2021/02/15

DEBATER O DIGITAL NA ESCOLA

Não há duas opiniões para este dado: a escola, e tudo o que a ela está ligado, desde a cúpula do governo à comunidade educativa lato sensu, sofreu por causa da pandemia um severo desafio, não à sua existência, mas à sua configuração tradicional.

Não que a discussão sobre a necessidade de uma “nova” escola não seja recorrente e que não tenham existido numerosas tentativas de a reformular, algumas bem antigas (e algumas bem interessantes). Desde há uns anos, a evolução rapidíssima das tecnologias digitais tem determinado um incremento da sua aplicação à educação e começou a pensar-se mais em termos de uma “escola digital” (designação que, pessoalmente, não me agrada).

A Covid-19 veio, subitamente, colocar no centro das preocupações de todos os interessados. e são muitos, o problema de como continuar a ensinar os nossos alunos se as escolas tinham de ser encerradas, para evitar os contactos pessoais. A resposta foi rápida e geral: uma vez que não constituía segredo que era possível haver um ensino a distância – que há dezenas de anos existe em todo o mundo – tentou-se universalizar o método.

No caso português, fez-se o que se podia, na expectativa de que pudesse correr melhor do que pior. Dado, por um lado, os equipamentos disponíveis nas escolas e também por parte dos alunos, e ainda os constrangimentos familiares que o estudo em casa implica, e por outro o tempo de que se dispôs para a organização do modelo e os professores que temos, muitos sem grande informação e formação na área do digital, eu diria que correu melhor do que se poderia esperar.

Quando se julgou possível e sem risco para a saúde pública as escolas reabriram, e o ensino presencial regressou. Esperava que, apesar disso, estivesse previsto e preparado um plano para regresso ao ensino a distância, uma vez que a evolução da pandemia não parecia augurar melhorias significativas. Mas não foi assim; e por isso, quando se tornou necessário voltar a fechar as escolas, verificou-se que o governo não cumprira o que prometera em relação a equipamentos para alunos e escolas (e Internet de alta velocidade) e, na prática, voltou a improvisar-se.

O que me confunde, no entanto, nem é a situação de incumprimento, são as afirmações de responsáveis (incluindo o Ministro da Educação) acerca da imprescindibilidade do ensino presencial, quando, de acordo com o Plano de Recuperação e Resiliência 2021-2026 (PRR), cuja discussão está em curso, um dos roteiros propostos é intitulado Reforma para a Educação Digital! Que outros afirmem que o ensino a distância “é uma porcaria” (sic), é uma opinião; que sejam os responsáveis a minimizar uma das ferramentas que mais contribuirá para o futuro da nossa educação custa mais a admitir.

O que me preocupa é que se possa estar a perder uma oportunidade para a mudança da escola. Porque ninguém quer que a escola desapareça. Quer-se é outra escola. Que terá de ser compatível com o digital, ou não será. E para essa escola é necessário, para além de equipamentos, que existam professores preparados para assumirem a sua profissão, que não muda de essência, mas de modo de actuar.

Que não se hesite mais em começar um debate sério sobre este tema. 


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