2005/06/10

As Crónicas na RUM (11)


Embora não tenha nascido em Lisboa, considero-me lisboeta por adopção: desde criança que via a cidade, muito ao longe, e depois, vivi lá toda a minha juventude e começo da idade adulta. E apesar de ter ao longo da minha vida profissional passado muito tempo longe de Lisboa – os últimos onze anos, em Braga – vou frequentemente à capital.

Devo dizer que gradualmente tenho perdido o interesse de viver em Lisboa – não de ir lá, mas de viver lá. Apesar de ter todas as condições para ser um local privilegiado para se viver, não é. Lisboa é uma cidade entregue aos automóveis, autocarros, camiões – que, por sua vez, empreendem diariamente lutas terríveis para circular e estacionar… Os peões – e todos somos, mesmo os que conduzem, porque há um momento em que têm de enfrentar o andar a pé… – são escorraçados, têm de andar aos ziguezagues, e daí não admira que se sintam mal numa cidade tão bonita.

Mesmo assim, vale a pena por vezes correr o risco e ir a Lisboa. Na semana passada, por motivos profissionais tive de o fazer, e aproveitei para cumprir um ritual que tenho falhado muito pouco em toda a minha vida. É tempo de Feira do Livro, e Feira do Livro é em Lisboa. Eu sei que há a do Porto, que Braga também a tem (aliás, há muitas feiras do livro espalhadas pelo país). Mas a de Lisboa, é diferente.

Por acaso, não a visitei no ano passado, e por isso tinha muito interesse em ir neste ano. Como muitos sabem, o local da Feira é no Parque Eduardo VII, no prolongamento da Avenida da Liberdade, e por causa das malfadadas obras do túnel do Marquês os pavilhões tiveram de se deslocar em direcção ao topo do parque, com uma disposição um tudo-nada diferente, mais irregular, o que obriga um visitante que queira dar uma espreitadela a todos os pavilhões a fazer uma espécie de corrida de obstáculos. E como os pavilhões são muitos, mais de cem, torna-se praticamente impossível, numa simples visita, ver tudo com atenção. Não deixa no entanto de ser agradável ter todos aqueles livros à mão, poder folheá-los, e, também, ter preços mais convidativos (ainda que seja cada vez mais difícil encontrar descontos que se vejam).

Apesar de não ter feito grandes compras e de ter saído da Feira com a ideia de que é preciso que ela mude de figurino, que a torne menos cansativa e porventura com uma distribuição de pavilhões mais “organizada”, para não saltarmos de uma editora especializada em livros de cozinha para outra mais virada para a edição de livros filosóficos, gostei de lá ter ido.

Sou dos que pensam que apesar da expansão das edições electrónicas (de que, aliás, uso e abuso!) o livro nunca deixará de existir, e julgo que ninguém troca a leitura de um bom livro por uma leitura no monitor do computador… O ouvinte trocaria?

Até para a semana.

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