Vejo no Público de hoje um anúncio: Prémio Rómulo de Carvalho. Destina-se a professores de Física do ensino secundário “excelentes” e todos somos convidados a nomear um candidato. A ideia, no Ano Mundial da Física, foi da Sociedade Portuguesa de Física, e lembrar Rómulo de Carvalho como patrono do prémio é o mais natural acto de quem conheça a sua actividade como professor e formador de professores.
Conheci Rómulo de Carvalho em 1970, quando aceitei o convite para ser professor metodólogo de História no então Liceu Pedro Nunes. Rómulo era o professor metodólogo de Física e era também quem superintendia na biblioteca, uma excelente biblioteca, por sinal. Tivemos uma convivência normal. Nunca fomos muito próximos, mas conversámos muitas vezes. Apreciava a sua postura de gentleman, sempre impecável, sempre simpático. Recordo-me de que nas reuniões quando intervinha tinha um discurso muito fundamentado e era escutado com respeito. Os alunos apreciavam-no. Só estive um ano nas funções de metodólogo. Na única decisão em que me afastei (por escassos meses) de instituições de ensino, aceitei ir para uma empresa como consultor, na expectativa de equilibrar as finanças (dupliquei o vencimento, apenas…). Saindo do Pedro Nunes, deixei de ver e falar com Rómulo de Carvalho. Passados uns meses, contudo, regressei à educação, como Chefe de Divisão da nova Direcção-Geral do Ensino Secundário, e como tive o pelouro dos estágios passei de novo a ter contactos com o professor poeta e creio que de algum modo nos aproximámos mais. Rómulo de Carvalho tinha a paixão da História (publicaria mais tarde a sua excelente História do Ensino em Portugal) e por isso era fácil conversarmos. Era um erudito.
Recordo uma das últimas conversas que tivemos, já estava então no Gabinete de Estudos e Planeamento, no ano complicado de 1975. Ele estava a trabalhar num processo que neste momento não consigo identificar, e desabafou comigo em relação ao ambiente anárquico que se vivia no Liceu, que o desgostava profundamente. Não que tivesse sido posto em causa, mas repugnava-lhe ver a degradação reinante que transformara uma escola conhecida pela sua organização numa casa sem rei nem roque. Lembro-me que chegou a ser nomeado pelo Conselho da Revolução um militar como gestor do Liceu, dada a contestação ao Reitor e à incapacidade de os professores enquadrarem os alunos. Rómulo de Carvalho disse-me nessa altura que iria antecipar a reforma, o que de facto fez. Penso que depois disso estive com ele uma ou duas vezes apenas. Mas é bom que continue a ser lembrado, depois da sua morte, ocorrida há anos, quando dobrara os 90.