Tive alguma dificuldade em compreender plenamente as razões do alarido que por aí vai sobre a educação: bastou estar fora, não ler os jornais e não ver televisão, para perder linhas importantes. Creio que neste momento já compreendi, sobretudo depois de ler a proposta de alteração ao regime legal da carreira do pessoal docente da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário, na qual se inserem as disposições para a avaliação dos professores. Também vi a entrevista da Ministra Maria de Lurdes ao “Diga lá, Excelência” e li algumas referências às declarações na Maia.
Reportando-me a um post anterior, em que eu dizia que queria ser cauteloso quanto à interpretação do que se propunha, tinha razão. Não merecia a pena grande poder de fogo contra a Ministra por causa da participação dos pais na avaliação dos professores, o que eu escrevi servia: demagogia pura.
O pior é que a demagogia compensa e há uma maioria que está de acordo com a ideia. Afinal, há mais pais do que professores…
Ora estes, como qualquer outro profissional, devem ser objecto de avaliação. E aceito, sem nenhum constrangimento, que os parâmetros de avaliação sejam mais latos do que aqueles que possam ser obtidos em contexto mais fechado, ou seja, em círculo de pares (como aliás acontece na Universidade quando estão em causa decisões de carreira). Penso, por exemplo, que os alunos (a partir de uma certa idade) possam ser integrados em esquemas de avaliação dos seus professores. Alargar o círculo para a esfera do social – incluindo os pais – é totalmente desprovido de sentido. Não se vê como possam os pais “apreciar… a actividade lectiva dos docentes” (alínea h) do art. 46º da proposta) a não ser pelo que lhes é contado pelos filhos e muito indirectamente pelos produtos da disciplina que eventualmente possam ser exibidos por eles. Quando a senhora Ministra diz que o peso desta avaliação é muito pequeno (não teve a coragem de dizer que é insignificante) ocorre perguntar para que é que ele vai existir.
Que outra categoria profissional está assim exposta ao arbítrio de juízes em segunda mão?
Mas já que li a proposta, deixem-me fizer que em era de “simplex” o esquema da avaliação dos professores é bem “complicadex”. Se for concretizado como está, vai instalar-se uma enorme burocracia nas escolas! E duvido que funcione.
Lamento muito o rumo que as coisas estão a tomar no Ministério da Educação. Continuo a pensar que foram tomadas decisões importantes, mas é preciso ter uma visão muito mais realista da escola do que aquela que a Ministra tem. Ela está certa quando diz que a escola é uma organização e tem de funcionar como tal; mas a organização só funciona com pessoas, e quer goste quer não, essas pessoas têm de ter motivação. E na verdade, a senhora Ministra é muito pouco motivadora…