Nos meus tempos de escola primária (designação que desapareceu sem se perceber muito bem porquê) tive três professores. Da 1ª à 3ª classe o meu professor na Escola Conde de Ferreira foi o professor Rita. Era um homem baixote e gorducho, quase calvo, sempre de bata branca, mas que apesar de não ter uma figura imponente geria bem a sua sala de aula. Recordo-me que ele morava no edifício da escola e tinha uma filha chamada Júlia, mais ou menos da minha idade. No final da 3ª classe foi colocado em Lisboa e por isso mudei de professor – e de género: na 4ª classe tive uma professora, a D. Filipina, uma mulher jovem, enorme (talvez esteja a exagerar, mas era forte, de facto). Já nessa altura ela não morava no Seixal, ia e vinha todos os dias de Lisboa. A escola ficava perto do cais de embarque, de modo que alguns de nós íamos esperá-la ao barco e fazíamos depois cortejo até à escola.
Que posso dizer das capacidades pedagógicas de ambos?
Como disse no post anterior, quando entrei na escola já sabia ler, e mais, gostava de ler, e isso deve ter-me auxiliado e de que maneira. Tenho a ideia de serem os dois professores ”à antiga”, ou seja, exigindo muita coisa de cor, e como eu tinha boa memória e lia muito não me afligia.
Só me lembro de uma vez o professor Rita ter tido uma fúria quando eu esborratei uma flor muito bem desenhada (tinha jeito para desenho, mas não tinha paciência para com o lápis de cor!): disse-me das boas. Da D. Filipina não me lembro de alguma vez se zangar, aliás ela gostava muito de mim (é verdade, seria estranho se o não dissesse).
Mas eu disse três professores. Quem foi o terceiro? Ora bem, nessa altura havia a mania de, tendo em vista o exame de admissão aos liceus – ou às escolas técnicas – pôr os meninos em “explicações” particulares… Por isso, a partir de uma dada altura, passei a, depois das aulas (que acabavam às três e meia ou quatro horas, não sei bem), ir a casa de um outro professor na vila, o professor Ventura. Era também um homem forte (foi uma tendência!), e gostei bastante da forma como recapitulava comigo o que se entendia eu deveria saber. Sentava-se a meu lado e fazia perguntas, e explicava para lá do que eu sabia. De algum modo, creio que apesar de eu ser bom aluno ele me deu algo mais. A esta distância eu diria que ele se apercebeu que podia ser uma espécie de tutor mais do que explicador, porque eu não precisaria de explicações, mas sim de desenvolvimento.
Nesses meses, eu tinha escola de manhã à noite. E sabem? Só me fez bem.
Não tenho pois más recordações das minhas escolas na primária. Contudo, se eu me dei bem, recordo-me ainda de alguns dos aspectos negativos: se eu não era castigado, colegas meus eram regularmente premiados com palmatoadas; os alunos na sala eram colocados estrategicamente – os “bons” à frente e os “maus” atrás; e, sem dúvida, o que interessava era saber, mais do que raciocinar e ser criativo.
No ano seguinte a terminar a escola, o meu Pai foi transferido dos escritórios da firma onde trabalhava, no Seixal, para Lisboa. Perdi assim o contacto com os meus colegas de então. Nada sei de nenhum deles, hoje. E tenho pena.
1 comentário:
Ainda estás a tempo de os procurar! Quantó à régua eu levava nas mãos por fazer chiar o ponteiro na lousa!!! (admito que às vezes fazia de propósito) :)
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