Só mesmo Bolonha me faria querer registar na Memória o que, acidentalmente, me foi ontem oferecido. Pelas onze da noite, já mais perto de ir dormir do que continuar a trabalhar (e o fim dos trabalhos forçados está quase…) passei rapidamente pelos canais de notícias, e não é que na RTP Norte houve um fórum (por acaso, até estava escrito forúm!) sobre Bolonha? O sinal foi captado e por lá fiquei, em convívio com gente conhecida, desde o meu Vice-reitor Manuel Mota até ao meu então colega na Universidade do Algarve Adriano Pimpão e ao meu Presidente da Comissão Instaladora da Escola Superior de Educação de Faro, Luís Soares (de quem fui vogal) e ao Salvato Trigo, que era membro da Comissão Instaladora do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, se bem me lembro.
Foi uma conversa interessante, sem discussões, em que cada um deu a sua contribuição num registo que me pareceu mais ou menos sensato. Para quem não esteja tão envolvido como eu no processo terá parecido que havia mais optimismo do que pessimismo, embora a uma dada altura fosse mais ou menos consensual a ideia de que Bolonha é para se ir construindo e pouco adianta pensar que em Outubro os cursos que se apresentarem com o novo modelo vão funcionar todos muito bem. Não vão, seguramente: porque uma coisa é dizer-se que não valem cosméticas (isto é, disfarçar um conjunto de disciplinas em unidades curriculares com meia dúzia de resultados de aprendizagem expressos, mas continuar a reunir os alunos numa sala e “dar” aulas tradicionais) e outra é precisamente fazer diferente. E esse fazer diferente é complicado, e isso foi dito, para docentes mas também para alunos.
O processo falhará se inicialmente os alunos não perceberem, como foi muito bem enunciado pelo painel, que a sua maneira de estar na Universidade (ou no Politécnico) terá de mudar radicalmente; e para isso os professores têm também de mudar. É a instituição que está em causa, porque é ela que tem de se tornar outra. Não para diminuir níveis de exigência, mas para modificar as exigências até agora prevalentes. Nesse sentido, Salvato Trigo foi muito claro: não se trata de aprender menos, de ter menos conhecimentos, mas de obter mais conhecimentos de outras formas. Porque só assim fará sentido falar em competências.