SERÁ POSSÍVEL
ENTENDERMO-NOS?
Na noite de ontem, os três canais de TV que dispõem de um serviço
noticioso (SIC-N, TVI24 e RTP3) dedicaram tempo ao recomeço do ensino a
distância, dando a voz a dois ex-ministros da Educação, Maria de Lurdes
Rodrigues (MLR) e Nuno Crato (NC), uma economista que de vez em quando escreve
sobre educação, Susana Peralta (SP), e um professor do ensino básico, Paulo
Guinote (PG).
Se procurássemos um denominador comum às diferentes vozes
escutadas, talvez fosse aceitável uma frase de NC que, de algum modo, teria
sido subscrita por todos; “Nada substitui o ensino presencial”. Houve outros
temas comuns, como o facto de as crianças desprotegidas serem mais
prejudicadas, de a situação de algumas famílias não lhes permitir dar
acompanhamento aos filhos no seu estudo em casa, e houve críticas ao Ministério
da Educação pelo facto de não existirem os equipamentos prometidos em Abril do
ano passado. Inteiramente de acordo na censura ao Ministério por essa falha.
Centro-me no tal denominador comum: “Nada substitui o ensino
presencial”. Ora, vamos lá ver se é possível entendermo-nos. Eu penso que
poucas pessoas pensarão no desaparecimento das escolas, apesar do interesse que
na altura despertou o livro de Illich Deschooling Society. Ninguém quer prescindir
da acção dos professores. Mas muitos pensam (e estou com eles) que a escola
tradicional tem de se adaptar aos novos tempos e contar com a verdadeira
revolução digital que transformou o nosso modo de viver. Desde os anos 80 do
século passado que Portugal acertou o passo no caminho do digital na educação:
quem se lembra do projecto MINERVA? e, mais tarde, do NÓNIO, Século XXI? E, recentemente,
do programa Escola Digital? Mais: não existiu – e existe – em Portugal, a
Escola Móvel, um projecto para apoio de crianças e jovens filhos de pais
itinerantes, que utiliza a Internet para a sua consecução?
Vamos esquecer tudo isso e, porque numa emergência dificílima,
quando se teve de organizar um ensino a distância para todas as escolas do sistema,
nem tudo correu bem, varrer das nossas preocupações a integração das
tecnologias nos projectos curriculares das escolas?
Portanto, deixem-me sugerir uma mudança na frase que
comentei. Não é “nada substitui o ensino presencial”, é “nada substitui o papel
do professor na escola”. Isto é: escola e professores são essenciais, mas muito
pode ser feito no sentido de aproveitar um meio a que a generalidade dos alunos
tem acesso para benefício das suas aprendizagens.
Mais um ou dois comentários à noite de ontem. O retrato que
foi feito das condições de parte das crianças e jovens carenciados por SP, que
como bem disse MLR, é conhecido, só por si é condição que sugere maiores
dificuldades de aprendizagens escolares. Infelizmente é uma situação que ainda
não foi resolvida em democracia. E a escola não pode, por si, resolvê-la.
PG, como professor, elencou com clareza todos os problemas que
o ensino a distância levanta, que são muitos e, em alguns casos, sérios. Reconheceu,
contudo, que é possível que em algumas situações, escolas e professores consigam
resultados interessantes. Mostrou-se crítico da “tutela” (termo que não ouvia há
muito) o que penso possa ser um sentimento comum a muitos professores.
Uma última palavra para NC, que apareceu calmo a desejar que
no futuro houvesse um currículo ambicioso. Não lhe perguntaram o que era isso,
portanto…