2012/04/24

38 + 38

Dei-me conta, ao ver o “Prós e Contras” de ontem, que estou no momento da minha vida em que vivi 38 anos no regime do Estado Novo e outros 38 anos no pós-25 de Abril. Interessante. Trinta e oito anos é um tempo razoável para análise… Em Abril de 1974 chefiava a Divisão de Programas e Métodos da Direcção-Geral do Ensino Secundário, e nos vários contactos que tinha (e eram muitos) percebia-se que alguma coisa podia acontecer num país desencantado. Foi a publicação do livro de Spínola Portugal e o Futuro, foi, sobretudo, o 16 de Março (a “revolta” das Caldas, de que tive conhecimento na Madeira, onde, com mais dois colegas, tinha ido em serviço), e que deu para perceber que finalmente alguma coisa mexera no exército… Sabíamos, no Ministério da Educação, que Spínola visitava Veiga Simão. Veiga Simão, o Ministro que no dia 25 de Abril se manteve a trabalhar no edifício da Avenida 5 de Outubro, até tarde… O que foi ter 38 anos quando aconteceu o 25 de Abril? Nessa altura ainda era novo, sentia-me cheio de energia. Vivi portanto a mudança com o sentimento de libertação que quase todos os portugueses sentiram. Decidi que era a altura de participar, e durante mais de dois anos estive activo, dando contributo para o queria que fosse um novo Portugal. Não estive do lado errado, mas cedo compreendi que a militância partidária era incompatível com o meu modo de estar na vida. Passei portanto de actor (ainda que modesto) para o de espectador. E assim me conservo. Nos 38 anos seguintes, assisti, nem sempre muito perto (“perdi” a fase de obras públicas de 1989 a 1992), à evolução do país. Ninguém negará que Portugal mudou, e muito. Perante a situação que vivemos actualmente, muitos ignoram essas mudanças, que inclusivamente são consideradas como causa dos males actuais. Sou dos que pensam que estes males actuais, evidentemente fruto de erros cometidos, não são apenas deles (vejam-se os outros países europeus em crise). De qualquer modo temos de compreender as dificuldades e procurar encontrar o melhor caminho para as superar. Infelizmente, entre as mudanças destes 38 anos algumas não foram as mais convenientes, e uma delas, para nossa mágoa, foi a diminuição de qualidade da chamada “classe política”, que tem levado muitos de nós à descrença na capacidade de os partidos políticos gerarem os condutores do país. Ao fim destes segundos 38 anos de vida, este aspecto é o que mais me preocupa e desagrada.