2006/06/25

A educação em debate (1)


Imprensa, rádio, televisão, blogs, têm nas últimas semanas acolhido um número invulgar de notícias e comentários sobre educação. Esta enxurrada de ideias pode vir a ter o mérito de, passadas as primeiras ondas de choque, provocar reflexões menos apaixonadas que sirvam para a elaboração de uma agenda que contribua para uma renovação do processo educativo em Portugal.

Neste momento, pode ser difícil aos professores serem serenos – mas nunca deveria ter sido ou ser ocasião para perderem a dignidade. Ainda há poucos anos recordo-me que num inquérito à escala nacional os professores apareciam muito bem cotados na opinião pública entre diferentes profissionais. Às referências infelizes da Ministra da Educação deveriam ter sabido responder com altivez e não com as armas do arsenal sindicalista e da má criação. Costuma dizer-se que quem não deve, não teme: pessoalmente, sempre me incomodei muito pouco com o que potencialmente pudesse ser argumentado contra mim, profissionalmente ou em qualquer outra área, se tivesse a minha consciência tranquila.

Mas regresso ao período inicial. Pode acontecer que todo este alarido venha a ter como feliz consequência que os reais problemas da educação possam vir a ser discutidos não na praça pública, como agora são, mas nos fóruns próprios – e onde, quer queiram os comentadores iluminados quer não queiram, têm de estar os que se têm dedicado às ciências da educação. Não para proclamarem as suas verdades como únicas, mas para fundamentarem o que sabem ser certo ou o que pensam dever ser melhor para a escola portuguesa. E, de algum modo também, para terem o direito de defesa!

Seria insensato dizer que tudo o que tem sido escrito, mesmo sob a influência de uma espécie de ódio incompreensível, é errado ou não merece consideração. Tão insensato como aceitar que esse tudo é integralmente correcto.

Deixemos pois assentar as águas. Esperemos que as decisões a ser tomadas pela Ministra acabem por ser aceites por quem tem de as executar – e para isso a própria Ministra não deve deixar de escutar razões e interrogar-se sobre elas.

Os próximos meses vão ser cruciais, mas as coisas hão-de melhorar. Preparemo-nos para, nessa altura, arrumar ideias e se possível a própria casa.