2007/01/11

Quando o telefone toca…


O meu telefone fixo já toca pouco… Os telemóveis alteraram profundamente os padrões de comunicação que eram normais e a verdade é que se contam pelos dedos as chamadas que tenho de atender pela via tradicional. Mais: agora, quando o telefone toca, tenho praticamente a certeza que se trata de uma chamada indesejável, como são todas as que procuram vender qualquer coisa, oferecer o impossível ou, simplesmente, inquirir numa sondagem (porventura, a menos má de todas elas…).

Ao princípio, era paciente, ainda ouvia os primeiros minutos, mas percebi que quanto mais ouvisse mais difícil se tornava acabar a conversa a bem; assim, mal percebo que quem está do outro lado foi apenas à lista telefónica caçar o meu nome e número, arrumo a questão com um “Desculpe, mas não estou interessado” e normalmente isso chega. Se a interlocutora (normalmente é uma senhora) tenta contradizer, digo-lhe que compreendo que ela está a ganhar a sua vida e que por isso anote que fez a chamada e que o potencial cliente declarou o seu não interesse, mas não mace mais. E isso põe ponto final.

Outro dia, porém, a senhora que fazia a chamada nem assim parou, e como estava a propor a compra de uns livros de história de arte, achou por bem perguntar: “Mas o senhor C. não gosta de história de arte?” Aí o verniz estalou um pouco – mas não terei resvalado para a má educação. Apenas lhe fiz ver que a insistência não seria a melhor estratégia para certos “clientes”, desejei boas tardes e desliguei.
E fiquei a pensar no tempo em que não havia telemóveis e o telefone tocava mais vezes – mas nos maçava muito menos!

2007/01/08

A propósito dos 225 anos do Martinho da Arcada: os meus cafés de Lisboa


O Martinho da Arcada nunca foi um café que frequentasse – ficava longe dos sítios por onde passava. Nos anos 50, enquanto estudante nos últimos anos do liceu, houve dois cafés nos quais era assíduo: o Monumental e o Monte Carlo, ao Saldanha. Curiosamente nunca me fixei num só, ia num dia a um, noutro dia a outro. Na zona do meu liceu – o D. João de Castro – descia algumas vezes à Junqueira com colegas para uma bica no Estrela da Manhã (que creio ainda existe).

Há cinquenta anos Lisboa tinha muitos cafés. Quando entrei na Faculdade de Letras, e atendendo à sua relativa proximidade do Chiado, passei a ir algumas vezes à Brasileira, mas não deixei de frequentemente tomar a bica no Chave d’Ouro, no Martinho (o “outro”, ao pé do teatro Nacional, que desapareceu…) ou no Nicola, e, no verão, passei muito tempo de conversa com colegas nas esplanadas da Avenida da Liberdade. Mais tarde procurei com alguma frequência o Império (que reabriu há pouco tempo), quase sempre associado a uma ida ao cinema ou ao teatro…

Não fazendo bem uma “vida de café”, e muito de acordo com a época, muitos passos da minha existência estão ligados a cafés. Ou pastelarias… Recordo que um dos primeiros posts da Memória foi para evocar a Cister, na Rua da Escola Politécnica. Por falar em pastelarias, na zona da minha residência também parava muitas vezes na Sequeira & Sequeira (esquina da Duque d’Ávila com a Avenida da República), que ainda existe, e na Ideal das Avenidas (ao Campo Pequeno), que acabou. Na Baixa, ir à Nacional era frequente…

Assisti, depois, ao encerramento progressivo de quase todos os cafés – só o Nicola continua, daqueles que mencionei – transformados em agências bancárias.

Tenho algumas saudades desses tempos em que passava horas sentado a uma mesa, conversando, lendo ou escrevendo, a troco de uma bica e um copo de água, e onde era raro ver entrar alguém para beber um café ao balcão…

Outros tempos, claro. Mas não fica mal ter saudades…

2007/01/07

Aditamento…


Dizia ontem que só percebi que a náusea tinha passado quando comecei a ser capaz de rir perante situações que há meses me perturbavam. Ou, dito por outras palavras, quando em vez de me revoltar quando a televisão veiculava as declarações do senhor presidente do governo regional da Madeira, soltava uma sonora gargalhada, porque era capaz de as considerar mais hilariantes do que uma anedota inesperada; ou ainda, quando em vez de me irritar por causa das enormidades que lia ou ouvia por parte dos (e das) intelectuais de serviço que tecem comentários sobre a educação, sorria e me limitava a uma serena e filosófica atitude displicente de quem é capaz de tudo tolerar – uma atitude próxima dos estóicos, que ensinaram que não devemos sofrer em relação a tudo o que de mau aconteça independentemente da nossa vontade…
Retornado ao meu habitual bom humor e optimismo (ainda que ainda não totalmente adaptado ao meu novo papel na sociedade…) decidi então regressar, com a ideia de que talvez me faça bem. Vamos a ver!