Volto a deambular por avenidas e ruas que percorria e conhecia bem. Salvo um curto período, sempre vivi em Lisboa na zona conhecida por “Avenidas Novas”, que neste regresso à capital me acolheu de novo – é aqui que gosto de viver e penso que em qualquer outro lugar teria menos prazer no reencontro.
Muito mudou e muito permaneceu. Entrar na Versailles é como se tivesse lá estado ontem; do lado de fora, o estaleiro para a construção da nova estação do metro do Saldanha lança a confusão no estrangulamento do trânsito na Avenida da República, um ónus para todos nós na esperança que acabe depressa e permita usar um pequeno novo troço de linha que nos leve em minutos à Gare do Oriente.
Mas não é só a Versailles: quase em frente a Pastelaria Ceuta, onde durante alguns meses tomei o pequeno-almoço antes de ir para o Liceu Padre António Vieira onde dava aulas de Filosofia e História no longínquo ano de 1967, continua aberta quase com a configuração que tinha na altura. E reconheço meia dúzia de lojas que permanecem – sobreviveram nestes cinquenta anos – como reconheço, na sua traça da primeira metade do século passado, o Liceu D. Filipa de Lencastre, onde nos anos 70 fui professor efectivo.
Claro que há muitas novidades: o edifício da Caixa Geral de Depósitos, o Centro Comercial do Campo Pequeno (no fundo, todo o arranjo da praça de touros, que só no exterior é a mesma), a estação de comboios de Entrecampos… Mas nada disso retira o ar familiar que reencontro na alta da cidade.
Pena o ar de algum desleixo que existe nas ruas, sobretudo ao pé dos muitos locais onde estão implantados os recipientes de recolha para materiais recicláveis: a cidade está suja, mal cuidada. Há demasiados buracos nos passeios, que são obstáculos para os peões, sobretudo os mais velhos – e nesta parte da cidade a população residente está envelhecida. Será que uma gestão da Câmara Municipal mais atenta poderá minimizar este ar de desleixo? Seria bom.
Entretanto, continuo a explorar o resto da cidade – a que conhecia menos bem e a que não poderia conhecer porque é totalmente nova. Este sol de inverno que hoje está convida a um passeio.