa. Por isso haverá quem a conteste pelo seu cunho humanista, pela
valorização das competências (ostracizadas por Crato), por voltar a propor a
flexibilização curricular. Como fiz no passado, defendo abertamente esta visão
da educação. Mais: continuo a pensar que só com currículos flexíveis se podem
eliminar as altas percentagens de insucesso nas nossas escolas, sem que isso
signifique que todos os alunos não cumpram os objectivos fixados previamente.
Seria bom que qualquer decisão sobre este assunto tivesse a
maior convergência possível, para que um futuro governo de cor diferente (ou, até,
da mesma cor, mas com um ministro diferente!) não se lembrasse de mudar outra
vez, estabelecendo outros princípios.
Há ainda um problema fundamental a referir. Nenhuma alteração
em educação terá êxito se quem tem de executá-la não a sentir como sua. No
final dos anos 90 do século passado, tentou-se, através de um projecto
interessante de envolvimento de escolas no processo de reorganização, que um
número considerável de professores assumisse as novidades. Há, aliás, relatos
dessas vivências que mostram como foram positivas. Seria lastimável que não se
cuidasse, com tempo e meios, de estabelecer um programa de informação e
formação adequado que motive os professores a actuarem de acordo com os
princípios definidos.