Do meu Diário de Estágio...
Faz hoje quarenta anos estava na véspera do “grande dia”. O grande dia, como já disse há uns tempos, era o de “dar” a minha lição de Exame de Estado. Desde que prestara as provas de “cultura” (a que me referi em post anterior) que aguardava a marcação da data, a qual só foi conhecida uns dias antes. Nesse 27 de Maio de 1965 fui, pelas 9 horas, à Biblioteca do Liceu D. João III, e na presença dos dois metodólogos, eu e os meus dois colegas fomos convidados (não me recordo por que ordem) a tirar um papelinho dobrado em quatro de dentro de uma redoma.
O meu papelinho (gravura) ditou a minha sorte: “4º A, História”. Isto significava que eu tinha de ir à procura do livro de ponto da turma A do 4º ano (actual 8º), ver qual a última rubrica do programa que tinha sido dada, e depois, preparar a aula sequente. Nunca tinha contactado com aquela turma – não era turma de estágio – e nem sabia quem era o professor que dava História. Aguardei pelo intervalo, falei com a professora (não tenho o nome dela nos meus registos…), soube o ponto do programa que devia abordar, e pedi-lhe algumas indicações sobre os alunos, quem eram os mais participativos… Obtive dela uma planta da sala com os nomes dos alunos. Depois, fui à sala e pedi ao colega que lá estava se no fim me podia dispensar uns minutos para eu falar com os alunos. Queria pô-los de sobreaviso para não estranharem a minha presença no dia seguinte. De uma maneira geral estavam preparados para essa contingência, num Liceu com estágio este tipo de coisas acontecia com naturalidade. Gostei da turma, teria uns trinta e oito alunos (era muito frequente naquele tempo, turmas com esta dimensão), mas eram vivos, e prometeram ajudar-me. Depois… bem, depois, fui para casa pensar no plano da aula, que tinha o seguinte tópico que podem ver na gravura.
Conservo, nos meus papeis, o rascunho do plano de lição que tinha de entregar, antes da aula, aos metodólogos. Tinha nessa altura uma máquina de escrever portátil, uma Hermes Baby. Não havia ainda fotocopiadoras (se havia, no Liceu eram desconhecidas) e por isso, para fazer cópias, usava papel muito fino para que as letras obtidas à custa do papel químico se conhecessem… Só que, por isso, não fiquei com nenhuma para mim. Lembro-me de à tarde ainda ir procurar uns textos à Biblioteca e de, depois de jantar, ter decidido prescindir de ver, no Café, a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus entre o Inter de Milão e o Benfica, receoso de esse tempo me vir a fazer falta. Hoje, a quarenta anos de distância, só não acho que fui tolo porque o Benfica perdeu (1-0) e foi melhor saber de chofre, no outro dia, do que ir sofrendo ao longo de 90 minutos…
De qualquer modo, devo ter dormido bem. Estava contente com o plano; estava de acordo com a metodologia seguida, que na altura era fundamentalmente interrogativa-expositiva, com recurso a documentos (textos, gravuras, diapositivos). Tinha confiança em ter assimilado bem a arquitectura da lição; só esperava ser calmo como de costume.
Amanhã, o dia em que fará 40 anos que dei a minha aula, escreverei sobre ela.
1 comentário:
Estou à espera que saiam as fotocópias...só reparei que tinha uma caligrafia LINDA! No recreio venho ler o resto...tenho os miudos à espera do teste! Tadinhos!
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