2005/04/16

A resposta ao desafio


Se quiser visitar as Fábulas (e merece a pena, se não o fizeram já) verá que fui desafiado a não quebrar uma rede que existe no mundo dos blogs. Eu sempre quebrei aquelas redes patetas que de vez em quando apareciam pelo correio normal (estou agora a pensar que praticamente desapareceram, mas muitos dos meus leitores lembrar-se-ão delas), mas esta não posso nem quero quebrar, tentando respeitar o estilo que se está a criar na blogosfera. Aí vão, pois, as minhas respostas às cinco perguntas e os convites para novos “enredados”.

1. Não podendo sair do Farheneit 451, que livro quererias ser?

Morrer queimado não se deseja ao maior inimigo… Nenhum livro merece ser queimado, mesmo aqueles a que falta dignidade. Se sou contra a pena de morte nos humanos, como seria a favor da morte de livros? (Penso que interpretei o sentido da pergunta…)

2. Já alguma vez ficaste apanhadinho por um personagem de ficção?

Quase ainda criança (comecei muito cedo a ler livros porventura não muito próprios para a idade) quis ser o Edmundo Dantès de O Conde de Monte Cristo. Depois, julgo que fui sempre capaz de lidar com a ficção e a realidade de tal sorte que personagens foram sempre personagens, simpatias e antipatias ficando sempre a esse nível. Nunca me apaixonei por uma personagem nem desejei matá-la...

3. Qual foi o último livro que compraste?

Bom… Normalmente, os livros “de ler” não os compro eu mas a minha Mulher; as minhas compras, nas visitas que faço a livrarias, são de livros que me interessam na área das minhas preocupações (educação) e muito raramente de outros temas. Creio que o último livro que comprei foi Um Roteiro da Educação Nova em Portugal, de Manuel Henrique Figueira, edição dos Livros Horizonte (2004).

4. Que livros estás a ler?

No que se refere a livros de “ler” (isto é, estilo romances, novelas) estou muito abaixo do que quereria, porque tenho de me dedicar a outras leituras (e essas requerem compulsar vários livros ao mesmo tempo). Desde o Natal, porém, ando ás voltas com A Minha Vida, de Bill Clinton. É um volume de quase mil páginas! Aprecio muito biografias, ainda mais autobiografias, e tive sempre muita simpatia por Clinton (assisti nos Estados Unidos ao começo da sua campanha para Presidente e dei-lhe crédito como político; e como político provou ser muito bom). Não tenho neste momento “livro de cabeceira”.

5. Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?

Os Lusíadas, de Camões, Os Maias, de Eça de Queirós, Aparição, de Virgílio Ferreira, Guerra e Paz, de Tolstoi, O Fio da Navalha, de Somerset Maugham. Peço desculpa mas Saramago não passa. Esta foi a resposta mais ou menos séria, porque noutro registo talvez me propusesse levar uma Enciclopédia (a Verbo século XXI, por exemplo, porque sempre variaria mais de leitura…)

6. A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?

Parte difícil! Sou recente nos blogs para ter um grande campo de escolha… Esperando que aqueles a quem convide tenham o mesmo “fair play” que eu, não dizendo “não” à Saltapocinhas, passo o testemunho ao Outroolhar, ao Acontecencias e ao Educação Comunitária. Razões: os dois primeiros, porque têm mantido um diálogo interessante, aberto, estimulante, com este blog; o terceiro porque tem a gestão de um colega que nos anos 80 trabalhou comigo na Escola Superior de Educação de Faro e tenho a certeza que não se importará de o desafiar…
Estou desobrigado. Satisfiz a curiosidade?...

2005/04/15

As Crónicas na RUM (3)


Não se percebeu muito bem aquela manifestação dos estudantes dos ensinos básico e secundário de quarta-feira passada. Segundo os jornais teriam sido uns mil – uma percentagem pequena da totalidade; e, além disso, a Confederação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Básico e Secundário demarcou-se da movimentação, sugerindo, no comunicado, que teriam havido motivações políticas, dada a vida útil do novo governo.

Se de facto assim foi, bem pode dizer-se que começam cedo…

Mas o que mais me impressiona é aquela insistência dos manifestantes em quererem uma disciplina de Educação Sexual! Ou seja, dito de outro modo, quererem “aulas” de Educação Sexual. Os colegas da Confederação criticam: seria melhor uma disciplina de Educação Cívica, onde esse e outros temas fossem abordados. Têm mais siso.

É isso. A ideia das disciplinas está tão enraizada que é difícil exterminá-la. E no entanto, há aprendizagens que são sem dúvida muito mais produtivas se desenquadradas do espartilho de uma disciplina, e a meu ver, a educação sexual constitui um bom exemplo.

Uma outra exigência dos jovens alunos é, imagine-se, que este governo ponha imediatamente em vigor a Lei de Bases que o governo de Durão Barroso deixou e o Presidente da República vetou. Perdoe-se-lhes a ingenuidade (talvez ignorem o veto ou nunca lhes tivesse sido explicado o que isso significa). De qualquer forma, esta maneira de os estudantes adolescentes porem as questões não deixa de me preocupar.

Eu não sou dos que pensam que os estudantes devem aceitar sem crítica o que os afecta. Mas ponho também muitas dúvidas sobre a bondade de muitas dessas críticas. Claro que muitas vezes não fazem mais do que fazer suas bandeiras de adultos que por uma ou outra razão estão contra o que se determina pelo Ministério da Educação, quando lhes convém. Neste caso da “exigência” da reposição da lei de bases da educação, a que na altura própria dediquei uma crónica nestes microfones, estava em causa uma mudança estrutural do sistema educativo de muito duvidoso interesse, restringindo o ensino básico a seis anos e regressando a um ensino secundário de outros seis. Disse na altura que não percebia por que razão se tinha de alterar um esquema que fazia sentido e permitia soluções adequadas, e que se iria criar uma enorme confusão (mais uma!) na rede escolar, já conformada com a situação actual.

Continuo a pensar que em educação devemos ser muito cautelosos em relação a grandes reformas. Deve haver um mínimo de estabilidade no sistema e introduzir as alterações que se considerem necessárias por pequenos passos, evitando regulamentar excessivamente, deixando margem de manobra às escolas para decidirem em função da sua realidade. Porque é na sua escola que os alunos devem participar, perguntar, discutir – não em grandes manifestações de rua…

Uma última palavra para a inauguração da Casa da Música no Porto. Um grande momento para o norte do país.

Até para a semana.

2005/04/12

A covardia dos intelectuais – vamos mudar o curso da História?


Em posts anteriores tenho manifestado discordâncias com o teor dos artigos de Maria Filomena Mónica (MFM), dada a sua verrina contra não sei bem se as ciências da educação se com os que a elas se dedicam. O artigo “A Covardia dos Intelectuais”, publicado no Mil Folhas de sábado passado e que confesso só li depois de alertado na minha visita a blogs amigos, merece uma análise um pouco diferente.

Em primeiro lugar porque estou de acordo com ela em vários aspectos – o que me deixa satisfeito, porque me cauciona uma certa isenção… Em segundo lugar porque o tema é, na verdade, muito interessante.

Vamos aos acordos. MFM refere Lyotard, eu refiro Fred Keller e o seu célebre artigo “Good-bye, Teacher”, publicado no Journal of Applied Behavior Analysis em 1968 (com perspectivas diferentes, claro). Como ela, eu penso que o professor é insubstituível sejam quais forem os progressos tecnológicos, tal como penso que “o que nos marca para a vida é a personalidade de um professor”.

Em segundo lugar (surprise! surprise!) eu também defendo que a Universidade deve ser elitista (embora num conceito de elite um pouco alargado, porque uma elite em rigor não pode ser muito numerosa). (Vamos ver o que me acontece…) Na Universidade não deve haver lugar para a mediocridade, sejam quais forem as suas causas: só não gostaria de chamar “estúpidos”, como MFM faz, aos que não conseguem intelectualmente atingir o nível de exigência dos estudos superiores, mas na verdade esses, bem como os que simplesmente não querem estudar, não deveriam ser admitidos.

Ainda um ponto comum: também me penaliza a ideia de que as aprendizagens no ensino superior universitário tenham de ter sempre uma finalidade utilitária, não dando margem ao aprender por aprender (e como eu estudei e ensinei Filosofia sinto-me perfeitamente à vontade para escrever isto).

E aqui acabam as convergências no que se refere à escola. Para mim a escola básica, universal, tem de ser para todos e a todos tentar integrar socialmente com os conhecimentos (e competências…) aceitáveis para o nível considerado (no nosso caso, actualmente, o 9º ano). Numa escola que se consiga organizar como deve, a flexibilidade curricular encontrará os meios para permitir a convivência de alunos com graus de desenvolvimento diferentes sem recorrer aos chamados “currículos alternativos” (uma triste invenção nacional até no termo escolhido). Mas chegado ao fim dessa escolaridade, deve haver selecção, e séria (já no acesso ao secundário). O problema da condição social ou foi resolvido antes ou terá, infelizmente, de não ser aqui considerado.

Contudo, nós não podemos mudar o curso da história. Os estudantes de hoje não são iguais a mim e a MFM quando tínhamos a idade deles. Podemos achar que é pena que em vez de se ir mais vezes ao cinema se frequentem discotecas, que em vez de longas conversas à mesa do café se prefiram salas de “chat” na Internet ou ainda em vez de passar horas em bibliotecas treinarem-se intensamente em jogos de computador. Mas a verdade é que os computadores existem e é bem mais sábio conviver com eles do que lutar contra eles.

Eu estava a acabar o meu curso na Faculdade quando a RTP começou a emitir a sua programação. Não sei pois o que é ser estudante (enquanto moço) tendo a televisão como distracção. Mas ela existe hoje, com programas maioritariamente idiotas.

O mundo mudou e com ele os enfoques culturais (e é verdade, MFM tem razão, porventura muitos dos sociólogos críticos foram, são responsáveis por uma espécie de niilismo cultural onde há uma verdadeira confusão de valores; e o mesmo se passou com as chamadas “pedagogias revolucionárias” que proliferaram e proliferam e que não têm nada a ver com a ideia de educação que defendo). Mas não vale a pena lutar contra moinhos de vento se não possuirmos bulldozers.

Nos últimos três anos, e penso que para o ano vou repetir a experiência, dei aulas a alunos de mestrado numa disciplina intitulada “Currículo e Cultura” e tive oportunidade de conviver com estudantes das áreas das expressões artísticas – música e educação visual e plástica. Eu sei que para um mestrado as condições de admissão são relativamente exigentes, mas os meus alunos estavam longe de ser “ignorantes” e alguns deles foram mesmo excepcionais na sua área de competência. Procurei fazê-los pensar sobre o papel da escola como agente de cultura, partindo da sua formação artística, tendo como realidade a pós-modernidade em que vivemos, com os problemas levantados pelas relações multiculturais. Porque esta é a realidade. Facilitei? Em meu entendimento, não; mas também devo dizer que me repugna, por natureza, não tornar acessível o que pode ser tornado acessível. Penso, mesmo, que uma das maiores qualidades de um professor é a clareza da sua exposição, quando tem de expor, sem sacrificar, claro, a mensagem que transmite.

Ao responder assim ao desafio que representa, para um professor universitário, ademais na área de ciências da educação, confrontar os seus estudantes com um conjunto de problemas que relevam da organização curricular em áreas consideradas essencialmente áreas de cultura, tentei sobretudo criar condições para que eles (e elas) se questionassem e às suas práticas (a maioria ensinava). O blog que criámos (nos dois últimos cursos) ajudou muito (se a tecnologia existe, por que não usá-la?), mas creio que não me substituiu…

Não tenho, noutras instâncias, sido covarde (na lógica de MFM)? Provavelmente, sim, tenho facilitado, em circunstâncias claramente delimitadas por uma lógica que me ultrapassa mas tenho de compreender, por derivar de decisões políticas geral com as quais não concordo mas não tenho autoridade moral para contestar (dito deste modo pode parecer hermético mas será melhor que fique assim).

Ainda queria referir, para terminar, e porque MFM referiu o contexto internacional, que pelo menos nos EUA, que conheci bem, fiquei com a ideia que só ao nível das pós-graduações começa a funcionar a “elitização”: a própria Universidade é relativamente branda a formar os “bachelors” e só nos cursos de mestrado e doutoramento introduz mais exigência. Não será inelutável que isso aconteça também aqui?

Penso que para um post é prosa demais, mas para continuar a discussão já deve ter matéria bastante…

Reflexão num dia de memória neutra


Resisti muito tempo a publicar o “meu” blog, mesmo depois de ter experimentado com os meus alunos as suas virtualidades em termos de comunicação. Devo dizer que inicialmente os blogs pareciam-me representações de narcisismo tolo. Quando mudei o meu pensamento e me decidi, assumi claramente que queria com ele recuperar memórias de um passado que para mim foi rico de experiências, sem enjeitar a possibilidade de comentar o que vai acontecendo e tenha, para mim, certo significado. Curiosamente, não pensei muito na sua difusão e até fiquei quase surpreendido quando comecei a ter algumas visitas que julgo regulares, e alguns comentários interessantes. Identifiquei umas duas dúzias de outros blogs que de vez em vez visito e por vezes comento, evitando banalizar o comentário.

Nessas visitas, às vezes irrito-me, outras vezes fico preso ao que li e, naturalmente, noutras alturas solto boas gargalhadas, tal é a enormidade que se “postou” (lá vai mais um neologismo!). O mundo dos blogs é isto: tem de tudo. Um pouco como nos jornais, valha a verdade. Há nos blogs um Vasco Pulido Valente, um José Manuel Fernandes, um Eduardo Prado Coelho, uma Maria Filomena Mónica. E também há Luíses Delgados e Antónios Josés Teixeiras. E há aqueles de que não fixamos os nomes, que lemos e restituímos ao anonimato de onde brevemente saíram.

Pergunto-me: “Por que continuo?” Já tive mais fascínio pelos blogs do que tenho hoje, é um facto. Mas apesar de tudo penso que vale a pena. Em toda a minha vida agi mais do que escrevi – sempre a pensar se valeria a pena dizer o que penso. E por isso não escrevi (muito). No blog sinto-me mais solto. Menos comprometido. Sei que há uma meia dúzia de internautas que se cruzam comigo – e isso é suficiente. Como já uma vez disse, não quero ser blogger profissional, a contar audiências, a ter a pressão de escrever todos os dias.

E como nunca escrevi nas paredes da casa de banho não tenho de me preocupar com as opiniões da Maria Filomena Mónica (a própria).

2005/04/11

Aquisição de competências no ensino básico


Este post está prometido há dias.

Estruturar o processo de ensino-aprendizagem com base na apropriação de competências pelos alunos é actualmente um objectivo na maior parte dos sistemas de ensino. Para quem pensa que existem “modas” na educação, diria que as competências são uma moda… Não é, claro, a minha visão: foi a investigação e sobretudo os bons resultados obtidos em meio profissional, no qual a formação assenta essencialmente na apropriação de competências, que determinaram esta convergência de orientações. Não defendo propriamente uma educação baseada nos critérios da “racionalidade técnica”, mas esta aproximação não significa o abandono puro e simples de uma atitude humanista e/ou personalista.

Correndo o risco de simplificar em extremo, eu diria que na fase de iniciação escolar as mais importantes competências a desenvolver pelo aluno são as competências do aprender a aprender.

Um dos mais consistentes resultados que têm sido obtidos pela investigação em educação é que todas as aprendizagens são construídas pelo aluno (o que não exclui, como é evidente, que exista um ensino; somente esse ensino deve estimular a construção do conhecimento e o desenvolvimento das competências).

Ora não aprendemos todos da mesma maneira. Como hoje se diz, muito por influência da informática, o processamento da informação por cada um de nós é feito de maneira diferente. Uns aprendem bem ouvindo, outros lendo, outros fazendo (alguns autores referem estilos de aprendizagem auditiva, visual e táctil). Os primeiros tempos na escola devem ser de orientação – e o conjunto de tarefas que a orientação implica parece que pode ser cumprido com mais eficiência pelo tal professor generalista, eventualmente com uma ajuda eficaz por parte de um psicólogo. E digo isto porque a principal tarefa do professor é conhecer bem todos os seus alunos; ele deve procurar entender qual o estilo de aprendizagem de cada um e proporcionar-lhe os meios mais adequados para dele tirar partido.

Aprende-se a aprender ao longo da vida, mas desde o início a criança deve aperceber-se das suas próprias características de aprendiz (embora já haja quem use “aprendente” ainda não aderi à palavra).

Um professor do 1º ciclo deve ter aprendido e treinado, na sua escola de formação, os procedimentos didácticos correctos para as aprendizagens básicas: leitura, escrita, aritmética. Confesso que compreendo mal que se advogue, para uma criança de 6, 7 anos, que existam professores especializados para cada uma dessas áreas. A não ser em casos extremos, que configuram condições especiais, por certo um professor único desempenhará bem o seu papel.
É evidente que o simples enunciado de uma competência esconde uma estratégia e tem de ser complementado por outros enunciados – e os mais importantes são os resultados esperados pela aprendizagem, depois traduzidos em competências (que genericamente podem ser entendidas como a capacidade de concretizar, em acções e por atitudes, os diversos saberes que devem ser aplicados nessa emergência). Por isso a avaliação dos resultados escolares quando se usa uma pedagogia de competências reveste dificuldades, porque não está em causa a reprodução de um conhecimento mas a sua aplicação numa situação concreta.

Uma nota final: estamos no começo, e não só em Portugal, nesta abordagem a um ensino-aprendizagem por competências. O que implica formação e cautela no desenvolvimento do processo.

2005/04/10

Leituras de fim-de-semana


Recebo semanalmente o Correio da Educação, da ASA, no qual muito esporadicamente colaboro. Nesta sexta-feira deparei com uma coluna assinada por Joaquim Azevedo, intitulada “Chafurdar na lama”. Uma vez que o Correio da Educação não está disponível on line, mas porque tenho a certeza que os meus amigos Matias Alves e Joaquim Azevedo não se importam, quero divulgar aqui esse pequeno excelente texto, que subscrevo totalmente,

Chafurdar na lama
Joaquim Azevedo
Cito: os jovens “chegam à universidade quase analfabetos e saem de lá pouco melhor do que entraram”; há “uma massa estudantil inteiramente desinteressada em aprender e unicamente apostada em passar”, não percebem o que ouvem e menos ainda o que lêem. O Secundário é “um imenso recreio que, por seu turno, já prolongava o jardim infantil em que se converteu o Ensino Básico”. Os jovens aprendem que “aprender pode e deve ser tão lúdico como jogar à bola na praia ou saltar à corda nos intervalos.” As matérias têm de ser “ensinadas de maneira que não se dê por ela e aprendidas de maneira que não dê trabalho.” (palavras de Fátima Bonifácio, em artigo no Público, a I5 de Agosto de 2004).
Afirmações leves e descabeladas como estas têm saltado para os media e lá vão fazendo o seu caminho. São “explicações” que valem mais pelo jeito que dão do que pela veracidade que contêm. Neste caso, à falta de melhor justificação para o “desastre” da educação pública, vendem-se e compram-se “explicações” bombásticas, típicas da sociedade do espectáculo em que vivemos. Pena é quando aos que as vendem se juntam doutorados em ciências sociais das nossas universidades!
Basta conhecer um pouco o que se passa realmente nas nossas escolas (e não na fantasia destes vendilhões de gracinhas) para saber que o Secundário é tudo menos um imenso recreio, que o nível educativo cresceu imenso nos últimos trinta anos, que hoje se lê muito mais do que alguma vez se leu em Portugal, que muitos milhares de alunos trabalham imenso e alcançam bons níveis de aprendizagem e que muitos milhares de professores se dedicam e com bons resultados. Não vamos a lado nenhum ridicularizando quem tanto trabalha, alcançando bons resultados.
Existem também, de tacto, inúmeros problemas no nosso sistema educativo e resultados bastante medíocres. Mas é preciso delimitá-los, analisá-los e combatê-los eficazmente. Pode haver grandes melhorias e já. Mas não é isso que interessa. Chafurdar na lama dá muito mais gozo a alguns compatriotas!

Ontem, no Expresso, veio o contraponto. Guilherme Valente, membro do Conselho Nacional de Educação (!) nomeado pelo Governo, ligado à Gradiva (aliás qualifica-se como editor) publica mais um dos seus artigos sobre educação (“Para que serve a escola”). Não me dou ao trabalho de o digitalizar, penso que a maior parte dos meus leitores lê o Expresso. Apenas pergunto como pode um indivíduo como ele permanecer no Conselho Nacional de Educação se pensa que existe “um domínio dos ‘ideólogos’, dos ‘pedagogos’ que infectam (sic) todo o sistema educativo a partir de muitos cursos superiores de educação, públicos e privados, nas universidades e politécnicos”?
Não escrevo a resposta que está na ponta dos meus dedos para não ser acusado de descer ao nível do editor, mas vontade não me falta…