Perguntaram-me, outro dia, se estava mais satisfeito com a actual equipa do Ministério da Educação do que com a do ex-Ministro David Justino. A pergunta foi feita com malícia, porque quem perguntava sabia que fui muito crítico da acção do Ministro, mesmo nestas crónicas.
Antes de responder à pergunta, é necessário clarificar que nunca esteve em causa a pessoa mas as políticas que defendeu. Tive ocasião, depois de já não ser Ministro, de trocar algumas ideias com ele, e a “conversa” (que não foi bem conversa, mas não vem agora ao caso) foi agradável e urbana. David Justino é um colega, tem as suas ideias, sujeita-se pois a que elas sejam criticadas, como eu me sujeito às críticas de quem comigo discorde.
Posto isto, estou mais satisfeito? É cedo para responder. Fui defensor da maior parte das medidas tomadas pelo Ministério de Marçal Grilo, em especial as que visavam a reorganização curricular do ensino básico. Conhecia, conheço bem a Secretária de Estado Ana Benavente, que considero dominar bem tudo o que se refere à educação, bem informada das correntes pedagógicas recentes e relevantes no mundo contemporâneo. Desta equipa, nada sei da Ministra Maria de Lurdes Rodrigues, embora referências cruzadas indiquem uma personalidade forte numa estrutura pessoal inteligente, com formação sociológica de base, o que pode ajudar no cargo.
Quanto ao Secretário de Estado Valter Lemos conheço-o bem de há muito tempo; ambos estivemos ligados ao período de gestação do ensino superior politécnico e trabalhámos juntos em diversas ocasiões, nomeadamente como membros do Conselho Geral do Instituto Nacional de Acreditação da Formação de Professores, INAFOP, que foi extinto pelo governo de Durão Barroso (mas, ao contrário do que eu pensava, sem intervenção directa do Ministro Justino, o que é um ponto a seu favor). Valter Lemos é conhecedor de parte dos problemas do sistema educativo português, mas tem ultimamente estado mais ligado à gestão no âmbito do ensino superior (ele foi, até há pouco tempo, Presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco). Como o outro secretário de Estado adjunto, Jorge Pedreira, também esteve mais ligado ao ensino superior (foi Director-geral desse ensino no segundo governo de António Guterres e foi também presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior) fico com uma pequena dúvida acerca de como este Ministério (que, para mais, não tem a tutela do ensino superior!) vai lidar com o peso do restante sistema de ensino.
Entretanto, soube-se ontem uma primeira medida desta nova equipa, a revogação da decisão de troca de manuais escolares, passando-os de alunos para alunos. Tenho uma relação de ambivalência com os manuais escolares, e a esse assunto voltarei um dia; mas parece-me acertada a decisão, como me parece acertada a declaração que esta medida não significa que se vá agora alterar tudo o que o anterior Ministério fez. Mas na verdade, pensar que se pode pôr de lado um livro de texto quando se acaba um ano é ter uma visão pedagógica do valor do livro muito, muito limitada.
Portanto, tenho esperança. Mas… vamos esperar.
Até para a semana.
3 comentários:
O INAFOP e o Instituto de Inovação Educacional, só para citar estes dois organismos, foram extintos sem a concordância do então ministro David Justino? Ó meu caro Professor Cândido Freitas, que história é esta que lhe contaram? Partilhe connosco este episódio para que no futuro os livros de história de educação registem esse estranho fenómeno de um ministro que nada tem a ver com a extinção destes organismos do ministério que tutelava. Sou todo ouvidos.
PJ
A PJ
Não referi o IIE... Em relação ao INAFOP, porque acredito na palavra das pessoas, é uma informação digna de fé que só há pouco tempo me foi prestada.
Eu também tenho por boa as palavras das pessoas até prova em contrário. Todavia, tenho de lhe confessar a minha perplexidade face à história que lhe contaram. Como é que é possível que um ministro seja confrontado com a extinção de um instituto sob a sua tutela sem que possa ter uma palavra a dizer sobre essa matéria? E mesmo que assim fosse como é que ele não defendeu o INAFOP procurando fazer ver que ele se preparava para fazer uma reforma absolutamente imprescindível para aumentar a qualidade da formação inicial de professores, à semelhança do que sucede em inúmeros outros países? Recordemos que a extinção do INAFOP, do IIE e de outros institutos públicos foi realizada de chofre, sem nenhum estudo que sustentasse a sua justificação ao nível da aumento da eficácia e/ou diminuição da despesa pública. Casos houve em que os presidentes dos institutos souberam pelos jornais que estes tinham passado à história. Foi o caso da Prof. Maria Emília Brederode Santos e do IIE. No caso específico do INAFOP foi prometido pelo então ministro David Justino que as estruturas centrais do ME assumiriam as funções do instituto então extinto. Viu-se…
PJ
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