Recebo semanalmente o Correio da Educação, da ASA, no qual muito esporadicamente colaboro. Nesta sexta-feira deparei com uma coluna assinada por Joaquim Azevedo, intitulada “Chafurdar na lama”. Uma vez que o Correio da Educação não está disponível on line, mas porque tenho a certeza que os meus amigos Matias Alves e Joaquim Azevedo não se importam, quero divulgar aqui esse pequeno excelente texto, que subscrevo totalmente,
Chafurdar na lama
Joaquim Azevedo
Cito: os jovens “chegam à universidade quase analfabetos e saem de lá pouco melhor do que entraram”; há “uma massa estudantil inteiramente desinteressada em aprender e unicamente apostada em passar”, não percebem o que ouvem e menos ainda o que lêem. O Secundário é “um imenso recreio que, por seu turno, já prolongava o jardim infantil em que se converteu o Ensino Básico”. Os jovens aprendem que “aprender pode e deve ser tão lúdico como jogar à bola na praia ou saltar à corda nos intervalos.” As matérias têm de ser “ensinadas de maneira que não se dê por ela e aprendidas de maneira que não dê trabalho.” (palavras de Fátima Bonifácio, em artigo no Público, a I5 de Agosto de 2004).
Afirmações leves e descabeladas como estas têm saltado para os media e lá vão fazendo o seu caminho. São “explicações” que valem mais pelo jeito que dão do que pela veracidade que contêm. Neste caso, à falta de melhor justificação para o “desastre” da educação pública, vendem-se e compram-se “explicações” bombásticas, típicas da sociedade do espectáculo em que vivemos. Pena é quando aos que as vendem se juntam doutorados em ciências sociais das nossas universidades!
Basta conhecer um pouco o que se passa realmente nas nossas escolas (e não na fantasia destes vendilhões de gracinhas) para saber que o Secundário é tudo menos um imenso recreio, que o nível educativo cresceu imenso nos últimos trinta anos, que hoje se lê muito mais do que alguma vez se leu em Portugal, que muitos milhares de alunos trabalham imenso e alcançam bons níveis de aprendizagem e que muitos milhares de professores se dedicam e com bons resultados. Não vamos a lado nenhum ridicularizando quem tanto trabalha, alcançando bons resultados.
Existem também, de tacto, inúmeros problemas no nosso sistema educativo e resultados bastante medíocres. Mas é preciso delimitá-los, analisá-los e combatê-los eficazmente. Pode haver grandes melhorias e já. Mas não é isso que interessa. Chafurdar na lama dá muito mais gozo a alguns compatriotas!
Ontem, no Expresso, veio o contraponto. Guilherme Valente, membro do Conselho Nacional de Educação (!) nomeado pelo Governo, ligado à Gradiva (aliás qualifica-se como editor) publica mais um dos seus artigos sobre educação (“Para que serve a escola”). Não me dou ao trabalho de o digitalizar, penso que a maior parte dos meus leitores lê o Expresso. Apenas pergunto como pode um indivíduo como ele permanecer no Conselho Nacional de Educação se pensa que existe “um domínio dos ‘ideólogos’, dos ‘pedagogos’ que infectam (sic) todo o sistema educativo a partir de muitos cursos superiores de educação, públicos e privados, nas universidades e politécnicos”?
Não escrevo a resposta que está na ponta dos meus dedos para não ser acusado de descer ao nível do editor, mas vontade não me falta…
4 comentários:
Não tem qualificação. De facto, é inqualificável...
Guilherme Valente é, de facto, desde há muitos anos, um guerrilheiro contra o que pensa ser a influência perniciosa das Ciências da Educação em Portugal. Não sei se tiveram a oportunidade de ler um livro publicado na Gradiva intitulado A Pedagogia da Avestruz: Testemunho de um Professor, de Gabriel Mithá Ribeiro. Só a Gradiva poderia ter publicado este livro.
PJ
Pois eu, contrariamente aos comentadores que me antecederam estou de acordo no essencial com o que dizem Fátima Bonifácio e Guilherme Valente. Bom seria que aqueles que tanto defendem o "eduquês" se deslocassem, por exemplo, a uma das escolas dos bairros degradados de Lisboa e Porto e aí permanecerem durante um ano lectivo, para deixarem de falar de cátedra e viverem na pele o que muitos de nós professores vivemos. É muito fácil mandar bitaites sobre realidades que desconhecem.
A Karadas
Não penso que a situação das escolas que refere (e que creio são conhecidas de todos, senão por vivência própria, pelos testemunhos que sobre elas existem) tenha que ver com aquilo a que chama "eduquês". A escola não pode, por si só, resolver problemas sociais complicados, e julgo que é a esses que se refere. De qualquer modo, sendo professor - como se depreende - que culpas assaca aos colegas que investigam e teorizam sobre educação? Se o que dizem não o sstisfaz, que metodologias adoptaria?
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