2006/01/24

Os lugares onde vivi – Sintra – Mem Martins (1969-1970)


No ano em que estive no Funchal concorri de novo para um Liceu do continente – e como calculava, fui colocado em Castelo Branco. Depois de dois anos nas “ilhas” (era a expressão mais vulgar nesse tempo; hoje seria considerada pouco respeitosa para as regiões autónomas, e com alguma razão) ia começar um novo período. Com certeza que na altura o meu objectivo seria fixar-me em Lisboa, mas sabia que tinha de esperar alguns anos até ter vaga (já era assim nesse tempo…). Mas não me incomodava o conhecer novas terras, o problema era apenas andar com a casa às costas.

Assim, pensámos - minha Mulher e eu - que provisoriamente (antes de ir para Castelo Branco) seria melhor alugar para uma curta duração uma casa “de férias” – e Sintra foi a localidade escolhida. Tive sempre uma grande atracção por Sintra, que considero um dos mais belos lugares do país. E Sintra no verão é adorável. Por isso, entre fins de Julho e Setembro, foi lá que vivi. Depois de um ano de trabalho, era bom descansar – e descansei, gozando o ano e meses da minha filha, lendo, passeando. Estava sem carro (vendera o que tinha quando fora para os Açores e nessa altura não tinha dinheiro para comprar um).

Entretanto, interiorizava a mudança para Castelo Branco quando recebi um convite verdadeiramente inesperado. Conhecera, na Horta, um inspector do ensino liceal que fora lá para entre outras coisas, instalar novo equipamento no Laboratório de Física, o Dr. Túlio Tomás. Tínhamos uma grande diferença de idades, mas “acamaradámos”, se me é lícito o termo, e ficámos amigos. Ele soube da minha ida para o Funchal e naturalmente na minha colocação em Castelo Branco. Se bem me recordo, tínhamos combinado encontrar-nos em Lisboa, e foi nessa altura que me fez o convite de, no ano lectivo seguinte, trabalhar na Inspecção do Ensino Liceal, como professor requisitado. Como é evidente não recusei: a inspecção em si nunca me atraiu mas eu não iria ter, como era óbvio, tarefas de inspector. Esse meu tempo merece um post próprio; aqui só lembro o facto porque ele alterou o curso da minha vida. Em vez de ir para Castelo Branco, ia trabalhar em Lisboa. Urgia arranjar uma solução habitacional estável.

Em Sintra não poderíamos ficar para além de Setembro; e feitas as contas (sim, nessa altura era preciso fazer muito bem as contas, porque o dinheiro era curto) decidimos alugar uma casa em Mem Martins, onde as rendas eram mais baratas. Era um belo 2º andar, com um sótão excelente e até tinha garagem, que ficou vazia enquanto lá morei… Não muito tempo, na verdade: uma nova situação levou-nos a alterar os planos. Precisava de aumentar o meu pecúlio e por isso procurei um complemento de vencimento, e fui contratado para dar aulas de Psicologia na ESOCT (Escola Superior de Organização Científica do Trabalho), do ISLA (Instituto Superior de Línguas e Administração). Três vezes por semana tinha aulas à noite – entre as 20 e as 24. Isso fazia com que nunca chegasse a casa antes da 1 e pouco da manhã; e no outro dia (excepto ao sábado...) tinha de me levantar bem cedo. A minha Mulher (na altura professora do ensino primário, como se dizia) tinha sido colocada numa escola perto de Benfica, em Lisboa, mas só dava aulas de tarde. Ora todas estas condições pediam que nos mudássemos para Lisboa; íamos ter um encargo maior (se não me engano, passámos de uma renda de 900 escudos para uma de 2 200) mas tinha de ser.

De Mem Martins, do meu 2º andar da rua dos Lírios, tenho poucas recordações… Com excepção dos sábados e domingos, passei lá mais horas de noite do que dia. Saí sem saudades, nos começos de 1970, para um andar na Avenida Gomes Pereira, em Benfica.

2006/01/22

O meu voto



Acabo de regressar a casa depois de me deslocar à minha secção de voto – um passeio de uns quatrocentos metros, se tanto. Está uma manhã bonita, um pouco fria mas não exageradamente, mesmo para os nossos padrões. Havia pouco movimento na rua e na praça que tive de atravessar.

Cumpri o meu dever cívico (é assim que se diz). Sem entusiasmo. Embora acredite que seja qual for o resultado o curso da nossa vida vai seguir em frente, sem sobressaltos, julgo que os episódios que marcaram a incubação da campanha eleitoral e ela própria não ajudaram em nada a estabilidade do nosso futuro próximo.

Porque os dados estão lançados, aguardemos os resultados e aceitemo-los: são as regras do jogo…