Num pequeno livro que li quando era ainda muito jovem na profissão, encontrei uma verdade que fui comprovando pela vida fora. O livro era de Orlando Ribeiro, penso que se chamava Problemas da Universidade (não estou em casa e não tenho o livro à mão), e a verdade era esta: “Ensinar é o maior subterfúgio para iludir o tempo”. Sempre liguei o ser professor e ter todos os anos contacto com gente mais jovem a um certo optimismo e aceitação de quase tudo a que a juventude adere.
Mas hoje, ao percorrer o campus depois de almoço, deparei com uma daquelas cenas de praxe que, tenho de confessar, não percebo e não aceito. Ainda pensei: será que é mesmo sintoma de velhice? Mas repudiei a ideia. Não, as coisas que os estudantes hoje definiram como básicas para “integrar” os caloiros não são racionais. Já não falo em dignidade, falo em inteligência. Eu não posso aceitar a imbecilidade.
Por isso me pergunto: haverá necessidade?
(Hoje, uma colega enviou-me uma mensagem protestando contra o barulho, contra as praxes que nesta semana impedem muitos docentes de conseguir trabalhar nos gabinetes. Mas que podemos fazer? Proibir? Há, por parte da Associação Académica, genuíno interesse em encontrar uma solução, mas é verdadeiramente impossível controlar centenas de garotos – é o que me apetece chamar-lhes – em roda livre).
6 comentários:
Concordo integralmente. Na semana passada eu tive uma dificuldade enorme em fazer-me ouvir na aula, porque lá fora um bando de alunos, alguns não eram caloiros, alguns usavam o traje académico, (seriam da tuna?) que berravam duma maneira selvagem, anormal, animal, completamente irracional. Os meus alunos que estavam dentro da aula esforçavam-se por me ouvir.
Perguntei-lhes: Há alguma festa? Praxes?
Responderam-me: É a cerveja de graça!
Realmente, tinha visto uma fila comprida à entrada... era para a cerveja!
O que leva alguém, uma empresa, uma marca, a distribuir gratuitamente cerveja aos alunos numa escola de ensino superior???
Incentivar o consumo?
Fidelizar clientes?
Boicotar o trabalho na escola'
Qualquer das hipóteses é reprovável!!!
Infelizmente, parece que a boçalidade, hoje, é uma forma de afirmação a que os jovens aderem. Uns, por imbecilidade; outros, por criancice; outros, ainda, para, como aderentes, não serem vítimas dela. Penso que estes formarão o maior grupo. E é preocupante, porque é a liberdade individual a ceder ao medo.
Prezo muito a liberdade, mas como em tudo, há que estabelecer alguns limites, ou então é a anarquia.
Como é que é possível algumas praxes decorrerem, autorizadas, dentro dos campus universitários?
Como é possível os alunos, duvido que sejam estudantes, fazerem certas praxes que atentam contra a dignidade pessoal e revelam, no mínimo, ignorância e estupidez?
Para mim, praxe é integrar, não humilhar. O que se passa não tem nada a ver com integração.
Deixo só uma questão: o que acontece aos que se recusam a ser praxados? São integrados?
Que Universidade é esta?
Supostamente a Universidade fará aquilo que o ensino não inferior não foi capaz: trans-formar [a expressão é da LN] esta gente.
Estamos de acordo...
Felizmente, desde há uns anos o problema da cerveja no campus da UM acabou - essa foi de facto uma proibição depois de uma péssima experiência. O problema da proibição pura e simples da praxe é delicado. Nestes últimos dois anos tive por dever de situação de lidar de perto com o problema, e como disse, senti que a Associação Académica gostaria que fosse diferente, tenta organizar-se nesse sentido, mas é ultrapassada pelas "multidões"...
Por outro lado, pelo menos é o que se passa aqui no Minho, os "festejos" duram muito tempo...
eu não estou com meias: não concordo com praxes e ponto final. Isto sem estar sequer a pensar nos abusos e barbaridades de que gente mal formada utiliza as praxes como pretexto para serem sádicos.
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