… para escrever sobre o momento da educação em Portugal. Na grande pausa que fiz passou-se muita coisa a que não terei ligado suficientemente. Ao regressar, a minha memória recente não deixaria de encontrar motivos para recuperar o tema ao qual dediquei a minha vida; mas a um desafio da Saltapocinhas não poderia ficar indiferente. Vou no entanto tentar ir mais longe do que me foi pedido, e em vez de dizer apenas o que penso da avaliação dos professores vou tentar dar opinião sobre muitos mais aspectos da realidade presente no campo da educação.
Em crónica recente no Público, intitulada “O fim das reformas”, Vital Moreira caracterizou assim o conjunto daquelas levadas a efeito pelo actual governo no âmbito da educação: “A reforma da educação recolocou o ensino nas prioridades da agenda política, incluindo o reordenamento e requalificação da rede escolar, a universalização do ensino pré-escolar, a nova disciplina da carreira docente, o alargamento do horário escolar, a mudança da gestão escolar”. Como síntese, parece-me bem.
Nos primeiros tempos do ministério de Maria de Lurdes Rodrigues (já existia este blog) estive na generalidade acordo com as suas iniciativas, com o natural desacordo num ou noutro ponto. Entretanto (e também aqui isso já foi referido) apercebi-me de aspectos importantes que começaram a ter reflexos na vida política da ministra. Pessoalmente, mostrou-se inábil no modo como actuou e muito pouco persuasiva quando expôs publicamente as suas ideias (na televisão, no parlamento), e nunca melhorou. Ao mesmo tempo, não mostra ter um conhecimento prático do que é uma escola a funcionar e mesmo a nível teórico revela fragilidades. Ainda que pense que um ministro não tem de ser um “expert” sobre todos os aspectos relacionados com a pasta que gere (para isso tem secretários de estado e assessores), essas fragilidades demonstram uma de duas coisas: ou não tem os apoios necessários ou então não os escuta e segue.
Acresce que a política seguida foi a de “mexer” muito no sistema, eu diria indiscriminadamente. Devo dizer que não sou adepto de reformas, no sentido de “grandes reformas”: penso que a escola, professores e alunos, devem estar sempre abertos a pequenas mudanças, preferíveis a grandes mudanças. Escrevi-o pela primeira vez num artigo que publiquei em 1995 e a experiência subsequente confirmou as minhas reservas. Marçal Grilo também não acreditava em reformas, e por isso o seu consulado, não deixando de tentar alterações (que eram necessárias) foi moderado nas mexidas, mas mesmo assim enfrentou dificuldades. O sistema educativo é muito pesado e aceita mal mudanças bruscas, sobretudo se elas não forem claramente explicadas e entendidas como úteis. No fundo, grandes mudanças geram desconforto: e a maior parte das pessoas não gosta de ser obrigada a alterar os padrões de trabalho, a não ser que isso se revele mais útil (leia-se compensador).
A maior parte dos especialistas que têm estudado as mudanças em educação convergem num ponto: elas não são possíveis se tentarem ser levadas a efeito sem o apoio da maioria dos professores. Sejam quais foram as posições que se assumam sobre o papel dos outros intervenientes no processo educativo – alunos, pais, sociedade em geral – são os professores, na verdade, as peças fundamentais que asseguram o funcionamento da escola.
Como é impossível que todos os professores concordem com alterações propostas ou impostas, há que confiar que uma maioria as adopte. Para isso é necessário que o que se propõe mudar seja entendido como necessário e benéfico. Em termos globais, penso que é isso que tem faltado: medidas corajosas, algumas de há muito compreendidas como indispensáveis, como a reorganização da rede escolar, não tiveram como suporte uma informação clara que convencesse as pessoas (neste caso não só os professores mas as populações afectadas).
Este tem sido, pois, o erro capital do Ministério da Educação. Em post futuro farei análises mais detalhadas.