DEBATER O DIGITAL NA ESCOLA
Não há duas opiniões para este
dado: a escola, e tudo o que a ela está ligado, desde a cúpula do governo à
comunidade educativa lato sensu, sofreu por causa da pandemia um severo desafio,
não à sua existência, mas à sua configuração tradicional.
Não que a discussão sobre a
necessidade de uma “nova” escola não seja recorrente e que não tenham existido
numerosas tentativas de a reformular, algumas bem antigas (e algumas bem interessantes).
Desde há uns anos, a evolução rapidíssima das tecnologias digitais tem
determinado um incremento da sua aplicação à educação e começou a pensar-se
mais em termos de uma “escola digital” (designação que, pessoalmente, não me
agrada).
A Covid-19 veio, subitamente,
colocar no centro das preocupações de todos os interessados. e são muitos, o
problema de como continuar a ensinar os nossos alunos se as escolas tinham de
ser encerradas, para evitar os contactos pessoais. A resposta foi rápida e
geral: uma vez que não constituía segredo que era possível haver um ensino a
distância – que há dezenas de anos existe em todo o mundo – tentou-se
universalizar o método.
No caso português, fez-se o que
se podia, na expectativa de que pudesse correr melhor do que pior. Dado, por um
lado, os equipamentos disponíveis nas escolas e também por parte dos alunos, e
ainda os constrangimentos familiares que o estudo em casa implica, e por outro
o tempo de que se dispôs para a organização do modelo e os professores que
temos, muitos sem grande informação e formação na área do digital, eu diria que
correu melhor do que se poderia esperar.
Quando se julgou possível e sem
risco para a saúde pública as escolas reabriram, e o ensino presencial
regressou. Esperava que, apesar disso, estivesse previsto e preparado um plano
para regresso ao ensino a distância, uma vez que a evolução da pandemia não
parecia augurar melhorias significativas. Mas não foi assim; e por isso, quando
se tornou necessário voltar a fechar as escolas, verificou-se que o governo não
cumprira o que prometera em relação a equipamentos para alunos e escolas (e
Internet de alta velocidade) e, na prática, voltou a improvisar-se.
O que me confunde, no entanto,
nem é a situação de incumprimento, são as afirmações de responsáveis (incluindo
o Ministro da Educação) acerca da imprescindibilidade do ensino presencial,
quando, de acordo com o Plano de Recuperação e Resiliência 2021-2026 (PRR), cuja discussão está em curso, um
dos roteiros propostos é intitulado Reforma para a Educação Digital!
Que outros afirmem que o ensino a distância “é uma porcaria” (sic), é uma opinião;
que sejam os responsáveis a minimizar uma das ferramentas que mais contribuirá
para o futuro da nossa educação custa mais a admitir.
O que me preocupa é que se possa
estar a perder uma oportunidade para a mudança da escola. Porque ninguém quer
que a escola desapareça. Quer-se é outra escola. Que terá de ser compatível
com o digital, ou não será. E para essa escola é necessário, para além de
equipamentos, que existam professores preparados para assumirem a sua profissão,
que não muda de essência, mas de modo de actuar.
Que não se hesite mais em começar
um debate sério sobre este tema.
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