2005/05/21

A galeria dos meus professores (4)


Um grupo de alunos (não só dos da minha turma) do Liceu
D. João de Castro (1954). O professor de boina basca era Túlio Tomáz.

Os anos lectivos de 1952-1953 e 1953-1954 passei-os no Liceu D. João de Castro, no Alto de Santo Amaro, em Lisboa, matriculado na alínea d) dos então 6º e 7º anos. A alínea d) era a que permitia o acesso ao curso de Ciências Histórico-Filosóficas das Faculdades de Letras, e só um liceu em Lisboa a oferecia. Vejam só: há cinquenta anos havia apenas 10 estudantes que queriam seguir esse curso! Éramos quatro rapazes e seis raparigas. Sim, porque nesse ano, e pela primeira vez em Liceu de Lisboa, o D. João de Castro foi considerado misto – o que, devo convir, foi considerado um prémio para quem lá se inscreveu… Antes mesmo de falar dos meus professores devo fazer uma referência aos meus/minhas colegas. Constituímos turmas excelentes, sobretudo no 6º ano. Além da alínea d) tinha colegas da e) – Direito. Éramos, se não erro, vinte e oito ao todo, e o nosso desempenho foi tão bom que em todos os períodos não houve uma nota negativa!

Tenho, da totalidade dos professores, uma excelente recordação. Habituaram-nos a trabalhar tendo em vista a necessidade de sermos mais independentes na Faculdade, e mesmo os que eram mais “clássicos” na sua docência eram competentes. Recordo em particular o professor de Literatura Portuguesa, o Dr. Almeida Lucas, que tinha connosco uma relação de enorme empatia; com ele reforcei o meu gosto pela escrita, ou melhor, pela leitura e pela escrita. Julgo que aprendi a estudar nesses dois anos. Antes, valia-me de uma excelente memória; desde então organizei-me e não tenho dúvida que isso foi devido à ajuda dos meus professores de então. As disciplinas que estudei nesses dois anos foram Português, Latim, Grego, História, Filosofia, e aquela célebre OPAN (Organização Política e Administrativa da Nação), que teve direito a ser a primeira disciplina a ser abolida depois do 25 de Abril. Era um belo conjunto, culturalmente apelativo, que ajudou a formar o meu pensamento em relação a pontos importantes. Deixo aqui os nomes de todos os meus professores, para além do já referido: Manuela Palma Carlos Laranjo (Latim), Maria do Carmo Lemos (Grego) Ana Maria Leal e Maria Lucília Estanco (História, 6º e 7º anos), José Nunes Pardal (Filosofia e OPAN, sendo que em OPAN ainda tive mais dois professores, Ruben Leitão – o conhecido escritor – e Manuel Lopes da Silva). Todos de grande qualidade, profissionais exigentes para si e estimulando a exigência nos alunos.

Uma curiosidade: não tendo sido meu professor, leccionou nessa altura no D. João de Castro o Augusto Abelaira. Também aí conheci, não tendo sido seu aluno, o Dr. Túlio Tomáz, que viria a ser um bom amigo anos mais tarde, quando era inspector do ensino liceal, uma personalidade riquíssima a quem também devo muito.

Bons tempos, esses! Parei um momento – a memória fez contas… Dos vinte e oito alunos da turma do 6º ano (porque no 7º houve uma recomposição e os dez de História juntaram-se a alunos que iam para as filologias, românica e germânica) conto 5 que chegaram a professores catedráticos e ainda um a Ministro e outro a Secretário de Estado. Vale o que vale, mas dá cor minha memória…

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