2020/04/10

Já agora...


… que me abalancei ontem a publicar um texto sobre o futuro deste ano lectivo, vou comentar a decisão de hoje do governo sobre o assunto. Assisti calmamente à longa intervenção do Primeiro-Ministro e ao jogo de perguntas e respostas habitual nestas conferências de imprensa, e ainda que tenham ficado por esclarecer alguns aspectos do que foi aprovado, as linhas orientadoras são claras. Depois, apreciei também reacções de alguns parceiros do Ministério da Educação, que foram, na generalidade, de aprovação.

Percebo perfeitamente a lógica das medidas tomadas. Na situação de emergência em que vivemos queremos que os políticos que governam tomem decisões. Acontece, porém, que precisamente porque a situação é complexa, a tomada de decisões é muito arriscada: por isso o governo aprovou medidas prudentes e aparentemente consensuais. Acentuou sempre a prioridade na luta contra o Covid-19 respeitando as orientações das entidades responsáveis da saúde. Mas ao mesmo tempo aproveitou para temperar essa posição de cautela (“porque ninguém pode prever quando isto acaba”) com a notícia de que o 3º período do ano lectivo começa de acordo com o calendário no dia 14 de Abril…  com toda a normalidade… 

A grande divergência entre o que eu penso seria a melhor solução e a decisão do governo está na manutenção do ensino básico “a distância”, com o tal apoio da Telescola (muito bem encaixada na RTP Memória!) e com avaliação final, exceptuado o exame do 9º ano e provas de aferição. Estarei atento ao que se vai passar mas não auguro que sejam tempos fáceis para professores e alunos estes meses de um ensino “a distância” misto.  É grande a minha curiosidade acerca de como vão ser integrados os elementos fornecidos via TV na programação que os professores irão gizar nas suas disciplinas. E temo que a imposição de uma avaliação de contornos perigosamente vagos venha a causar grandes perturbações. Perdoe-se-me o que vou dizer: houve falta de coragem para tomar a decisão certa, isto é, não haver qualquer avaliação. Não vejo como vai ser possível um docente definir uma avaliação que objectivamente considere justa para todos os alunos nestes tempos conturbados.

De resto, as medidas tomadas estão de acordo com o que expus ontem. A conclusão do secundário teria sempre de ter um exame – a não ser que a entrada no ensino superior fosse diferente. Devia ser, aliás – mas isso é outro problema e nunca seria desejável uma mudança sob pressão das circunstâncias.

Temos definido um percurso para os próximos meses de um ano escolar algo complicado, único. Apesar das minhas reticências em relação à solução ensaiada para o ensino básico (e nem sequer quero ter a presunção de ter razão) quero acreditar que todos os intervenientes no processo vão fazer o seu melhor. E – quem sabe! – até pode acontecer que desta experiência improvisada por uma circunstância fortuita se possam encontrar pistas inovadoras a considerar num futuro.

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