Hesitei uns momentos antes de começar a escrever este texto.
Vai ser tão pessoal que ao partilhá-lo como que perco alguma coisa dele. Mas
esse risco corri-o quando encetei “A Memória Flutuante”; seria, portanto, pouco
lógico que guardasse só para mim o que vou narrar.
Em posts anteriores
e já distantes (ver aqui e aqui) referi os tempos em que vivi na cidade da Horta, no Faial,
onde leccionei no Liceu. Passaram mais de cinquenta anos! Pois há meses recebi
uma mensagem totalmente inesperada e, a meus olhos, invulgar. Um dos meus
alunos de então informava-me que os finalistas de 1968 iam comemorar os
cinquenta anos de formatura, haviam decidido repor em cena “A Longa Ceia de
Natal”, de Thornton Wilder, (que constituiu uma importante parte da sua récita
de despedida), e convidavam-me a estar com eles nesse momento, a concretizar no
dia 1 de Junho do corrente ano.
Tenho tido, ao longo da vida, por parte de ex-alunos com
quem me tenho cruzado, manifestações de simpatia nas quais sobressai quase
sempre a memória de ter sido um professor estimado. Nunca, porém, fui
confrontado com esta situação, única, de ao fim de cinquenta anos, um grupo de
ex-alunos, de facto uma turma, que teria uns quarenta jovens, se lembrar de mim
a ponto de me querer nas comemorações que vão levar a efeito. Percebo que o
facto de ter colaborado com elas e eles na peça “A Longa Ceia de Natal”, que
teve um assinalável êxito, tenha contribuído para dar uma maior dimensão à
memória afectiva, mas mesmo assim não posso deixar de estar comovido com este
regresso ao passado.
Assim, vou voar amanhã até à cidade da Horta, para no dia seguinte
estar presente na comemoração dos meus alunos. Não sei bem definir o que sinto.
É um misto de felicidade, de orgulho, não propriamente vaidade, mas o sentimento
de ver reconhecido o que sempre procurei ser, um professor profissionalmente
competente.
Quando atingi o limite de idade creditei a mim próprio o ter
cumprido o meu dever de cidadão empenhado nas coisas da educação. Agora, quando
a minha jornada se aproxima do fim, esta lembrança dos meus “velhos” alunos gratifica-me
mais do que uma qualquer medalha da Ordem da Instrução Pública.
Para memória mais tangível, fica o cartaz promocional da
sessão do dia 1.
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