2005/07/21

Eficiência? Qualidade?


Lido muito mal com as esperas e fujo delas sempre que posso. Sou impaciente, é um dos meus defeitos, em relação a coisas miudinhas como essas; pelo contrário, sou capaz de ser paciente em relação a muitas outras coisas. Hoje de manhã, fervi.

Deixaram-me anteontem um aviso para levantar uma carta registada por não estar ninguém em casa à hora da passagem do carteiro. A estação dos correios da minha área, em Braga, é Maximinos – um espaço amplo, que com o novo “look” dos CTT se começa a parecer com uma livraria, dotada de oito balcões, com o novo e saudável melhoramento que é o haver controlo de chegadas por meio de senhas. Cheguei à estação seriam 8 e 25 (abre às 8 e 30) e já estava uma pequena multidão. Quando a porta abriu, um minuto depois da hora (mas enfim…) entraram antes de mim 19 pessoas – tive a senha 20.

Atrás de mim já haveria pelo menos outras tantas, de modo que o espaço, apesar de amplo, ficou bem preenchido.

Dentro de pouco tempo, deu para entender que iam ficar apenas activos três balcões: dois para o atendimento geral e um outro para fins mais específicos. Às 8 e 35 foi chamada a senha 1.

Apreciei, inicialmente com bonomia, e a pouco e pouco com irritação, o que se passava. A maior parte dos clientes (consideremo-nos clientes) tinha o mesmo problema que eu: queriam qualquer coisa que o carteiro não pudera entregar em casa. Na posse do aviso, o ou a empregada (eram dos dois géneros) levantava-se e ia procurar o objecto a que se referia o aviso. Por vezes ficava à vista de toda a gente, vasculhando em caixas cheias de sobrescritos; mas noutras desaparecia, durante largos minutos, vindo depois com um embrulho maior, ou de mãos a abanar para voltar a vasculhar nas caixas… E, num caso, não trouxe mesmo nada e esteve a explicar a uma senhora, creio eu, as razões dessa falta…

Por vezes, passavam outros funcionários, trazendo ou levando coisas, ou simplesmente passando… E perguntava-me: por que estão só dois a atender o público?

Em resumo: fui atendido às 9 e 10. O que significa que estive quarenta minutos à espera. Como nesse tempo cada funcionário deveria ter atendido dez clientes, a busca do objecto a que se referia o aviso durou 4 minutos por pessoa.

Enquanto desperdiçava o meu tempo e ficava cada vez mais impaciente, perguntava-me por que razão há tanta ineficiência naquele serviço. Não haverá maneira de ordenar os objectos postais de modo diverso, que permita uma busca rápida? Tem alguma lógica fazer o empregado do balcão andar a levantar-se constantemente? Não deveria haver balcões específicos para cartas e outro para objectos de maiores dimensões (o que, penso, já aconteceu no passado)?

Eu sei que não se pode comparar, mas não haverá nenhum inventor que queira investir num sistema que leve ao balcão os objectos, como acontece em algumas lavandarias (por exemplo nas 5-à sec, passe a publividade!), nas quais a funcionária digita um número e um sistema automático lhe apresenta, em segundos, a peça limpa?

Quando saí, havia naturalmente muito mais gente do que quando entrei. Já havia alguma contestação. Consegui manter-me calado mas decidi partilhar com os meus eventuais leitores este péssimo começo de dia.

Como se atrevem os CTT a falar em qualidade dos serviços?

As Crónicas na RUM (17)


A Rádio Universitária faz 16 anos, e desta vez vai comemorá-los com maior visibilidade do que em anos anteriores, reunindo amanhã, num jantar, os que a sustentam, com muita dedicação e também por vezes muito sacrifício, mantendo uma voz na região que é de facto escutada e representa, para a Universidade, uma área de muita valia, porventura ainda não totalmente explorada. Penso que faz bem: devemos demonstrar júbilo com as datas significativas, e 16 anos, para uma rádio local e nos difíceis tempos que correm, é uma idade bonita.

Há quatro anos que venho dando o meu contributo à RUM, esperando, como é óbvio, que ele tenha algum interesse para quem me escuta, mas também porque me dá prazer colaborar numa realização a que a nossa Universidade está ligada e que satisfaz, também, um velho amor pessoal… Desde muito novo a rádio teve para mim um certo fascínio, que nem sequer a televisão alterou. Ainda não havia televisão em Portugal e já eu colaborava em programas de rádio, isto nos anos 50, quer no Rádio Clube Português (nessa altura emitindo da Parede, uma localidade da linha de Cascais, a nível nacional) quer nos Emissores Associados de Lisboa. Eram ainda poucos os programas gravados; assim, fiz muitos directos, inclusive teatro radiofónico…

No entanto, nunca me passou pela cabeça tornar-me profissional nessa área, e a meio da Universidade, tomei a decisão de me afastar (embora em Lisboa existissem na altura emissões regulares sustentadas pelo Centro Universitário, que não era muito bem visto por estar dependente, de algum modo, da Mocidade Portuguesa).

Parabéns pois à Rádio Universitária, com votos de continuação da sua actividade e esperando que consiga maiores sinergias com as estruturas que na Universidade mais próximas estão da sua área de interesse e de acção.

Entretanto, estamos mesmo no fim do ano lectivo. Já se pensa no próximo, os caloiros que estarão entre nós em Setembro estão neste momento a proceder às suas candidaturas, e a nível da Universidade já se activou a Comissão de Recepção e Acompanhamento dos Novos Alunos, um projecto que tem ganho raízes e de ano para ano tenta encontrar os melhores meios para integrar os jovens que pela primeira vez nos procuram, ajudando-os a compreender o que é um aluno universitário nas suas vertentes diversas.

Para todos, mas em especial para os docentes, pode ser um ano especial, na medida em que se aguardam decisões fundamentais para a aplicação do chamado processo de Bolonha no nosso país. Dividem-se as opiniões acerca da bondade da decisão que foi tomada há seis anos, mas penso que para a maioria (alunos incluídos) ela representa uma oportunidade excelente para renovar o ensino superior na direcção certa.

“Cheira” pois a férias, como se costuma dizer. Porque se aproximam, estas crónicas vão ser suspensas até aos começos de Setembro. Faço votos de boas férias para todos.

Então, até lá.

2005/07/20

Há cinquenta anos – a morte de Calouste Gulbenkian


É evidente que não me recordaria da data não fora a reportagem da Pública, no domingo passado. Mas o alerta levou a minha memória a flutuar até esse longínquo ano de 1955. Recordo-me. Era o fim do meu 1º ano de aluno da Faculdade de Letras de Lisboa, e acabara de sair de uma das minhas originalidades em termos de saúde: com 19 anos, tivera um ataque de varicela que me levou a uma quarentena forçada, tanto mais que vivia na mesma casa uma sobrinha pequenina que não devia ser contagiada…Mas isso fora em Junho, bem me lembro, e em Julho estava recuperado.
Francamente, não me recordo em que momento soube da morte de Gulbenkian e dos termos do testamento. Mas recordo, muito bem, onde o tema foi discutido com colegas com os quais convivia na altura. Tinham estado comigo no Liceu D. João de Castro e estudavam Direito. E foi precisamente numa ocasião em que fora ao Campo de Santana – ou dos Mártires da Pátria – (onde se localizava a Faculdade, mesmo ao pé do Patriarcado) que o tema da morte de Gulbenkian e sobretudo do seu testamento mereceu honras de uma conversa longa. Nenhum de nós antecipou naquele momento o que viria a ser a Fundação e os benefícios que ela iria trazer para Portugal. Era apenas a morte de um homem muito rico, que vivia num lindíssimo hotel de Lisboa, o Aviz, ali perto do Saldanha, local onde passava frequentemente mas onde obviamente nunca entrara...
Procurando na Net qualquer vestígio desse hotel, encontrei-o aqui e achei curioso divulgá-lo . De Calouste Gulbenkian, existe hoje, para além da memória, a Fundação que o seu legado permitiu sediar no país onde viveu os últimos tempos e que foi, durante muitos anos, o oásis para a arte, a ciência, enfim, em termos gerais a cultura, neste país cheio de deficits nessas áreas. E que, curiosamente, foi alvo, há dias, de uma certa interrogação sobre a sua gestão, ao encerrar as actividades do Ballet que tinha o seu nome e existia há quarenta anos…

2005/07/19

Um artigo que pode ajudar…


O Professor Valadares Tavares, que já teve responsabilidades no Ministério da Educação e tem tido intervenções lúcidas nessa área, publica hoje um artigo no Público, infelizmente não disponível on-line, intitulado “Melhor Ensino da Matemática”. Em época de mais uma vez se carpirem mágoas por sermos tão mauzinhos a trabalhar com números, a disparando em todas as direcções para matar os culpados – professores, alunos, pais, manuais, Ministério, etc. – Valadares Tavares vem dizer simplesmente que, de acordo com um estudo levado a efeito pela SEDES em 20 escolas que mais melhoraram as médias em matemática de um para o outro ano, pôde concluir-se que tal foi possível pelas seguintes razões (aqui, transcrevo):

“ a) Projecto de escola e vontade colectiva de melhorar e ir mais longe, contagiando professores e alunos em clima de dedicação e exigência;b) estabilidade do corpo docente (mas não necessariamente pequeno número de alunos por turma);c) trabalho em equipa dos professores de Matemática, envolvendo outras áreas como a da Física;d) Acessibilidade e proximidade dos professores em relação a cada aluno, evitando o modelo do professor que apenas surge como uma "aparição" sempre que há aula;e) Aulas complementares e tempos de apoio;f) Envolvimento dos alunos no clima de desafio (e, por vezes, de competição entre turmas) para atingir melhores resultados;g) Melhor utilização dos instrumentos de informática”.

Tão simples. E, nas suas linhas gerais, tão verdadeiro para todo o currículo escolar. Quando as escolas querem, como um todo, cumprir o papel para que foram criadas, conseguem. Na Matemática e no resto.

A terminar, duas notas cautelares: a primeira, a estabilidade dos professores não está, ainda, na mão das escolas; a segunda, para quem sabe que advogo a aprendizagem cooperativa, ela não é incompatível com uma competitividade moderada. Para que não se diga que me contradigo…

2005/07/18

Reflectindo


Mesmo as pessoas mais optimistas, e eu sou optimista (talvez demasiadamente) têm momentos em que devem reflectir. Por várias razões, nestes últimos dias uma série de factos, encadeados com primor, retiraram-me parte do optimismo e levaram-me a reflectir. O que se passa no meu pequeno mundo (que nem é tão pequeno como isso…) e o que se passa no “mundo” de todos nós (literalmente: mundo e país) não constitui motivo para sentir felicidade. Depois de ver como trabalham a inveja e a calúnia no meio académico, como friamente começamos a aceitar o terrorismo suicida, como assistimos sem pestanejar a declarações de polícias que declaram ir actuar como delinquentes, ou quando lemos as prosas sempre muito argutas mas demolidoras de Vasco Pulido Valente e António Barreto, agora discutindo sobre as elites (ah! Como pode Portugal ter elites?!), que optimismo resiste? Mas passada uma noite mais bem dormida, com menos calor, e depois de ter recebido uma pequena alegria vinda dos meus amigos norte-americanos, acordei menos acabrunhado. Percebi que nestes dias nem quase para a blogosfera olhara, nem para ela contribuíra. Não, não quero deixar de ser optimista: e decidi declará-lo aqui, neste espaço que é memória do passado mas pode ser, também, memória futura.