2005/11/25

As armas em boas mãos...


Quem viveu os tempos do PREC (curioso, hoje é 25 de Novembro, posso recuperar a memória de há trinta anos…) recorda-se certamente das armas desaparecidas que “estavam em boas mãos”. Pois hoje de manhã, ao ouvir a TSF, lembrei-me disso, quando ouvi a declaração de um morador do Bairro Santos, em Lisboa, comentando o regresso a casa de Carlos Silvino, libertado depois de três anos de prisão preventiva e que em sido alvo de ameaças de morte. Dizia esse morador que estava preocupado com o seu regresso, porque “aqui quase toda a gente tem em casa uma fusca”. Insinuando, assim, que o tiro ao alvo pode acontecer. Quase toda a gente?! E não gritamos por socorro?

2005/11/23

O politicamente correcto…


Embora em natural desuso, o “politicamente correcto” ainda tem os seus cultores. Devo dizer que não me afecta que se faça um esforço por limitar, no discurso, termos ou frases que possam ser consideradas pouco abonatórias no contexto social no qual se vive. Muito recentemente, assistiu-se entre nós a um reavivar do politicamente correcto que me deixou divertido.

Não sei se repararam que há umas semanas começou a passar na rádio (e na televisão, também) um anúncio no qual se quer dar relevo a um acesso à Internet mais barato. O anúncio desenvolve-se em diálogo por um casal, e inicialmente o homem (presumível marido) tenta explicar à mulher as vantagens da adesão a esse produto, mas a senhora parece não as atingir e, no fim, exclama com uma voz (e cara) sugestiva: “Olha, explica-me como se eu fosse muito burra!”

Bom, com certeza havia quem sorrisse (eu sorri!) mas deve ter havido alguém que não sorriu e disparou a favor do “politicamente correcto”. Podia lá ser estar a desfrutar o género feminino? Então, as mulheres têm de ser estúpidas?

E aconteceu o que se viu: após alguns dias com este anúncio, aparece um outro simétrico, no qual é a mulher que tenta explicar ao homem as vantagens do novo acesso, e é o homem que, no fim, confessa: “Olha, explica-me como se eu fosse muito burro!”.

Eu continuei a sorrir, mas ao mesmo tempo a pensar o que teria acontecido para esta mudança – e cheguei à conclusão que acabei de expor. Mas mesmo que não fosse assim, ou seja, mesmo que o publicista tivesse imaginado os dois anúncios e apresentá-los com esta sequência, ou alterná-los, o efeito era o mesmo: eis o politicamente correcto em todo o seu esplendor.

Não tenho nada contra que se policie a linguagem, mas faz-me confusão tudo o que é excessivo. Denegrir sistematicamente a mulher só porque é mulher é censurável. Como é censurável denegrir os alentejanos com as anedotas que para eles se criaram. Mas pesemos as coisas com calma. Não me parece que o anúncio fosse chauvinista porque o objecto é uma mulher e deixe de o ser porque passa a ser homem… Ou então, têm de me explicar isso como se eu fosse “muito burro”…

2005/11/22

Os Prós e Contras de ontem


Já uma vez referi que Prós e Contras é um dos programas normalmente com interesse da nossa televisão. O de ontem foi interessante por pôr frente a frente (sem com isso significar em posição de combate…) o ex-ministro David Justino e a actual ministra Maria de Lurdes Rodrigues, e por ter um homem lúcido e conhecedor dos problemas da educação (António Nóvoa) e uma professora excelente, como a própria informou em final de programa, a Drª Amélia Pais. Ah! E os representantes dos Sindicatos, e das associações de pais. E muito público, a dividir as suas palmas conforme as ocasiões…

Gostei de ver um David Justino sem a sobranceria de quando era ministro (que me perdoe, mas era como o via) e a dialogar serenamente. Já se sabia que não gosta de pactos, mas o nome pouco importa; o que temos de gostar é que sejam possíveis consensos (mas atenção, porque não é possível deixar toda a ideologia de fora).

Gostei de ver a Ministra a confessar que é energética (que não se canse, porque é bem preciso) e sobretudo a dizer que não se pode perder tempo. Aprendi a importância disso com o Prof. Veiga Simão e concordo plenamente. Penso que ela já percebeu que as aulas de substitução não deviam ser aulas de substituição mas tempos para actividades a ser organizadas pelas escolas tendo em vista o projecto curricular da turma em questão (não posso aqui desenvolver como isso poderia ser feito, mas pode).

Claro que gostei do António Nóvoa, primeiro porque quase sempre estou de acordo com ele (e certamente ele está de acordo comigo). Há quanto tempo todos nós percebemos que a escola tem de mudar (sem perda de tempo!), que mesmo no final do século XX ela devia já ter mudado (e já há algumas que mudaram). Há quanto tempo defendo que as escolas têm de assumir a sua autonomia com total responsabilidade, ou que a escola tem de pensar em processos de ensino-aprendizagem mais diversificados, tendo em atenção a individualidade de cada aluno sem perder de vista a capacidade de um trabalho cooperativo essencial.

E também achei interessante a vivacidade da professora Amélia Pais, que retratou bem o que muitos professores são em relação ao Ministério: sempre críticos, sempre à defesa e por vezes com falhas no ataque (aquela do “recambiar” professores para o Ministério da Cultura saiu muito ao lado da baliza…)

Falou-se de muita coisa e ficou muito por dizer. Penso mesmo que se falou pouco dos alunos, das aprendizagens que devem ser conseguidas na escola, e como é evidente dos papéis que os professores têm hoje de desempenhar, que são diferentes dos de ontem (ao referir a formação de professores o António Nóvoa levantou o problema mas não o caracterizou).

Fico à espera de um novo programa para desenvolver o que foi esquecido.

Ah! Reparo que não referi os participantes sindicalistas e o representante das associações de pais. Iguais ao que costumam ser, até nas diferenças…