2009/05/07

O exemplo do granito

Estimulado pelas visitas (Saltapocinhas, PJ), recordei os primeiros tempos deste blog, em que mantive diálogos interessantes e proveitosos (penso eu), e senti quase uma necessidade não só de responder mas de precisar o que escrevi no meu último post.
É para mim evidente que o que aprendi nas escolas que frequentei, há mais de meio século, não pode ser exactamente o mesmo que aprendem as crianças e adolescentes hoje. Mais: as aprendizagens são diferentes. Tomemos como exemplo o granito. Não faço ideia o que na escola primária (era assim que se dizia na altura) me foi dito, ou se foi dito, sobre essa rocha. Mas recordo-me que no meu 1º ano do liceu (actual 5º ano), numa disciplina que se intitulava Ciências Geográfico-Naturais, o professor nos ter orientado numa colecção de rochas e minerais, onde se incluíram, claro está, o granito e os seus componentes. Lembro-me de ter uma caixa com divisórias onde guardava, com identificação, o fragmento correspondente. Infelizmente não me lembro como conseguíamos nós, em Lisboa, obter esses materiais, mas creio que existiu mesmo um movimento de trocas entre os 43 (!) alunos da turma. Mais tarde, já no 4º ano, creio, voltei a ter Geologia e Mineralogia, mas nessa altura já eu “sabia” o que era o granito e quais os minerais que o compunham. E nunca mais esqueci, porque aprendera da maneira correcta – vendo, mexendo, experimentando. Assim, na minha memória jamais de apagou esse saber, como muitos outros.
Pode perguntar-se: é importante saber que minerais constituem o granito? É isso mais importante do que saber onde está sepultado D. Afonso Henriques? Ou quem foi Guilhermina Suggia? Ou nada disso é importante? Estamos no fundo no centro do problema que constitui a definição dos currículos: o que é que vale a pena aprender?
Hoje, pode aprender-se muito mais do que no passado, graças às fontes de informação que estão disponíveis, mas a escola tem de intervir junto dos seus alunos para que eles possam tirar todo o partido dessas fontes. Talvez seja possível, em vez de ter uma colecção de rochas e minerais “a sério”, ter uma colecção virtual; os efeitos não serão rigorosamente os mesmos, mas semelhantes.
Compreendo que os jovens de hoje saibam coisas diferentes daquelas que eu sabia quando era da sua idade. Mas continua a fazer-me impressão que haja tantas falhas de conhecimento de coisas que em rigor deveriam ser banais.

2009/05/06

Valha-nos... sei lá quem ou o quê! (2)

Isto de ter tempo livre leva a que se veja mais televisão. Não costumo ver muito os concursos, mas de vez em quando, lá espreito. O actual, na RTP1, como o anterior, faz perguntas de cultura mais ou menos geral. Para algumas delas não faço a mínima ideia da resposta certa, e às vezes admiro-me como os concorrentes as sabem. Outras questões relevam, porém, de aprendizagens que a escola deve ter proporcionado. E aí, tem-me horrorizado a ignorância dos concorrentes, sendo que alguns até se apresentam como estudantes de mestrado (e disseram-me que mesmo um dizia que estava a fazer um doutoramento numa área em que não soube uma das perguntas!). É admissível um jovem escolarizado não saber o que é um anemómetro ou que o granito é composto por quartzo, feldspato e mica?
Eu sei que o que está em causa é complicado de discutir, e eu próprio, desde há muitos anos, tenho defendido que é necessário ter em atenção que os saberes actuais que a escola proporciona não podem ser iguais aos que proporcionava há cinquenta anos atrás. Percebo perfeitamente que os jovens de hoje "saibam" coisas diferentes, que aprendam de maneira diferente, mas isso não pode constituir desculpa para a ignorância dos concorrentes que se espelha nestes concursos.
Há aqui matéria para reflexão - sobretudo agora que (parece) vamos ter os 12 anos de escolaridade obrigatória...

2009/05/04

Valha-nos... sei lá quem ou o quê!

Hoje, 4 de Maio, perto das 18 horas. Vagueio pelos canais da televisão e num deles - deixemo-nos de coisas, a RTPN - num dos inenarráveis programas de Antena Aberta, o moderador de serviço, pretendendo desculpar-se da questão levantada, diz que Manuela Ferreira Leite e Jorge Sampaio, que de algum modo admitiram a possibilidade do Bloco Central, não são duas "pessoas quaisqueres"... Logo a seguir, o convidado, a propósito de qualquer coisa que nem recordo, diz que "isso tem a haver com..." É demais!