Um post da Saltapocinhas contando as suas desventuras por ter sido mandada parar pela GNR levou-me a recordar uma efeméride que passa hoje, 9 de Junho. Há 44 anos, precisamente a 9 de Junho de 1961, fiz o meu exame de condução. Estava na cidade da Horta (Faial, Açores) a terminar o meu segundo ano de professor (dizia-se na altura de serviço eventual) no Liceu da cidade (havia de regressar à ilha seis anos mais tarde, para tomar posse do meu primeiro lugar como professor efectivo).
Tive nesse ano uma vida calma, embora com muito trabalho. Nos Açores e na Madeira era quase regra que os professores tivessem direito a dar cinco horas extraordinárias, o que dava um pequeno suplemento ao vencimento. Como havia pouco em que gastar dinheiro, ia-se amealhando algum que pensava poderia reverter para comprar um automóvel (foi sempre uma dos meus grandes desejos, quase desde bebé). Pensei por isso aproveitar e aprender a conduzir lá mesmo. Tanto quanto posso lembrar, apenas havia então na Horta um instrutor, detentor de um Volkswagen azul clarinho, a quem chamavam o sr. Chico das bicicletas. Era um homem pequenote, mais velho que novo, relativamente bonacheirão. Recordo-me de ele insistentemente me recomendar, sempre que eu pisava o acelerador: “Sr. Dr., pouca gasolina!”
Não se admirem por eu falar em pisar o acelerador. A Horta era nessa altura uma verdadeira aldeia, com um número muito pequeno de veículos, pelo que havia lições em que quase não cruzávamos um outro automóvel… e então, eu acelerava... Tive apenas 20 lições e já dava bem conta do recado. O exame foi então marcado para 9 de Junho de 1961. O examinador foi o Director de Obras Públicas, o Engenheiro Pinelo, que eu conhecia do café, ainda que sem intimidade, mas evidentemente deu-me à vontade. Fiz um percurso habitual e que já treinara – ida às Angústias e volta... – e lembro-me que a única ultrapassagem que fiz foi a uma carroça… Ah, e a manobra de marcha-atrás foi impecável.
Podem imaginar como me senti, dados estes antecedentes de treino, quando, já no “meu” carro, comecei a conduzir em Lisboa… A diferença do tráfego em relação à Horta era enorme. A primeira vez que me decidi descer a Avenida Fontes Pereira de Melo e circular no Marquês de Pombal rumo à Avenida da Liberdade tinha medo em deixar o motor “ir abaixo”. Mas passou-se bem e dentro de meia dúzia de dias andava pela cidade, e depois pela estrada, sem problemas. Ah! Isto quer dizer que de facto comprei o tal sonhado carro, por sinal também um Volkswagen, GD-69-39, com uma entrada razoável e pagamento do excedente em 24 meses. Troquei-o mais tarde por outro Volkswagen, mas hoje prefiro carros franceses. E aqui fica mais uma efeméride.
3 comentários:
Olá,
gostei de ler o seu post. Fez-me lembrar o meu próprio exame de condução, já em Faro, também ele sem muitas espinhas, apesar do habitual nervoso miudinho. Um pequeno percurso, desde o Jardim da Alameda, passando em frente da Tomás Cabreira, virar à direita e depois, por alturas do Bom João, inversão de marcha e volta pelo mesmo caminho. A coisa passou-se assim porque o examinador era marido de uma amiga minha e amigo do meu instrutor. Ah!... outra coincidência, tabém comecei com um VW, mas depois passei para os carros franceses.
Um abraço, José Farinha
Eu não falo do meu 1.º exame de condução porque chumbei...Fartei-me de chorar porque foi a primeira vez na vida que senti o sabor de um "chumbo" e por o ter sentido com bastante injusto! passei no 2.º cerca de um mês depois e sem ter tido mais nenhuma aula...
Quanto à nacionalidade dos carros cá de casa fui ali perguntar ao marido e já sei: um francês e um inglês, que se dão muito bem!
Meu caro Varela!
Não esqueço o dia em que fui buscar ao «stand» o meu primeiro carro, um mini branco!
O stand era ali pela Av. Duque de Loulé e para levar o carro para casa tinha que atravessar o Marquês de Pombal!
Seria a minha primeira actividade guiante autónoma!
Engendrei um plano e executei-o: fui ao «stand» ao fim da tarde, quase hora de fechar. Saí, e estacionei o carro no primeiro espaço que encontrei (outros tempos).
Aí fui fazer horas... Pelas sete e pouco fui jantar (ao que terá sido o primeiro self-service de Lisboa, o Noite e Dia, na av. Duque de Loulé).
E às oito aventurei-me...
Atravessei valorosamente o Marquês a caminho de Campo de Ourique e, penso, que nunca passei da segunda velocidade.
Tudo correu bem!
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