Quando entrei na Faculdade de Letras de Lisboa, em Outubro de 1954, Oliveira Marques começava o seu 3º ano do mesmo curso, o de Ciências Históricas e Filosóficas. Recordo-me dele, jovem como eu, nos claustros do velho convento de Jesus. Um ano mais tarde, Oliveira Marques começou a ser falado com respeito: ia fazer uma coisa raríssima, mas permitida, que era apresentar a tese (na altura, as licenciaturas compreendiam a redacção de uma tese original) no final do 4º ano. A esmagadora maioria dos alunos só depois do curso aproveitava o 5º ano para a elaboração da tese. E – posso dizê-lo – implicava um trabalho imenso ter de satisfazer a todas as disciplinas do 4º ano e, ao mesmo tempo, investigar e redigir a tese. Mas Oliveira Marques fê-lo, e em 1956 defendeu, com brilho, um trabalho que intitulou A Sociedade em Portugal nos Séculos XII a XV. Teve como investigador uma vida cheia e a historiografia portuguesa deve-lhe muito.
Nunca privei de perto com ele – fomos sempre colegas distantes. Mas sempre tive grande admiração pelas suas qualidades, e enquanto professor de história recorri muitas vezes aos seus trabalhos eruditos.
Leio no jornal a notícia do seu falecimento. Era dois anos e meio mais velho do que eu. É um sentimento estranho quando vemos partir quem foi nosso contemporâneo. É a vida...