2012/01/23

A Livraria Portugal

Leio, primeiro, no rodapé de notícias de uma estação de televisão; confirmo, hoje, ao folhear os jornais da manhã: a Livraria Portugal vai fechar. A Livraria Portugal é um pouco mais nova do que eu: faria 71 anos em Maio, o que quer dizer que quando abriu ao público eu tinha seis anos de vida. Para mim, é uma referência da minha juventude. Andava ainda no Liceu Passos Manuel quando comecei a frequentá-la, mas foi sobretudo enquanto universitário que fiz dela um lugar onde era cliente habitual. Os meus livros mais antigos foram quase todos comprados lá, e muitos outros que não comprei foram "lidos" em diagonal, porque o dinheiro não abundava... Recordo uma ocasião em que ao entrar deparei com um grupo que discutia acesamente: nesse grupo estava nem mais nem menos do que Aquilino Ribeiro! Recordo que lá encomendei alguns livros de arqueologia pré-histórica que não se encontravam à venda regular em Portugal e sempre a entrega foi feita com rapidez. Era uma livraria eficiente. A minha vida errante e de algum modo bastante longe de Lisboa afastou-me de uma frequência assídua da Livraria Portugal, mas sempre que descia a Rua do Carmo era raro não dar uma olhada aos escaparates e uma vez por outra entrar. A última vez que o fiz foi nas vésperas do passado Natal, procurando dois livros da colecção Lisboa Desaparecida que queria oferecer a minha Filha. E os livros estavam disponíveis! Havia na Portugal um ambiente quase familiar que a tornava única. Leio que os actuais responsáveis atribuem à FNAC o declínio do negócio: na verdade, os tempos mudaram, e as grandes superfícies até no campo cultural tendem a sobrepor-se ao pequeno comércio. Temos de conviver com isso. Fica a saudade de um tempo que não volta.