2005/05/06

As crónicas na RUM (6)


Em novo dia, mantendo porém o horário habitual, renovo este agradável compromisso semanal de conversar com os ouvintes que sintonizem a Rádio Universitária do Minho.

As medidas anunciadas pela Ministra da Educação em relação à escola básica tornaram efervescente o meio educativo. Professores, Sindicatos, Associações de Pais, Presidentes de Câmaras Municipais, não deixaram de comentar, com maior ou menor sentido crítico, a extensão do horário por mais duas horas e trinta e o facto de ser a Matemática a disciplina escolhida para programas de formação contínua. Como de costume, os Sindicatos não gostaram de não ter sido ouvidos previamente.

Devo dizer que teoricamente as medidas anunciadas são positivas e só estranho que haja alguém que não concorde com elas. A transposição dessas medidas para a prática é que constitui um problema, e sem saber quais as soluções que virão a ser tomadas tudo o que possamos dizer, de bem ou de mal, é prematuro.

Mas podemos, logicamente, especular cenários e tecer considerações sobre o que está em causa. Comecemos pela extensão do horário escolar. Como se sabe, há ainda muitas escolas que funcionam em regime de desdobramento. Temos de presumir que se há desdobramento é porque a capacidade da escola não é suficiente para albergar todas as crianças. Será possível encontrar, em poucos meses, uma solução aceitável para que todos os alunos possam estar na escola das 9 às 17 e 30?

E os professores? A quantas horas lectivas vão ser obrigados? Os professores do 1º ciclo, tal como os educadores de infância, já têm mais carga lectiva do que os seus outros colegas. Podem existir soluções para isto, claro, mas há um ponto que não posso deixar de referir. Toda a investigação feita sobre reformas e mudança nas escolas aponta para um adquirido comum: só são bem sucedidas se os professores as apoiarem, e eles só as apoiarão se as compreenderem, se lhes descobrirem benefícios. Repare-se que digo professores e não Sindicatos. Os Sindicatos são estruturas importantes no que concerne aos direitos e deveres dos professores, não em relação aos problemas pedagógicos. Para esses, são os professores e não quem os representa que podem e devem decidir. Como procederá o Ministério para ganhar para estes princípios de mudança que, repito, são teoricamente correctos, mas de implantação prática complexa, os professores do 1º ciclo do ensino básico?

Um outro aspecto, o da incidência na Matemática, em também de ser burilado: uma solução estandardizada não me parece aconselhável, nem para alunos nem para professores. As escolas não são oficinas para fabrico de peças iguais, são oficinas para promover o desenvolvimento de seres humanos, todos diferentes mas potencialmente capazes de aprender.

Como se vê, estou expectante em relação às acções futuras da Ministra (e do seu Ministério), com um misto de aprovação e de preocupação. É preciso que o governo, com a sua maioria absoluta, governe bem, e para governar bem tem de ter consigo os governados.

Até para a semana.

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