The past is malleable and flexible, changing as our recollection interprets and re-explains what has happened.... Peter Berger
2005/11/05
2005/11/03
Finalmente, a chuva!
Tenho para mim que devem ser poucas as pessoas que, apesar dos incómodos que a chuva abundante tem trazido ao nosso dia a dia, não estejam satisfeitas por a “mãe natureza” decidir compensar-nos pela seca que nos fez sofrer.
Eu gosto da chuva – aliás, gosto genericamente do Inverno; o tempo quente deprime-me, reajo mal ao calor, enquanto que o frio me estimula. Claro que tudo o que é exagerado cansa… Recordo-me que nos anos que passei nos Açores, na bela ilha do Faial, houve alturas em que já não suportava o tempo chuvoso (mas não frio), dias e dias a fio. Nessas alturas, um dia de sol sem nuvens, uma raridade, era um dia de alegria. Mas chuva a sério, que começa sem se perceber que vai acontecer e cai em cordas de água que magoam se nos expomos, só a experimentei em São Tomé. São chuvadas curtas, e o calor é tanto que minutos depois o chão está seco…
Que continue a chover, que este Inverno seja de facto Inverno…
2005/11/01
Memórias recentes de uma viagem (2)
Quando vivi permanentemente nos Estados Unidos não fui assinante das redes de televisão por cabo. De início, não havia muito dinheiro para entrar em despesas supérfluas, depois, quando vivi numa residência da Universidade, ela própria dispensava um pacote, mas muito reduzido, de algumas estações que não estavam disponíveis em canal aberto. Só quando viajei e fiquei em hotéis, tive da televisão por cabo dos EUA uma visão mais completa.
Nos primeiros dias verifiquei que, neste estado do Sul, com forte influência da língua espanhola, existem vários canais que emitem mesmo em Espanhol ou “dobrando” em espanhol os seus programas. A influência do espanhol é aqui muito nítida, e os norte-americanos estão a levá-la muito a sério.
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Sempre apreciei nos norte-americanos a cordialidade com que (normalmente) tratam os estrangeiros. Um dia travei conhecimento com um senhor idoso (provavelmente mais idoso do que eu…) que estava a fazer o papel de controlador dos autocarros que transportam pessoas do “resort” para as diferentes zonas da Disneyland. Estava interessado em saber como se podia ir para a cidade e não para a Disneyland, e ele explicou-me tintim por tintim como fazer. Foram cinco minutos de conversa agradável. Mais tarde, cruzei-me com ele numa das áleas do parque: cumprimentou-me efusivamente, o que fiz igualmente. Esta é a América de que gosto.
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A viagem termina atribuladamente… O furacão Wilma não chegou antes de eu partir, mas teve a antecedê-lo mau tempo. Por isso, no dia 22, sábado, estava já no aeroporto, a escassa meia hora de partir rumo a Detroit, onde tinha uma ligação com tempo aceitável para Amesterdão, quando desabou uma tempestade (chuva e trovoada) que paralisou o aeroporto por quase uma hora. Foi pois com preocupação que fiz a viagem, sempre a pensar se chegaria a tempo. E cheguei: o avião atrasou de propósito dez minutos para permitir aos passageiros em trânsito (eu não era o único) seguir viagem. Este troço – Detroit-Amesterdão – considerava uma espera de mais de duas horas para a ligação para o Porto. Mas o inesperado aconteceu. Um pouco depois de metade da viagem feita (cerca de 8 horas de voo), somos informados pelo comandante que devido a uma emergência médica íamos aterrar em Dublin (Shannon). Mais tarde foi dada a informação completa: uma senhora teve um ataque cardíaco, não havia médicos a bordo, e uma enfermeira que viajava achou que esperar mais duas horas e meia seria perigoso. A escala foi demorada, por causa da burocracia, e como consequência perdi o enlace para o Porto por dois minutos (!). Resultado: estive sete horas e tal no aeroporto à espera de transporte, ainda por cima não directo (fiz Amesterdão-Lisboa-Porto). Em resumo: estive 38 horas sem ir à cama e praticamente sem dormir…
2005/10/31
Memórias recentes de uma viagem (1)
Retomando (espero) uma maior assiduidade, aqui ficam alguns flashes da minha viagem a Orlando para a memória recente…
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Aeroporto de Schipoll, Amesterdão. Chego razoavelmente folgado em tempo para apanhar a ligação para Detroit, mas decido ir para a porta de embarque. À entrada, travo diálogo com uma funcionária da KLM, antes de me decidir entrar. Em inglês, claro. Quando me pede o cartão de embarque, exclama: “Freitas! Ora então é português!” É sempre agradável encontrar um compatriota. Bom, na sua tarefa de procurar evitar ataques terroristas, decidiu fazer-me (certamente) as mesmas perguntas que lhe dizem dever fazer a quem quer que seja, o que é justo. Mas não pude deixar de ficar espantado com este diálogo: “Sr. Freitas, foi o senhor que arrumou a sua bagagem?” “Eu arrumei a pasta, a mala foi a minha Mulher que a fez” “Sozinha?” “Bom, às vezes dei palpites…” “Quer dizer que não esteve junto dela todo o tempo que arrumou a mala?” Nesse momento devo ter feito uma cara feia e perdi um pouco o tom amigável. “Que pergunta! Teria de estar?” Não obtive resposta – felizmente… Independentemente de tudo mais, qual a utilidade dessas perguntas?
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Uma pessoa esquece pormenores. Por isso a primeira reacção foi de espanto, mas nem cheguei a fazer a pergunta… Quando no aeroporto de Detroit comprei uma escova de dentes (lembrei-me que me tinha esquecido de a trazer) tinha visto o preço ($1.69) e por isso, por um momento, fiquei perplexo quando no quadro da registadora apareceu $1.79. Mas lembrei-me logo a seguir: a “sales tax”! ou seja, o imposto estadual sobre as vendas, que é sempre adicionado aos preços marcados e varia de Estado para Estado. Aqui, como se vê, é 6%. Mas lembro-me que há dois anos, na Califórnia, era mais de 10%!
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Sempre me impressionou, nos Estados Unidos, o número de pessoas gordas com quem cruzamos em toda a parte. Não só gordas, nem muito gordas, mas sim GORDÍSSIMAS! Em Iowa, quando durante algum tempo viajava de autocarro para a Universidade, havia uma rapariga tão gorda que quando entrava no autocarro ele dava de si, e baloiçava visivelmente. Volto a vê-las neste regresso. É que não é uma por acaso; então, nos aeroportos, em que passam continuamente pessoas, de vez em quando aí está um obeso. Fruto sem dúvida de uma alimentação desequilibrada – mas não pode ser só isso.
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Como no ano passado não entrei nos Estados Unidos, ainda não tinha passado por aquela experiência um pouco desagradável de ter de deixar as impressões digitais e ser fotografado quando se passa pela emigração… Devo dizer que o serviço foi rápido e até simpático por parte do atendedor, mas mesmo assim senti-me quase como se fosse presidiário… Já a mesma simpatia não a demonstrou um polícia que, quando telefonava para a minha Mulher a dizer que chegara a Detroit, me disse desabridamente para desligar porque não podia fazer telefonemas (estava na zona de recolhe de bagagens!). Nem tive tempo de manifestar espanto, porque mal desliguei, ele voltou-me as costas. E o melhor, nestes casos, é não querer entender…
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