Há dias escrevi um post sobre o ressentimento, que para mim
explica muito do que se está a passar em Portugal face ao rumo que a situação
política tomou depois das eleições de 4 de Outubro. No fundo, as duas forças políticas
com maior apoio nacional têm (objectivamente) razões de queixa mútuas. E, não
as esquecendo, avolumam-nas quando em dificuldades ou, pelo contrário, quando
estão “na mó de cima”, como popularmente se diz.
O mais curioso é que a história dos ressentimentos, contada
por cada uma das tais forças políticas, aparece aos olhos dos seus apoiantes
como a correcta, sendo muito difícil alguém ser neutro na apreciação. Não me
coloco de fora: eu também julgo que a possível “narrativa” da força em que eu acredito
é a que tem mais suporte.
Mas isso não significa que o meu ressentimento me retire o
que eu considero complemento indispensável numa democracia, a tolerância. Por
isso, embora eu não concorde com muita coisa que está a acontecer e que merece,
aliás, ser evidenciada e combatida (até porque a democracia assim o exige),
tempero meu desacordo com a dose necessária de tolerância. Escuso-me neste
momento a exemplificar.
Mas neste discurso da tolerância intrometem-se as imagens que
ontem todos vimos provenientes de Paris, e que lembram as muito diferentes,
mais trágicas, vindas de New York em Setembro de 2001. Tal como nessa altura, a
minha revolta eliminou a tolerância. E se posso compreender o ressentimento por
parte do Islão, a resposta dada elimina qualquer tolerância. Tenho se concordar
com o Presidente francês, os ataques são acto de guerra (mas a França já não
estava em guerra?). Eu não sei como é possível concertar esta complexa situação
que opõe dois mundos tão diferentes.
E dei por mim a pensar em como a nossa caseira desavença é
coisa pouca comparada com a desavença desses dois mundos.
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