(Retomo hoje esta série de posts)
Quase no final do ano lectivo de 1977-1978 tive inesperadamente a oportunidade de aceitar uma bolsa do British Council para estudar em Inglaterra, visando uma pós-graduação em educação. Em Londres era (e é) reputado o Instituto de Educação e foi pois para aí que concorri, e fui aceite, para obter o “diploma in education”, que poderia ser considerado a parte curricular de um mestrado, ou um curso de especialização. Era um curso de um ano que daria depois acesso a um mestrado. Na altura essas condições não constituiam problema e por isso decidi ir.
O meu inglês não era tão bom como o meu francês: se à saída do liceu eles se equivaleriam, no meu curso na Faculdade de Letras só lia praticamente livros franceses e até as ocasiões de praticar foram sempre mais com franceses do que ingleses. Por isso não estranhei quando me propuseram ir mais cedo para Inglaterra para frequentar um curso de língua, na Universidade de Reading. E assim, num dos primeiros dias de Agosto, depois de muito rapidamente me ter desfeito da casa que alugara em Braga e de ter mudado a mobília para a casa de Lisboa, voo para Londres para, no dia seguinte, seguir para Reading. Com o contratempo de se ter perdido uma das duas malas que levara, e que tinha a roupa de todos os dias, o que me causou sérios embaraços: só apareceu quase três semanas depois) Tinha ido passear à Argentina…
Reading é uma cidade que fica a cerca de uma hora de comboio de Londres. Comparada com esta, é uma vilória, ou seja, é uma cidade pequena – não sei se na altura ultrapassaria os 100 000 habitantes. O campus da Universidade, onde de facto vivi, ficava a pequena distância do centro; havia autocarros frequentes.
A cidade propriamente dita é simpática. Recordo-me de existir um parque muito agradável e uma biblioteca antiga (hoje há já uma biblioteca nova, inaugurada em 1985). Nos dois meses que lá estive não fui muitas vezes ao centro, umas três ou quatro; fiz mais vida no campus ou nos arredores próximos.
O campus de Reading é muito grande, com relvados “à inglesa”, tudo bem tratado. Os numerosos estudantes de muitos países que iam frequentar o mesmo curso de língua ficaram instalados em residências que se agrupavam num dos extremos do campus, edifícios sóbrios com quartos individuais e casas de banho colectivas tendo, por andar, uma cozinha equipada. Achei as acomodações bastante razoáveis. O sítio era, evidentemente, sossegado, bom para trabalhar e estudar. Apesar de ser verão não havia verdadeiro calor, e para surpresa minha o aquecimento estava ligado! Habituei-me com facilidade à vida do campus, às rotinas diárias, ao pequeno almoço “à inglesa”, que apreciei e sempre que posso gosto de fazer, às caminhadas em grupo para e de o instituto onde tínhamos as aulas, e só não me habituei, confesso, à generalidade da comida que nos davam ao almoço e ao jantar… Ao recordar Reading não recordo pois a cidade mas o campus, e recordo sobretudo o ambiente agradável, de convívio “multicultural”: para além de quatro portugueses havia brasileiros, gregos, chilenos, iraquianos, iranianos, indonésios e pelo menos um somali, com quem aliás fiz boa amizade: era espertíssimo e completamente descomplexado (encontrei depois muitos negros que não tinham vencido complexos).
Gostei bastante da experiência e da maneira como o CALS (Centre for Applied Language Studies) orientou a nossa formação. Parti pois para a aventura londrina bastante mais confiante.