ENTENDO
AS DIFICULDADES, MAS…
Desde o verão que não comento o que está acontecendo no campo
da educação. É muito complicado ter de tomar decisões quando se enfrenta a
incerteza e existem pressões várias em direcções opostas. Mas a situação em que
a pandemia colocou o sector, e que num primeiro momento até foi relativamente
bem resolvida, tem agora um outro desenvolvimento e importa reflectir sobre
ele.
Praticamente em todo o mundo a Covid-19 fechou escolas e
ensaiaram-se modelos de ensino a distância. Seria espantoso que de um momento
para o outro tudo funcionasse muito bem. Centrando-nos no caso português, apesar
de há mais de trinta anos os nossos professores estarem familiarizados com as
tecnologias de comunicação e de existirem centros onde se têm desenvolvido
experiências importantes, não se poderia esperar que, como num acto de mágica,
todas as escolas e todos os professores dessem a resposta adequada ao desafio
lançado. E temos de acrescentar a falta de computadores, quer nas escolas, quer
em muitos alunos, e os problemas da rede. E muitos outros – dos quais, porque
muito debatido, avulta o problema dos alunos mais carenciados, que continuariam
a ver agravadas as desigualdades em relação aos colegas mais protegidos.
As promessas explícitas de Abril de 2020 de fornecimento de
equipamentos para ao alunos e de condições de acesso favoráveis à rede de alto
desempenho para este ano lectivo foram feitas em vão. Lamentavelmente. Eu
entendo as dificuldades, mas…
Disse na altura que não perdoaria ao Primeiro Ministro se
falhasse esse objectivo. Isto porque eu pensava que, numa previsão de
continuidade da pandemia no novo ano lectivo, o Ministério da Educação
desenvolvesse um plano, no qual as escolas e professores teriam certamente um
papel central, com duas ou mais alternativas, claramente enunciadas, em que o
ensino a distância, não como substituto do ensino presencial mas como seu
adjuvante, fosse contemplado. Respeitando a autonomia e a flexibilidade
curricular desejadas e que neste caso se justificariam redobradamente.
Foi com perplexidade que percebi que tal plano não existia. A
insistência em manter as escolas abertas quando parecia que tal estava a
contribuir para piorar a pandemia avolumou a minha suspeita. Ninguém defende
que o ensino a distância seja mais eficaz do que o presencial, em especial nas
primeiras idades. Mas ignorar as suas virtualidades se integrado num plano
adequado parece-me desajustado.
E agora? Vamos ver como corre esta segunda fase. Será que
dela se poderá partir para um repensar de uma escola diferente?
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