2005/12/01

1º de Dezembro


Na escola primária de outros tempos (os meus tempos) datas como a do 1º de Dezembro eram aproveitadas para um reforço de alimento do espírito patriótico. Quem sabe se comigo não surtiu efeito, e este meu sentimento de uma certa desconfiança em relação ao que vem de Espanha (que a razão hoje condena) não terá como base o discurso patrioteiro sobre Aljubarrota e a data que hoje se comemora? Provavelmente já não vou ter tempo para mudar o sentimento, mas sempre tentarei. Para já, comungo do humor de um cartoonista, que há dias, brincava com o 1º de Dezembro figurando uma conversa entre dois espanhóis comentando a ”sua” derrota em 1640. E paradoxalmente estavam contentes, a ponto de um deles fechar a conversa dizendo “Do que nós nos livrámos, hein?!”. Pois.

2005/11/29

Professores?


No caminho para a Universidade, embora curto, oiço como habitualmente a TSF. Hoje, em vez do António Peres Metelo, escuto uma reportagem sobre uma greve de professores de um (ou do, não percebi) agrupamento de escolas de Paço d’Arcos. Motivo? O prolongamento do horário escolar. Uma professora, madrugadora, presta declarações. À medida que fala, começo a desconfiar: professora? Para ela, é óptimo que os meninos fiquem mais tempo na escola para “actividades extra-curriculares”, como o xadrez, o desporto, o Inglês (nesta altura repara que escorregou e tenta reparar os danos). Mas tudo dado por “monitores”, porque os professores apenas têm de preparar as lições e não estarem com os meninos fora das aulas, em actividades para as quais não têm preparação. Oh sacrossantas aulas! Oh sacrossanta “componente lectiva” (quem terá inventado esta termo?)!
O seu discurso é apoiado depois por uma senhora do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa que refere o grande exemplo deste agrupamento: que o país ponha os olhos em Paço d’Arcos porque ali estão os que lutam pela dignidade profissional.

Tudo bem, a greve é um direito, que o exerçam. Mas por favor, não com argumentos que só se voltam contra, essa sim, dignidade profissional de que se deveriam orgulhar. Ainda temos, infelizmente, muito caminho a percorrer para que se perceba qual é o verdadeiro papel dos professores nos dias de hoje.

2005/11/28

Pessimismo

No passado sábado fui até Monção para escutar uma conferência de João Medina intitulada “Zé Povinho: estereótipo português? (Reflexão sobre a identidade nacional)”. Tinha interesse em conhecê-lo pessoalmente e o tema pareceu-me interessante. No âmbito das aulas deste semestre o problema da identidade nacional já foi debatido com os meus alunos e estava curioso em ouvir o Professor Medina. A minha expectativa não foi iludida, a conferência foi excelente, partindo de uma análise que considero lúcida sobre características nacionais que se vão mantendo ao longo dos anos e que, de algum modo, parecem justificar a “apagada e vil tristeza” que já Camões denunciava: apatia, indiferença, descrença, o imobilismo de quem tem as mãos nas algibeiras porque desistiu de lutar porque sempre foi espezinhado, “albardado” na simbologia da albarda que jaz aos pés da figura imortalizada por Rafael Bordalo Pinheiro.
Recuso, contudo, apesar de tudo o que se tem passado e, confesso, tem abalado um pouco o meu inveterado optimismo (talvez mais crença do que outra coisa), a afundar-me num pessimismo de “fim da Pátria” que de algum modo João Medina deixa transparecer. Se todos os dias tenho dez momentos de desânimo encontro sempre um outro momento para acreditar. Dir-me-ão que a desproporção é enorme – e infelizmente é. Mas não desarmo: quero continuar a ser optimista.

Nota: Para quem não saiba há em Monção uma Casa Museu que é uma unidade cultural da Universidade do Minho, legado de uma benfeitora que quis assim preservar os seus bens, alguns de grande valor, que constituem o recheio do solar. Na parte inferior existe uma sala de conferências e um pequeno espaço para exposições. Vale a pena a visita!