2009/06/08

Uma incursão na política

Francamente, não me surpreenderam os resultados obtidos ontem pelos maiores partidos (leia-se: com representação na AR): afinal, o PS teria de ser penalizado, o PSD obteve o que é o seu normal, e mesmo os resultados do BE e do CDS, sendo mais amplos do que se pensava, podem ser explicados. Brancos e nulos são claramente votos de protesto.
O que me surpreende é que ainda existam no país 5 094 cidadãos que votem POUS. E houve votantes em todos os distritos, e até na minha freguesia... Não está em causa a legitimidade da existência desse pequeno partido, do qual só ouvimos falar (pelo menos eu só oiço falar) quando há eleições. Nem pretendo minimizá-lo. Só expressar a minha perplexidade. Que talvez seja só minha.

2009/05/30

Armando Rocha Trindade

Não quereria que a Memória se tornasse num obituário, mas por definição cabe neste blog lembrar: neste caso, lembrar alguém que conheci vai para quarenta anos e com quem tive relações frequentes, embora não com muita intimidade.

O falecimento de Rocha Trindade não foi uma surpresa, pois sabia-o a lutar contra a doença há já alguns anos. Em 2002 propus o seu nome para um galardão instuituído pela AECT (Association for Educational Communications and Technology), o Robert de Kieffer International Award, que lhe foi concedido, tendo em consideração o seu contributo na área, e recordo que, num almoço preparatório da viagem até Dallas, ele me ter confidenciado os seus receios.

O meu primeiro encontro com Rocha Trindade não foi muito auspicioso... Numa sessão em que se discutia a educação, isto em 1976, pouco antes da formação do primeiro governo constitucional, divergimos nalguns pontos cruciais e discutimo-los com firmeza. Na altura eu estava no GEP, ele, pouco tempo depois, foi nomeado Director-geral do Ensino Superior. Em virtude da minha ida para a Universidade do Minho, e depois na ESE de Faro, tive ocasião de me reencontrar com ele e âpreciar as suas qualidades. Era um organizador nato, um batalhador incansável. A batalha pela criação da Universidade Aberta, de que foi primeiro Reitor, durou mais de dez anos, tendo de lutar contra a desconfiança das outras universidades e mesmo dos poderes constituídos...
Quando regressei à Universidade do Minho tive ocasião de contactar em mais ocasiões com ele, sobretudo a propósito das conferências Challenges, nas quais foi um assíduo participante, tendo em algumas vezes feito intervenções de grande qualidade. Em sua memória, e porque será muito pouco conhecida em Portugal, publico seguidamente uma entrevista que lhe foi feita por mim para ser publicada na edição on-line da newsletter da International Division da AECT, a qual, infelizmente, jã não está disponível.
Interview
Armando Rocha Trindade defines himself as someone who benefited from his initial training as an Electronics Engineer, gaining from it a realistic and pragmatic approach to problems; from his PhD in Physics, that taught him the value of rigorous scientific research; and from his work in the distance education field, that showed him the need for careful planning and, last but not the least, of painstaking and delicate political negotiations — if you really want to achieve something of value…

I met him after he received the Robert de Kieffer International Award. We had the following conversation.

C. – Prof. Armando Trindade, when have you became interested in distance education?

Armando Trindade – I became interested in Distance Education in the mid-70’s, while I was Director General of Higher Education in Portugal, and took notice of an extensive report on this subject, written by you, among other persons. This interest matured until 1978, when I proposed to the government the creation of an Open University in Portugal. Then, I was put in charge of the corresponding project, which was ready by 1984; but that faced a strong opposition by the whole set of Portuguese conventional Universities — and so it was put into a limbo…

C. – Yes, I remember that. But you did not give up …

Armando Trindade – Of course not! My reaction was becoming very active in the international scene, being one of the promoters and founders of the European Association of Distance Teaching Universities, which constitutive meeting took place in Lisbon in 1987. Due to the not so discreet pressure of this Organization, the Government finally gave the green light to the foundation of the Universidade Aberta (Open University, in Portuguese) in 1988. I was appointed as its first President.

C. – Your fight reached the objectives…

Armando Trindade - This shows how using the strength of an international lobby is sometimes the only way of removing internal difficulties… Anyway, I have been working on distance education ever since and a large part of my work was dedicated to promoting distance education wherever it would be needed, mainly during my mandate as President of the International Council for Open and Distance Education (ICDE). I got elected to that position, against most expectations, by simply writing to all member institutions and asking them to analyse my candidature Manifesto and to suggest possible improvements — while offering to visit them, should they find it useful. Ypu know, I visited close to 30 institutions in the next 6 months, in every continent. The most awkward invitation came from New Zealand (this country being exactly at the antipode point in respect to Portugal). I spent there just three days and got their clear support. I believe that they never thought I would come so far to visit them…

C. – Your international experience is amazing, and as you know this feature is highly recognized in Portugal…

Armando Trindade – I think so, but not only in Portugal… It had been recognized by the State University of New York and by the British Open University, both having awarded a Doctorate Honoris Causa. Other universities in China and Russia, the French Government and some European Networks also did, through different kinds of distinctions. The award now received is a most welcome one, meaning quite a lot to me as it comes from a very prestigious Organization.

C. – You deserved the distinction. What are you doing now?

Armando Trindade - Having finished my two mandates as President of the Universidade Aberta, I retired from this position. I am now writing extensively, making lectures and seminars and using interesting opportunities of working abroad for short periods as expert consultant, of which I have done quite a lot.

C. – Thank you very much, I am very pleased for the international recognition you got from the AECT which honored not only you but also Portugal.


2009/05/25

AInda o caso de Espinho

Desde há uns dias me apercebo, pelo que (ainda) leio nos jornais, oiço e vejo na rádio e TV, que do caso da professora de Espinho se começa a produzir uma corrente de opinião em favor de uma melhor educação sexual nas escolas. Se em relação à necessidade de existir educação sexual nas escolas nada tenho a opor, pelo contrário, já em relação ao motor dessa corrente de opinião estou em perfeito desacordo. A professora de Espinho, tanto quanto podemos perceber pelo que nos foi contado (e friso esse aspecto) não falhou por precisar de formação para poder abordar educação sexual nas aulas; falhou apenas porque the faltou o bom senso. E bom senso é porventura o que os professores mais precisam!

2009/05/21

João Bénard da Costa

Acabo de saber da sua morte.
Foi meu colega na Faculdade de Letras de Lisboa (1954-1959), do primeiro ao último ano; licenciámo-nos na mesma altura, em Julho de 59 (está a fazer cinquenta anos...). Como eu, depois de licenciado foi professor eventual no ensino liceal (fez a sua iniciação no Liceu Camões). Chegou a interessar-se pelas coisas da educação (tem um livro muito interessante sobre a não-directividade, publicado pela Fundação Gulbenkian). Depois, seguiu outros rumos e é bem conhecido pelo seu amor pelo cinema e pela actividade que desenvolveu na Cinemateca Nacional.
Relacionei-me sempre muito mais com a Mulher, a Ana Maria, que foi colega no mesmo curso e trabalhou ao mesmo tempo do que eu no Ministério da Educação, do que com o João. Mas tivemos sempre uma relação cordial, ainda que distante.
A sua morte entristece-me. Mas a vida supõe a morte - já me habituei à ideia. O João passou pela vida, fez coisas importantes e por elas será lembrado.

2009/05/20

O meu desconforto

É isso: o meu desconforto, que me impede de ser regular neste blog e nas visitas que fazia regularmente a outros, é alimentado por acontecimentos como aquele que ocorreu na EB 2/3 Sá Couto, de Espinho. E se o acontecimento em si já é grave, os comentários que se vão ouvindo ou lendo confundem. Acabei de ler um, de um psicólogo que dizem ser da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação do Porto (Diário de Notícias, sem link) que sustenta que a professora em causa «"pode não ter inteiramente culpa" da situação, mas "talvez um sistema que não faculta formação necessária" seja o causador da falha da professora...» Que tipo de formação sugerirá este colega? Talvez um curso de bom senso? Porque um de educação sexual provavelmente não seria o mais necessário...

É evidente que para formar um juízo definitivo deste caso precisaria de ter mais informação, mas a que existe dá para ter uma ideia do que se passou. Gostaria de saber mais sobre os outros intervenientes - desde os responsáveis da escola até aos próprios alunos, passando pelos pais -, mas independentemente de não ter essas informações, afirmo que o modo como a professora actuou é impróprio e nada, mas nada, pode desculpá-la a não ser um estado de insanidade mental que a deve manter afastada da profissão.

2009/05/07

O exemplo do granito

Estimulado pelas visitas (Saltapocinhas, PJ), recordei os primeiros tempos deste blog, em que mantive diálogos interessantes e proveitosos (penso eu), e senti quase uma necessidade não só de responder mas de precisar o que escrevi no meu último post.
É para mim evidente que o que aprendi nas escolas que frequentei, há mais de meio século, não pode ser exactamente o mesmo que aprendem as crianças e adolescentes hoje. Mais: as aprendizagens são diferentes. Tomemos como exemplo o granito. Não faço ideia o que na escola primária (era assim que se dizia na altura) me foi dito, ou se foi dito, sobre essa rocha. Mas recordo-me que no meu 1º ano do liceu (actual 5º ano), numa disciplina que se intitulava Ciências Geográfico-Naturais, o professor nos ter orientado numa colecção de rochas e minerais, onde se incluíram, claro está, o granito e os seus componentes. Lembro-me de ter uma caixa com divisórias onde guardava, com identificação, o fragmento correspondente. Infelizmente não me lembro como conseguíamos nós, em Lisboa, obter esses materiais, mas creio que existiu mesmo um movimento de trocas entre os 43 (!) alunos da turma. Mais tarde, já no 4º ano, creio, voltei a ter Geologia e Mineralogia, mas nessa altura já eu “sabia” o que era o granito e quais os minerais que o compunham. E nunca mais esqueci, porque aprendera da maneira correcta – vendo, mexendo, experimentando. Assim, na minha memória jamais de apagou esse saber, como muitos outros.
Pode perguntar-se: é importante saber que minerais constituem o granito? É isso mais importante do que saber onde está sepultado D. Afonso Henriques? Ou quem foi Guilhermina Suggia? Ou nada disso é importante? Estamos no fundo no centro do problema que constitui a definição dos currículos: o que é que vale a pena aprender?
Hoje, pode aprender-se muito mais do que no passado, graças às fontes de informação que estão disponíveis, mas a escola tem de intervir junto dos seus alunos para que eles possam tirar todo o partido dessas fontes. Talvez seja possível, em vez de ter uma colecção de rochas e minerais “a sério”, ter uma colecção virtual; os efeitos não serão rigorosamente os mesmos, mas semelhantes.
Compreendo que os jovens de hoje saibam coisas diferentes daquelas que eu sabia quando era da sua idade. Mas continua a fazer-me impressão que haja tantas falhas de conhecimento de coisas que em rigor deveriam ser banais.

2009/05/06

Valha-nos... sei lá quem ou o quê! (2)

Isto de ter tempo livre leva a que se veja mais televisão. Não costumo ver muito os concursos, mas de vez em quando, lá espreito. O actual, na RTP1, como o anterior, faz perguntas de cultura mais ou menos geral. Para algumas delas não faço a mínima ideia da resposta certa, e às vezes admiro-me como os concorrentes as sabem. Outras questões relevam, porém, de aprendizagens que a escola deve ter proporcionado. E aí, tem-me horrorizado a ignorância dos concorrentes, sendo que alguns até se apresentam como estudantes de mestrado (e disseram-me que mesmo um dizia que estava a fazer um doutoramento numa área em que não soube uma das perguntas!). É admissível um jovem escolarizado não saber o que é um anemómetro ou que o granito é composto por quartzo, feldspato e mica?
Eu sei que o que está em causa é complicado de discutir, e eu próprio, desde há muitos anos, tenho defendido que é necessário ter em atenção que os saberes actuais que a escola proporciona não podem ser iguais aos que proporcionava há cinquenta anos atrás. Percebo perfeitamente que os jovens de hoje "saibam" coisas diferentes, que aprendam de maneira diferente, mas isso não pode constituir desculpa para a ignorância dos concorrentes que se espelha nestes concursos.
Há aqui matéria para reflexão - sobretudo agora que (parece) vamos ter os 12 anos de escolaridade obrigatória...

2009/05/04

Valha-nos... sei lá quem ou o quê!

Hoje, 4 de Maio, perto das 18 horas. Vagueio pelos canais da televisão e num deles - deixemo-nos de coisas, a RTPN - num dos inenarráveis programas de Antena Aberta, o moderador de serviço, pretendendo desculpar-se da questão levantada, diz que Manuela Ferreira Leite e Jorge Sampaio, que de algum modo admitiram a possibilidade do Bloco Central, não são duas "pessoas quaisqueres"... Logo a seguir, o convidado, a propósito de qualquer coisa que nem recordo, diz que "isso tem a haver com..." É demais!

2009/04/26

Por estes vos darei um Nuno fero...

Relembrar Camões no dia em que o Nuno "fero" vira santo.
.
Rompem-se aqui dos nossos os primeiros,
Tantos dos inimigos a eles vão.
Está ali Nuno, qual pelos outeiros
De Ceuta está o fortíssimo leão
Que cercado se vê dos cavaleiros
Que os campos vão correr de Tetuão:
Perseguem-no com as lanças, e ele, iroso,
Torvado um pouco está, mas não medroso;
.
Com torva vista os vê, mas a natura
Ferina e a ira não lhe compadecem
Que as costas dê, mas antes na espessura
Das lanças se arremessa, que recrecem.
Tal está o cavaleiro, que a verdura
Tinge co'o sangue alheio: ali perecem
Alguns dos seus, que o ânimo valente
Perde a virtude contra tanta gente.
.
Mas isto foi em 1385...

2009/04/24

Mais sobre a extensão da escolaridade obrigatória

Como era de esperar, as personalidades interrogadas sobre a decisão do Governo de obrigar os alunos a frequentarem a escola até ao 12º ano (ou, como a Ministra da Educação precisou, até atingirem os 18 anos, o que como é óbvio é um pouco diferente), disseram todas, praticamente, um "Sim, mas..." Compreende-se. Ninguém de boa fé poderá estar contra, ninguém de boa fé poderá dizer que a tarefa é fácil. A diferença entre quem opina estará nas conclusão, género "Não é fácil mas tem de se fazer" ou " Nunca se vai conseguir..."


Ainda há dias, em conversa com uma colega, lembrava uma das facetas que mais me marcaram do Ministro Veiga Simão, que costumava dizer que se não se tomasse decisões, mesmo sabendo-as de difícil execução, nunca se andaria em frente (recordo-me bem do que foi a criação de várias escolas no distrito de Viana do Castelo, em 1973, quando tudo apontava para a inexequibilidade do proposto).


Escrevi ontem, e repito hoje, é preciso que a medida seja seguida de um trabalho de análise muito cuidado e que se tenha em mente que obrigar alunos a estar na escola até aos 18 anos tem de significar uma estrutura flexivel em várias instâncias, nomeadamente a curricular. Li hoje, nos jornais (apesar de tudo, continuo a ler jornais...) algumas observações judiciosas que têm de ser levadas em conta, como as de Joaquim Azevedo e Júlio Pedrosa. Ambos podem contribuir, como outros, para um debate que é importante fazer-se, de modo a que pais e alunos percebam bem o que está em causa.

2009/04/23

Extensão da escolaridade obrigatória

Leio no Diário de Notícias de hoje que pais e professores (neste caso, o Presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais e um Presidente de um Sindicato de Professores) estão de acordo com a medida da obrigatoriedade do 12º ano (aliás, já prometida há muito) mas previnem que "é preciso adaptar os currículos". Deixando de lado a expressão "adaptar", que não me agrada, devo dizer que é extremamente lúcida esta posição, e espero que o Ministério da Educação faça o que deve, ou seja, analise cuidadosamente todas as implicações da medida e proponha na verdade currículos que sirvam os interesses de todos os potenciais alunos no novo sistema. Já existem no país condições (e "know how") suficientes para não enveredar por soluções demasiadamente rígidas e quase sempre ineficazes.

2009/04/13

Estação de caminhos de ferro de Braga, às 17 e 50 do dia 8 de Abril de 2009

Regresso a Lisboa depois de um dia de trabalho (quem diria!) em Braga. Entro na estação de caminhos de ferro, que tão bem conheço, e dirijo-me para o comboio Alfa que partirá dentro de minutos. Vejo, num dos poucos bancos existentes na gare, um pequeno grupo - duas senhoras e um rapazinho de nove, dez anos (porventura menos?). A criança é de raça negra, e está atenta a qualquer coisa que tem no colo. Ao aproximar-me, percebi o objecto do interesse: um computador Magalhães!
Fiquei surpreso - o tempo é de férias escolares... Fiquei, para além de surpreso, contente: ainda à hora do almoço estivera, com colegas, a falar sobre o Magalhães, e soubera coisas interessantes. Para além de todas as polémicas, o que é importante é que o investimento feito seja reprodutivo. Pelos vistos, está a ser.

2009/04/06

De uma viagem a Roma...


Confesso que tenho admiração pelo Primeiro Ministro José Sócrates. Ela começou quando ele estava no Ministério do Ambiente, pois apreciei a sua coerência e determinação quando do problema da co-incineração. Tal admiração não me inibe contudo de não concordar com todas as suas ideias e decisões, mas mesmo assim creio que desempenhou um papel muito importante num momento muito delicado para o país. Depois, teve pouca sorte, ampliada pela muito nossa mania de sermos sempre mais do "contra" do que do "pró".

Bom, a que vem esta prosa? É bom nunca perder algum sentido de humor... Estive em Roma neste fim de semana e ao descer a Via Nazionale deparei com o que podem ver na figura que ilustra este post. E pensei que se as coisas não correrem bem ao nosso Primeiro Ministro, ele, que até já foi considerado elegante no trajar, poderia associar-se ao camiseiro que tem o seu nome em Roma...

Sinceramente, não o desejo, mas se as "serpentes" de cá forem demasiado venenosas, talvez a mudança para a Via dei serpenti romana seja uma boa opção!

2009/04/01

O caso Névoa

Vivi tempo suficiente em Braga (14 anos...) para ter ouvido inúmeras insinuações sobre Domingos Névoa, todas elas, claro, desabonatórias em relação à sua maneira de estar na vida. Sempre insinuações, ou, se quisermos, boatos. Sendo boatos, como boatos os entendi e a pessoa de Domingos Névoa merecia-me o respeito que confiro a todas as pessoas.
Acontece que, como todos sabem, Domingos Névoa foi a tribunal num processo de tentativa de corrupção a um vereador da Câmara Municipal de Lisboa (José Sá Fernandes) e foi provado que essa tentativa existiu e por ela ele foi condenado (a uma pena que me pareceu irrisória, verdade seja, mas como se costumam dizer, "é a justiça que temos"). Claro que a minha posição mudou.
Soube-se agora que o mesmo senhor foi nomeado para o Conselho de Administração da Braval, uma empresa multimunicipal do distrito de Braga. Sinceramente, por esta eu não esperaria! Enquanto Sá Fernandes diz que isto é um insulto, eu diria que é uma provocação. Por mais méritos de administrador que Domingos Névoa tenha (parece que disso se vangloria) há uma coisa que para mim já não é boato: tentou corromper e por isso foi punido, ainda que brandamente.
Que mais nos estará reservado?

2009/03/31

Jornalistas…


Recordo-me de ler jornais desde criança. Mal soube ler, tenho quase a certeza que não deixava de dar uma “vista de olhos” a O Século, que era o jornal que o meu Pai comprava diariamente. No Seixal, onde então morava, ele era levado a casa pelo “homem dos jornais”, como me lembro se dizia na altura. Depois de o meu Pai ler, antes de sair para o escritório, O Século era só para mim.

Ao longo da minha vida, ler o jornal, logo pela manhã se possível, era imperioso. Foi um pouco a oração matinal de que falou Hegel. Continuo a fazê-lo, hoje, mas mais diversificadamente: as primeiras notícias vêm pela Internet, só mais tarde tenho um jornal a sério, em papel, que vou comprar à tabacaria que fica, agora, a cem metros da casa onde moro.

Continuo a fazê-lo, mas com muita desilusão, que aliás desde há muito venho sentindo em relação não só aos jornais mas a toda a comunicação social. Por muito respeito que queira ter pela profissão de jornalista – e de alguns jornalistas o merecerem por inteiro – não consigo evitar um profundo desencanto com a maneira como se elaboram títulos e escrevem notícias, para além, claro, da própria notícia. Eu bem conheço a desculpa estafada do homem que morde no cão, mas penso que se ultrapassaram todos os limites no que toca à isenção e objectividade do que se escreve (ou diz, no caso da rádio, da televisão).

O que se escreve – nos jornais, claro, porque fora deles (por exemplo em blogs) o problema se põe de modo diferente – deve ter como objectivo esclarecer a opinião pública e não deformá-la. Por isso a objectividade é, para mim, a pedra de toque essencial em qualquer peça jornalística. E ela não passa por apenas se usarem alguns adjectivos “brancos” (como o “alegado” qualquer coisa). Eu sei que a objectividade pode ser considerada uma espécie de mito, porque no fundo todos nós vemos o mundo de acordo com a cor dos nossos óculos; mas os jornalistas devem tentar usar lentes limpas, translúcidas… e nestes tempos que correm, há muita sujidade nos óculos de muitos jornalistas!

2009/03/30

Talvez valha a pena

Confesso que o meu optimismo tem andado abalado e isso terá contribuído para o meu afastamento de um blog que me entusiasmou, de início, e me proporcionou momentos agradáveis com a meia dúzia de "correspondentes" que me visitavam. A mudança de vida levou-me a perguntar se valeria a pena manter o blog, e de há muitos meses até agora nada restaurou a minha primitiva vontade de escrever e dialogar.

Ontem, porém, aconteceu um facto que me fez pensar.

Há uns quatro anos (em rigor, em 2005-2006) mantive, com os meus alunos de mestrado na Universidade do Minho, um blog de apoio às aulas de Currículo e Cultura (pode ver-se aqui). Foi uma experiência muito interessante, com um bom nível de participação não só em quantidade como em qualidade. Nunca desactivei o blog, e de então para cá houve ex-alunos que ocasionalmente (muito ocasionalmente) publicaram posts: pelo Natal, por exemplo. Eu nunca mais lá voltei. Até ontem.

A meio da tarde, caiu-me na caixa de correio um comentário a um post desse blog publicado em Novembro de 2005. Há quase quatro anos, pois! Era de uma Mãe, que conservou o anonimato, que nos felicitava por termos tratado, nesse post, do problema das crianças indigo (um tema que um aluno levara para a aula e suscitara muito interesse), relacionando-o com problemas que o filho estava a ter na escola.

Fiquei estupefacto por haver ainda leitores de um blog tão específico e fui "espreitar". Através do "site meter" verifiquei que o blog continua, diariamente, a ter leitores que estão espalhados pelo mundo (os números do Brasil são verdadeiramente impressionantes). No total, registaram-se mais de 37,000 visitas!

Fiz o que devia - avisei os meus ex-alunos por e-mail e coloquei um post, respondi à Mãe - e fiquei a pensar se afinal de contas, não estava a ser pouco sério na minha atitude de fuga. Talvez valha a pena, apesar de tudo, não me calar. Talvez valha a pena recuperar o optimismo. Talvez valha a pena... recuperar a minha memória flutuante... Para já, reinstalei o "site meter", que não sei porque razão tinha desaparecido. Talvez valha a pena...

2009/03/08

Entretanto... (1) O Magalhães

Nos muitos meses da minha ausência neste blog, coisas aconteceram que (talvez) mereçam uma referência. Comecemos pelo Magalhães (podia ser outro o nome, claro).
O Magalhães é, estou certo, uma excelente concretização para todos os professores e educadores que de há muito perceberam que a escola do futuro ou será suportada pela tecnologia ou não será escola. Se está ou não a ser usado com propriedade, se tem ou não problemas (o mais recente, o tal software traduzido por quem não domina a língua portuguesa), tudo isso é mais ou menos irrelevante face àquilo que o Magalhães representa nas escolas portuguesas.
O resto, toda a animosidade de vários sectores e com várias matizes, é politiquice. Incluindo esta última, a de se querer que o Primeiro Ministro assuma a responsabilidade dos erros de português do jogo incluindo no Magalhães. Claro que o último responsável é sempre responsável pelas asneiras de outros menos responsáveis (na cadeia hierárquica, santo Deus, existe sempre tanta irresponsabilidade...). E depois?

2009/03/05

Gostei de ler

O Público, que fez anos, convidou António Lobo Antunes para escrever o editorial do seu número de hoje. Notável naco de prosa, que deveria ser lida e meditada (espero que a equipa do Público o faça). Repare-se neste excerto: “É pena que os jornais, como a literatura, sejam uma estrebaria de porta aberta: devia ser reservada aos profissionais sérios . . . que decerto existem. Conheço alguns . . . O que me assusta é o facto de qualquer pessoa estar à mercê de criaturas medíocres, sem possibilidade de rectificar a pulhice”.

2009/03/03

Uma boa decisão

Tem sido muitas vezes assim: têm-se tomado boas decisões no campo da educação. A sua concretização é que tem falhado, e muito.
Anunciou o Primeiro Ministro a obrigatoriedade da frequência da educação pré-escolar (e não ensino pré-escolar, como tem dito e escrito...) para as crianças do grupo de idade de 5 anos. Muito bem. Está provado que a educação pré-escolar contribui poderosamente para maior êxito na escolaridade básica (e, claro, na posterior). Seria menos enfático se a decisão abrangesse grupos de idade inferiores, porque aos 3 ou 4 anos a família pode, legitimamente, renunciar a esse benefício.
Vamos ver como esta orientação se vai concretizar.

2009/03/01

Porquê?

Porque me cansei da minha vida de "reformado" - talvez não fosse bem cansaço, mas sim um grande aborrecimento por ter deixado de ter um enquadramento na minha vida de trabalho, sem dúvida. Mas sobretudo porque o dia a dia me ia confrontando com um país que, para um optimista como quero ser (mas não fui, nessa altura), me desolava. Como professor que insisto em me considerar, mesmo jubilado, penalizavam-me simultaneamente quer os erros cometidos pela equipa ministerial quer as reacções dos professores, muitas delas indignas de uma classe que tem como objectivo instruir e educar. Como cidadão, assisti (e assisto) à perversão da democracia, a coberto da qual se procuram destruir pessoas - ah, a inveja e a calúnia sempre ligadas! Estávamos à beira do abismo (e voltámos a estar) mas parece que se pretende mesmo que nele caiamos.
Por tudo isso me calei. Talvez até por vergonha de falar. Talvez por considerar inútil manter este blog.
Regresso. Porque de repente percebi o que era a morte a a vida. E que afinal vale a pena não estar calado.

2009/02/27

A memória reencontrada?

Na mesa de operações as enfermeiras cumprem a sua tarefa de me preparar para a intervenção. Estou lúcido e calmo. Atrás de mim, alguém (pensei que era o cirurgião) pergunta-me: "Então, deixou de tomar o Cartia há quanto tempo? Uma semana?". Repondo que sim. E depois, mais nada.
Acordo lentamente com um leve abanar da cama onde já me encontro. Abro os olhos e de imediato recordo-me de tudo: estou vivo. Uma médica, pressentindo o meu acordar, ajudou-me balançando ao de leve a cama. Mas volto a fechar os olhos. Nada me dói, sinto-me confortável. Já ao pé da minha cabeceira, a médica diz-me: "Correu tudo muito bem. Agora vai ser levado para o quarto, faça por dormir" (virei a saber que eram dez da noite; entrara no bloco operatório às 18 e 30, mais ou menos).
No percurso para o quarto penso em mil coisas - e entre elas, que é bom lembrar-me de tudo o que sucedeu antes, de ter pontes para o passado, mesmo que esse passado não tenha muito de agradável para lembrar. E, curiosamente, penso n' A Memória Flutuante - não terei sido um pouco cobarde (talvez cobarde seja demais) ao deixar de reflectir nesse espaço para o qual, apesar de tudo, tinha leitores? E no torvelinho de pensamentos, deixei a porta aberta para o reencontrar da Memória.
Hoje, quinze dias depois da operação, regresso.