2005/12/10

O português e os exames


Abriu-se mais uma frente de debate: parece que o Ministério da Educação tenciona terminar com os exames de Português e de Filosofia no 12º ano e naturalmente gerou-se controvérsia. O assunto não é novo mesmo aqui, na Memória. Já exprimi por diversas vezes a minha posição: ao nível da escola básica os exames não têm razão de ser (o que não significa que não existam provas de avaliação aferida); quando o problema de uma selecção se puser (fim do secundário, entrada no superior) aceito-os, se forem moderados por outros processos de avaliação.

Acabo de dizer o que considero essencial: os exames são uma prova de selecção. Leio e oiço dizer que acabarem os exames de português irá abastardar ainda mais a pobre língua nacional – e fico a pensar porquê. Será que, a não existirem os exames, os alunos deixam de saber escrever e falar português? Então, os professores andaram distraídos, não avaliando as capacidades dos seus alunos? Porque é neles (professores) que recai a maior responsabilidade quanto à avaliação das aprendizagens dos alunos. O exame apenas separa os que fazem bem dos que fazem mal, não ensinam coisa alguma. A capacidade de bem escrever e bem falar a língua é consequência de uma aprendizagem contínua, que certamente qualquer professor certificará sem necessidade de um exame. Ou seja: a exigência tem de ter o seu centro na escola, lutando contra todas as formas perversas de degenerescência da língua, de que as abreviaturas das SMS são exemplos intoleráveis.
Assim: sempre que não esteja em causa um princípio de selecção, que aceito, não vejo que seja criticável pôr fim a exames que nada adicionam às aprendizagens regulares certificadas pelas escolas.

2005/12/09

Eleições presidenciais


Pessoalmente, não penso que, seja qual for o candidato eleito, isso faça qualquer diferença para o nosso futuro próximo ou longínquo, se, bem entendido, pensar naqueles candidatos que a mais elementar lógica nos diz que estarão entre os “elegíveis”. De qualquer forma, penso que nós, os votantes, deveríamos ter a oportunidade de ver os candidatos debater ideias, confrontar-se, e não, conforme o modelo decidido, apenas responderem ordeiramente às perguntas, por vezes inconsequentes ou inúteis, dos moderadores (que acabam por ser entrevistadores) naquelas ocasiões a que alguns chamam “debates” (quais debates?). Nesse aspecto, Mário Soares tem toda a razão.

2005/12/08

Sport Lisboa e Benfica

O desporto também faz parte da minha memória. Aprecio o desporto, em geral, e o futebol em particular. Recordo que comecei a ver futebol a sério levado pelo meu Pai; até aos dez anos vivi no Seixal e muitas vezes fui, com ele, ver jogos do clube local, o Seixal Futebol Clube, ao campo do Bravo (creio que era assim que se chamava).
Recordo, ainda, que comecei ainda criança a seguir os jogos pela rádio, quando a então Emissora Nacional transmitia os resumos da primeira parte e relatos da segunda… Como meu irmão mais velho era do Benfica, eu dizia que era do Sporting, mas à medida que cresci, apesar da época de ouro do clube, com o Azevedo e os cinco “violinos”, um dos quais cheguei a ver jogar no Seixal – o Albano – a minha afeição clubista amarrou-me a duas instituições: uma, por influência directa do meu Pai, que foi casapiano, o Casa Pia Atlético Clube, clube de que sou sócio há mais de cinquenta anos; outra, não sei explicar porquê, o Benfica. Não foi por causa do Eusébio, porque antes do Eusébio já me sentia do clube. A minha condição de adepto não me leva, no entanto, a ir ver muitos jogos ao vivo; mas sigo com interesse os campeonatos e desejo, naturalmente, os êxitos do meu clube.

Por isso deixo aqui registada a vitória que ontem o S. L. B. obteve no confronto com o Manchester United, fruto de um excelente jogo de futebol que de facto me fez lembrar as muitas “quartas-feiras” europeias de há quarenta e trinta anos… Não posso no entanto deixar de pensar que nesses tempos o Benfica se orgulhava de não ter nas suas equipas jogadores estrangeiros (Angola e Moçambique não eram, na altura, assim considerados…) e que ontem a equipa jogou apenas com quatro. Sinais dos tempos…

2005/12/06

Estados de espírito


Ontem estive numa sessão de apresentação de dois livros de colegas da Universidade, para a qual fui convidado para falar sobre o estado actual da reorganização curricular do ensino básico. Também esteve, na mesma situação, a Professora Carlinda Leite, da Universidade do Porto.
Para uma plateia de pouco mais de 50 professores, expus os meus pontos de vista e não deixei de referir o momento actual, que reconheço ser de crispação por parte dos professores. Analisando o que se tem passado, fiz uma afirmação que resume a conclusão a que cheguei: a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues tem seguido uma política corajosa através de uma política pouco inteligente. Corajosa porque muitas das medidas que têm sido tomadas eram (são) necessárias. Pouco inteligente (e atenção, apenas me refiro à política!) porque se sabe que em educação, porventura mais do que em qualquer outros sector de actividade, nada se pode fazer sem ganhar a adesão dos professores. Penso que teria sido possível, mesmo implementando as medidas, não ter causado nos professores o ressentimento que existe. Uma colega perguntava, no final, o que eu achava que se poderia fazer para sanar esta situação. Fui sincero: penso que infelizmente muito pouco no curto prazo. Nem a Ministra pode recuar, porque isso seria ainda menos politicamente inteligente, nem a posição de uma maioria dos professores permite acalentar a esperança de uma atitude de desculpa. Será possível, porém, no médio prazo, algumas inflexões na concretização das medidas tomadas (ao fim de alguns meses pode fazer-se a avaliação e, a coberto dos seus resultados, explicar pedagogicamente a necessidade de pequenas alterações).

Esta reunião serviu para “ao vivo” ter uma ideia mais clara acerca do estado de espírito dos professores. E para consolidar uma ideia que tenho vindo a formar: que mais do que o teor das medidas contestadas, o que está em causa é a maneira como elas têm sido postas em prática nas escolas. E sem querer comprometer uma opinião num domínio que neste momento desconheço, pergunto-me se não seria possível, sem deixar de cumprir as orientações dadas, encontrar meios menos gravosos da sua execução para os professores.

Estilista capilar…


Parei por causa de um sinal vermelho e casualmente olhei para a direita. Passo ali quase todos os dias e nunca tinha notado (certamente porque nada me obriga a parar) que havia um estabelecimento comercial novo num prédio recentemente remodelado. No vidro da montra, artisticamente pintados, os nomes das proprietárias, X e Y, e mais abaixo: “Estilistas capilares”. Sorri. Cada vez me surpreende menos com o que vejo. Semelhante a esta, recordo-me de, há muitos anos, ter deparado com uma adição à designação portuguesa da barbearia que frequentava em Lisboa: “Coiffeur d’Hommes”.
Estilistas capilares!

2005/12/05

Foi no dia 2


Propositadamente quis que decorressem pelo menos dois dias para escrever. Para tudo, o tempo é, ainda, o melhor remédio. Não quero dramatizar, porém: a longa preparação que tenho feito para vencer estas pequenas etapas resultou. Para esta etapa contribuíram os meus actuais alunos, que perceberam e foram sóbrios no momento do adeus. Não costumo conviver muito bem com emoções deste tipo, mas desta vez contive-me. Fez-se uma fotografia do grupo, no seu habitat, a sala de aula, e poucas palavras de circunstância. Mas houve sinceridade. A fotografia irá para o blog, que decidimos manter para além do fim do curso.

Foi no dia 2 que dei, oficialmente, a minha última aula, uma vez que não terei serviço docente no segundo semestre. Terminei 46 anos e três meses depois de ter dado a primeira aula, que foi no dia 2 de Outubro de 1959. Nenhum dos meus actuais alunos do mestrado era nascido nessa data...

Agora, vou ficar com mais tempo para a Memória e passarei a ser mais regular nas minhas visitas aos posts amigos e a explorar outros.

Para registo, o tema da minha última aula: “A cultura pós-moderna e o currículo escolar”.