2005/05/01

Memórias do Primeiro de Maio

Até 1974

Um dia como os outros.

O de 1974

Algo que é difícil descrever. Um dia impressionante, a terminar uma semana riquíssima de emoções. Não era um dia para ficar em casa: toda a gente (bem: quase toda…) foi para a rua. Os nossos passos, seguindo já um rasto de manifestantes, encaminharam-nos do Campo Pequeno para a Alameda D. Afonso Henriques. Na Praça de Londres encontro a minha professora de História do D. João de Castro, Lucília Estanco. Um ar de felicidade na maneira como me reconheceu – largos anos depois, agora que era seu colega… Do cimo da Alameda, que mar de gente! Parecia que todos nos conhecíamos, que todos éramos amigos. E talvez naquele momento fôssemos – mas as cumplicidades iam acabar depressa, nesse mesmo dia, noutro cenário. Cravos, bandeiras, palavras de ordem, gargalhadas – e, repito a ideia, um ar de felicidade incontida. Muitos fotógrafos também. Um dia diferente de todos os que vivi – e somente no dia da queda do muro de Berlim, nos directos que me chegavam pelas televisão, encontrei um paralelo. Quando chegámos a casa estávamos cansados mas, de facto, felizes. Afinal, Portugal não era mais um país amordaçado.

Os de 1975 e 1976

A velha questão de não se acreditar em bruxas, mas que as há…

No dia 1 de Maio de 1975, depois de uma volta pela cidade de Lisboa, descíamos à noite a Almirante Reis no meu Volkswagen 1300 e tive de parar num sinal vermelho. Parei lentamente, tinha-o visto a tempo. Dois segundo depois, alguma coisa choca violentamente com o carro. Felizmente tinha o travão de mão. Que acontecera? Um motociclo, conduzido por um homem ainda novo, tinha esbarrado contra a traseira do carro e jazia no chão, sem dúvida ferido mas consciente. Vi de imediato que estava embriagado e muito. Como é óbvio juntaram-se populares, e achou-se que o melhor levá-lo ao Hospital de S. José, mesmo ali perto. Foram umas duas horas de inquietação, até se perceber que o senhor não tinha nada de grave (nem sequer seguro…). Resolvidas as questões policiais – muito fáceis, dadas as circunstâncias, regressámos a casa. Consequência: paguei do meu bolso o arranjo… nada barato, lembro-me.

No dia 1 de Maio de 1976, estava em casa, à noite, a ver televisão, quando oiço na rua um estrondo de chapa batida. Fui à varanda, e que vejo? O meu Volkswagen que estava estacionado à porta de casa tinha sido abalroado por outro carro que não desfizera certamente uma pequena curva anterior. Desci logo (morava num 7º andar) a tempo de ter uma conversa com os homens (eram quatro). Não quero jurar mas penso que também havia ali álcool a mais. Mas houve, no entanto, sensatez: de imediato deram-me todos os elementos para que o seguro pagasse os estragos (bem maiores do que os do ano anterior) e por isso o prejuízo foi ter de estar mais de uma semana sem carro…

Mas, francamente! Em dois Primeiros de Maio seguidos, ter sofrido acidentes com o mesmo automóvel, mesmo sem sair de casa… A história das bruxas, hein?

Os outros Primeiros de Maio

Têm sido feriados simpáticos. E também desanimadores quando se pensa no de 1974. Talvez por só muito tarde me ter apercebido do que o 1º de Maio significa para quem trabalha nunca foi um daqueles feriados a que atribuo um valor simbólico grande.

O deste ano

É um domingo – mau dia para um feriado… Mas é também o dia da Mãe. Para mim, o dia da Mãe era a 8 de Dezembro… Enfim, acertos de calendários!

2 comentários:

saltapocinhas disse...

Espero que ninguém te tenha batido no carro!! (são 22 horas, ainda faltam 2 para o dia acabar!) lagarto, lagarto!
Para mim o dia da mãe tb deveria ser a 8 de dezembro para, pelo menos, ter alguma lógica sem ser a consumista...

Cândido M. Varela de Freitas disse...

Desta vez escapei à maldição! E até acabei por "circular", tirando o carro da garagem (aí, pelo menos choque não haveria...)