Como muitos outros professores do então chamado ensino liceal, comecei a minha carreira como professor de serviço eventual (era assim que se dizia). Assim, depois de licenciado, quem desejasse ensinar concorria, através de um simples requerimento entregue na Direcção-Geral, e nos finais de Setembro era publicada no Diário do Governo (designação usada antes de 1974 para o actual Diário da República) a lista das colocações. Assim foi comigo: por isso, apresentei-me “ao serviço” no dia 1 de Outubro de 1959 no Liceu Nacional de Sá da Bandeira, em Santarém, e por lá me mantive… até ao dia 10 de Agosto de 1960.
É que, segundo a lei, os professores de serviço eventual cessavam obrigatoriamente funções no dia 10 de Agosto – e como tal, deixavam de receber qualquer vencimento… As férias tornavam-se, assim, um período complicado de gerir a menos que se tivesse conseguido poupar ao longo do ano algum dinheiro do parco vencimento que se auferia (na altura, um professor de serviço eventual ganhava 4 mil escudos mensais, ou seja, mais ou menos 20 euros…).
Para que os “eventuais” pudessem permanecer até ao dia 10 de Agosto, a maior parte dos reitores “inventava” trabalhos vários, normalmente de estatística, uma vez que a partir dos finais de Julho os exames estavam acabados.
Outros tempos, na verdade. De grande injustiça social. Não quero dizer que hoje tenham cessado as injustiças, mas ao ver no calendário o 10 de Agosto lembrei-me da que me afectou (e a dezenas de colegas) durante alguns anos. Esta aberração só terminou muito mais tarde (mas não me recordo, neste momento, quando).
4 comentários:
Esse salário de 4 mil escudos não seria em 1959/60, pois não?
Parece-me muito, para a época. Pergunto isto pois o meu primeiro salário, em 1982, era de 24 mil escudos...
É que se era de 4 mil escudos em 1960, não seria assim tão baixo, em termos relativos, seria?
Só para me situar.
A fr
Tenho a certeza que era esse, de facto, o vencimento mensal de um professor eventual. Nessa altura não havia praticamente inflação e os preços - e vencimentos - eram muito estáveis. Penso que só em meados dos anos 6o se passou de 4000 para 4600 escudos. O vencimento não era muito elevado mas dava para viver. Uma boa refeição num bom restaurante andaria por 30 a 40 escudos, mas num "snack" custaria 12 a 15... O que complicava era de facto não se ter vencimento em férias.
Se bem me lembro a primeira oferta de emprego que os meus pais receberam foi de 10 000 escudos mensais.
Uma oferta de um qualquer colegio privado que procurava um casal de professores. Queriam um de ciencias e outro de ingles. Os meus pais estavam quase a licenciarem-se, pelo que adivinho que fosse no final dos anos 60.
Os 10 contos eram para os dois, ou seja, cinco mil para cada um. Na altura a proposta era muito tentadora por estar acima dos valores de mercado (mesmo para recem-licenciados), pelo que os 4000 do Varela de Freitas parecem-me naturais.
Os meus pais recusaram a oferta. Nao quiseram comecar a trabalhar antes de acabarem os seus cursos.
Obrigado pela resposta.
Perguntei porque me lembrei de que o salário mínimo em 1974 foi fixado em 3.300 escudos, e achava muito 4.000 escudos para 59/60.
Estava a pensar na inflação, mas como o Varela disse, nessa altura não havia praticamente inflação, que viria a ser terrível a partir da crise do petróleo dos inícios de 70.
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