Conhecia Braga desde os princípios dos anos 60, mas apenas de passagem (ainda me lembro dos carros eléctricos!). Em 1973 estive na cidade por uns dias, quando se negociou a transferência do Conservatório Calouste Gulbenkian para o Ministério da Educação, como secção do Liceu D. Maria I (a chamada escola-piloto). Tenho memória do que Braga era nesse tempo. Sem querer ofender, era uma aldeia! Recordo-me que, depois do jantar, no dia da chegada (ficara hospedado na Residencial Avenida, que ainda hoje existe), ter decidido ir tomar café e ter procurado naturalmente um dos da Arcada, julgo que o Viana. A cidade estava deserta, e a minha entrada no café deve ter sido apreciada com um “Quem será este?” pelos poucos fregueses que lá estavam…
Depois do café ensaiei uns passos pela rua do Souto, mas estava tão escuro, não se via vivalma, que regressei logo ao quarto. Claro que de dia era diferente, e fiquei com uma boa impressão da cidade.
Quando nos começos de 1977 vim a Braga para responder ao convite de me juntar ao grupo que na Universidade do Minho estava a pôr de pé a área das ciências da educação, a cidade já me pareceu um pouquinho diferente. Mesmo incipiente, a Universidade já estava a contribuir para uma outra Braga. Nesse ano só em Abril comecei a estar três ou quatro dias por semana na cidade, porque mantive a minha família em Lisboa; só de Setembro em diante passei a residir em Braga.
Apesar de dizer que já se notava uma certa evolução, a cidade ainda não se expandira. Gualtar era verdadeiramente “fora de portas”; e o ar de indiscutível modernidade dos nossos dias era inexistente. Com excepção dos meses de verão, nos quais o trânsito se tornava infernal e estacionar era uma dor de cabeça (os mais velhos – e nem precisam ser muito velhos… – ainda se lembrarão do “parque” ao ar livre do Campo da Vinha), circular em Braga era fácil. Recordo-me de muitas vezes, quando ia buscar a minha filha à antiga Escola do Magistério, estacionar sem problemas à porta do edifício dos Congregados. Nesses anos, o trânsito na Avenida Central fazia-se nos dois sentidos.
Gostei de viver em Braga. Alugara um apartamento na colina de Maximinos, ao pé do campo arqueológico, num prédio com uma vista espectacular. Tinha o meu gabinete de trabalho no edifício que fora afecto à educação, na Rua do Abade da Loureira, onde também dava aulas (inicialmente, também dei aulas no edifício da Rua D. Pedro V, onde é hoje a sede da Associação Académica).
Nesse tempo, aprendi a gostar de vinho verde (branco: tinto, não), a saber como eram os rojões à moda do Minho e as papas de sarrabulho, e a apreciar devidamente a doçaria regional, desde o pudim à Abade de Priscos às tíbias da Lusitana.
Habituado a climas frios (não esquecer que já vivera em Viseu e Lamego) não estranhei o relativo desconforto do Inverno.
Havia contudo um ponto negro que não tinha a ver com a cidade mas com o como lá chegar. Em meados dos anos 70, era um martírio viajar de Lisboa para Braga ou vice-versa. O comboio mais rápido não demorava menos de seis a sete horas; implicava muitas vezes uma ou duas mudanças (Campanhã e Nine). De automóvel, não melhorava: como não havia auto-estrada a não ser entre Lisboa e Carregado e depois entre Carvalhos e Porto, havia que suportar a antiga estrada nacional que, saibam os mais novos, não estava sequer tão razoável como agora está. Viajar de automóvel entre Braga e Lisboa era normalmente um dia perdido e uma dor de cabeça constante.
No final do ano lectivo de 1977-1978 tive oportunidade de ser bolseiro do British Council e por isso no ano seguinte estive em Londres. Só regressaria a Braga, para por cá ficar até hoje, em 1993. Na altura própria escreverei sobre essa minha última experiência.