“Habemus papam!” – e foi assim, como desde há séculos, que o mundo soube que o conclave dos cardeais elegera um novo Papa. Só que o mundo que seguiu, em relação à eleição de Bento XVI, o seu anúncio, não é o mesmo mundo que se interessou, em 1978, pela eleição de João Paulo II. Para além do inegável interesse que para os católicos tem o haver um novo Papa, o facto ultrapassa os limites do religioso porque é, também, político, pelas repercussões que pode ter no futuro.
É interessante especular um pouco sobre o interesse desmesurado que este conclave despertou. Interesse que levou o evento ao mundo em directo: na terça-feira, pelas cinco da tarde, não havia virtualmente canal de televisão que não transmitisse do Vaticano… Por um lado, isto deve-se ainda a João Paulo II, que ao protagonizar uma agonia lenta e comovente, contribuiu para que se levantassem interrogações naturais sobre quem o seguiria. Mas por outro a própria Igreja aproveitou e, ao conceder facilidades no registo de imagens que até há bem pouco tempo eram privadas, demonstrou compreender bem o poder dos media. Mas neste caso, mais do que sucumbir a esse poder, creio que o terá desejado…
Não vou aqui tecer considerações sobre Bento XVI nem procurar fazer futurologia sobre a sua acção. A Igreja é uma instituição muito antiga, tem sobrevivido ao longo de séculos, e embora sejam muitos os desafios que tem enfrentado, e enfrenta hoje, tem provado ser suficientemente resiliente. O seu maior desafio consiste, creio, em decidir sobre dois caminhos: resistir, resistir sempre, e ver diminuir o número de fiéis, ou desenvolver-se, à custa de maior abertura.
Bom, estava eu a dizer que não ia especular sobre o futuro! Deixemos que o novo Papa actue e desejemos-lhe lucidez e sorte. A Igreja também precisa de sorte…
Noutro registo, não esqueçamos que na segunda-feira se comemora o trigésimo primeiro aniversário do 25 de Abril. Sendo a Rádio Universitária para gente jovem, talvez a maior parte dos meus ouvintes tenha nascido depois dessa data, pelo que se aperceberão mal do seu significado. Quando eu nasci a República fora implantada há menos de trinta anos e o 5 de Outubro significava sobretudo um belo feriado; ter um Rei ou um Presidente da República foi durante algum tempo, para mim, uma questão totalmente irrelevante.
É evidente que o tempo tudo esbate e aceito que a juventude de hoje conceda ao feriado de 25 de Abril apenas a atenção que ele merece como feriado… Mas é bom não deixar de lembrar o que ele significa, e sobretudo nos dias que vivemos, nos quais parece que a maioria dos portugueses anda mesmo deprimida, cheia de pessimismo, descontente com tudo e com todos, sem esperança de melhores dias. E se é certo que nem tudo tem corrido bem, não é menos certo que hoje somos um país onde há liberdade, e está muito nas nossas mãos decidir o futuro que desejamos – exactamente o que faltava antes da chamada Revolução do 25 de Abril.
Eu vou na segunda-feira, lembrando a emoção de ter vivido esse dia, tentar ser ainda mais optimista do que sou e sorrir ao futuro.
Até para a semana.