2006/06/09

Solução radical


Segundo a Visão (secção “Em Foco”, p. 32 da edição de ontem, 8 de Junho) Maria Filomena Mónica, “socióloga, referindo-se às novas medidas que o Governo pretende aplicar aos professores”, terá dito: “A raiz de todo o mal é o Ministério [da Educação], que tem não sei quantos grupos de trabalho, que deviam ser pura e simplesmente extintos com napalm”.

Vamos apenas sorrir, lamentar, indignar, ou responder ao mesmo nível: “E não se pode exterminá-la?”

2006/06/08

Tanta confusão!


Tenho ouvido mais rádio e visto mais televisão a horas em que o não fazia – e por isso tenho apanhado os célebres “fóruns” da TSF de manhã e as emissões interactivas da SIC-Notícias e da RTP-N da tarde. É excelente que toda a gente se possa pronunciar – mas é confrangedor por vezes ouvir o que se ouve. Levo em consideração o perfil de quem depõe, e benevolentemente aceito em nome da liberdade de expressão as tolices que se dizem.

É mais complicado aceitar que pessoas com responsabilidades imitem os que as não têm e digam o que, por vezes, dizem. A propósito das medidas sobre as actividades de enriquecimento curricular anunciadas ontem pelo Ministério, tenho ouvido (e lido) afirmações que só podem ser proferidas por haver muita confusão acerca do que está em causa. Vejam só esta pérola da Fenfrop, divulgada hoje pelo Público. Transcrevo, por não estar online: “As expressões artísticas e físico-motoras e o estudo acompanhado têm feito parte das 25 horas curriculares semanais do 1º ciclo, a par de disciplinas como a Matemática. No próximo ano passam a ser extracurriculares (texto da jornalista) … o que representa (segundo a Fenfrop) «uma concepção conservadora do currículo muito próxima da que foi desenvolvida pelo salazarismo»”. Eu pensava que dirigentes sindicais tivessem um mínimo de compreensão sobre currículo: mas não têm. As actividades de enriquecimento curricular, previstas no Decreto-lei 6/2001, são actividades curriculares, planeadas pela Escola e desenvolvidas para criar oportunidades de aprendizagem, em meu entender permitindo ter em conta uma saudável individualização. Por outro lado, como o Decreto-lei não foi revogado, não se percebe que se diga que as expressões e o estudo acompanhado “saiam do currículo”… Com certeza permanecem. Logicamente.

Podem existir constrangimentos vários que sejam obstáculos a um bom desenvolvimento deste plano – o que não se pode dizer é que ele seja um retrocesso para uma concepção conservadora de currículo.

Anote-se que neste caso a própria jornalista errou, não foi apenas a fonte sindical.

2006/06/06

Ainda a avaliação dos professores pelos pais


O tema interessou-me, na verdade! E fiz o que devia: um quarto de hora de pesquisa na Internet mostrou-me que já existem tentativas (e experiências), suficientemente recentes e em escala reduzida, que confesso não conhecia. Para quem quiser aprofundar o tema, veja aqui uma ficha e avaliação usada na Airdrie Koinonia Christian School, em Calgary, Alberta, Canadá, e leia aqui um texto de Pam Belluck, jornalista do New York Times, “Schools to seek parent role in evaluating teachers”, referindo o distrito escolar da cidade de Rochester (Washington) – artigo de 1997.

Vale a pena explorar o site da cidade de Airdrie, tentando perceber por que talvez aí possa haver sucesso com a ideia, e ler nas entrelinhas do artigo as muitas dúvidas e incertezas da sua implementação em Rochester. Uma visita ao site do Rochester City School District (ver aqui) não permite saber se hoje, em 2006, existe ou não o sistema de avaliação do trabalho dos professores pelos pais.

Independentemente de tudo isto, não esquecer que nunca se devem importar práticas sem uma análise de situação local que evidencie as possíveis fragilidades (ou pontos fortes!) de uma qualquer adaptação.

2006/06/05

Uma palavra mais sobre a proposta de avaliação dos professores


Tive alguma dificuldade em compreender plenamente as razões do alarido que por aí vai sobre a educação: bastou estar fora, não ler os jornais e não ver televisão, para perder linhas importantes. Creio que neste momento já compreendi, sobretudo depois de ler a proposta de alteração ao regime legal da carreira do pessoal docente da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário, na qual se inserem as disposições para a avaliação dos professores. Também vi a entrevista da Ministra Maria de Lurdes ao “Diga lá, Excelência” e li algumas referências às declarações na Maia.
Reportando-me a um post anterior, em que eu dizia que queria ser cauteloso quanto à interpretação do que se propunha, tinha razão. Não merecia a pena grande poder de fogo contra a Ministra por causa da participação dos pais na avaliação dos professores, o que eu escrevi servia: demagogia pura.

O pior é que a demagogia compensa e há uma maioria que está de acordo com a ideia. Afinal, há mais pais do que professores…

Ora estes, como qualquer outro profissional, devem ser objecto de avaliação. E aceito, sem nenhum constrangimento, que os parâmetros de avaliação sejam mais latos do que aqueles que possam ser obtidos em contexto mais fechado, ou seja, em círculo de pares (como aliás acontece na Universidade quando estão em causa decisões de carreira). Penso, por exemplo, que os alunos (a partir de uma certa idade) possam ser integrados em esquemas de avaliação dos seus professores. Alargar o círculo para a esfera do social – incluindo os pais – é totalmente desprovido de sentido. Não se vê como possam os pais “apreciar… a actividade lectiva dos docentes” (alínea h) do art. 46º da proposta) a não ser pelo que lhes é contado pelos filhos e muito indirectamente pelos produtos da disciplina que eventualmente possam ser exibidos por eles. Quando a senhora Ministra diz que o peso desta avaliação é muito pequeno (não teve a coragem de dizer que é insignificante) ocorre perguntar para que é que ele vai existir.

Que outra categoria profissional está assim exposta ao arbítrio de juízes em segunda mão?

Mas já que li a proposta, deixem-me fizer que em era de “simplex” o esquema da avaliação dos professores é bem “complicadex”. Se for concretizado como está, vai instalar-se uma enorme burocracia nas escolas! E duvido que funcione.

Lamento muito o rumo que as coisas estão a tomar no Ministério da Educação. Continuo a pensar que foram tomadas decisões importantes, mas é preciso ter uma visão muito mais realista da escola do que aquela que a Ministra tem. Ela está certa quando diz que a escola é uma organização e tem de funcionar como tal; mas a organização só funciona com pessoas, e quer goste quer não, essas pessoas têm de ter motivação. E na verdade, a senhora Ministra é muito pouco motivadora…