Vivi em Londres cerca de um ano no final dos anos 70 do século passado. A minha relação com a cidade nunca foi muito prazenteira, mas isso deveu-se mais a condições que nada tinham a ver com a cidade, que apreciei e aprecio pelos seus belíssimos parques, pela imponência dos monumentos, pela enorme oferta de bens científicos e culturais que todos os dias disponibiliza a quem lá vive ou vai. Embora tivesse boas companhias que me não deixavam sentir isolado, eu estava só: a minha Mulher ficara em Portugal com a filha, apenas com 10 anos. Depois, tenho de o dizer, os ingleses (alguns) são um pouco estranhos, que, ao invés dos norte-americanos, olham para o estrangeiro com desconfiança, senão com hostilidade, a maior parte parecendo incapaz de perdoar uma inflexão errada quando se faz uma pergunta.
Em Londres, vivi alguns meses no John Adams Hall, uma residência da Universidade de Londres, que fica na Endsleigh Street, e completei o quase ano de estadia num pequeno apartamento situado muito perto (era, também, da Universidade), na Woburn Square. Em ambos os casos, muito perto do Instituto de Educação, que frequentava, um belo edifício que confronta uma das suas partes laterais com a Russell Square. Todos estes lugares são-me familiares, conheço-os bem; e quando tenho de ir a Londres, hospedo-me sempre em hotéis próximos da Russell Square, até pela comodidade que representa a estação de metropolitano que fica a 50 metros e dá acesso directo ao aeroporto de Heathrow. Do meu ano de Londres recordo o tempo depressivo no Inverno, em que às 3 da tarde anoitece, e a surpresa de em Maio o sol nos entrar pelo quarto às 4 da manhã; da festa que todos sentiam quando aparecia um pouquinho de sol… E recordo sobretudo, claro, os sítios onde vivi e que percorria diariamente.
Ontem, tive um dia muito ocupado – a tal ponto que só ao fim da tarde, quando cheguei a casa e liguei o rádio para saber notícias, soube o que acontecera em Londres, e que afectara precisamente uma zona em que, se estivesse lá, teria sido aquela onde me encontraria (ao ver ontem as imagens da televisão, a minha Mulher reconheceu um dos hotéis em que nos por vezes ficamos). Não fiquei surpreendido – penso que ninguém pode hoje ficar surpreendido com ataques de terroristas sejam quais forem as circunstâncias – mas fiquei chocado. Talvez por conhecer melhor todos aqueles lugares do que se as explosões tivessem ocorrido em zonas diferentes – quem sabe? A verdade é que durante algum tempo a minha memória dirigiu-se para esses tempos em que eu era um habitante de Londres. Tempos bem mais calmos, é verdade. Nos quais, mesmo não tendo deles uma lembrança tão agradável como tenho dos que vivi nos Estados Unidos, tive ocasião de aprender muito, pelo que não os enjeito como perdidos.
Pelo que julgo conhecer da maneira de ser dos ingleses, estou certo que vão reagir bastante bem. Tal como quando chove raramente usam guarda-chuva não apressam o passo, também agora continuarão a viver como sempre, calma e orgulhosamente diferentes dos outros. E hoje, tenho forçosamente se simpatizar com eles.
3 comentários:
Nunca fui a Londres. Ingleses só conheço os que pululam pelo Algarve no Verão (e no Inverno também). E que são mal educados, falam alto em hotéis, restaurantes e espçanadas e andam bêbados pelas ruas a fazer barulho. Por isso tenho má impressão deles como povo: são arrogantes em relação a outros povos e outras culturas e teimam em ser diferentes. Com a UE já era tempo de eles, pelo menos, terem as mesmas medidas que o resto da europa e a mesma moeda. Depois aquele modo afectado de falar e, segundo me contam as pessoas que lá vão, o péssimo hábito de "não entenderem" os estrangeiros que não se expressem num inglês impecável. devemos ser tolerantes e eles parecem-me um povo muito pouco tolerante!
Saltapocinhas
Os seus ingleses não são os ingleses que conheço. Também não tenho a mesma experiência do professor, no que à simpatia dos ingleses refere. Tenho tido sempre o privilégio de encontrar pessoas simpáticas, acessíveis, afáveis, para além de muito educadas.
Também eu estaria em Russell Square, se estivesse ontem em Londres. São os «meus» sítios lá, são aquelas as estações de metro que utilizo, diariamente, quando lá estou. Essa circunstância fez-me sentir mais próxima a tragédia.
Sei só uma coisa, os ingleses já estão a dar provas da coragem e fibra moral que sempre demonstram em momentos difíceis.
Caro anónimo: talvez os ingleses fiquem diferentes quando saem do seu país...ou talvez não! Tenho um amigo que trabalha e vive em Londres há muitos anos e não tem um único amigo inglês...Talvez o defeito seja dele...O que é certo é que ele já passou por vários países e em todos fez amizades. Não podemos cair nas generalizações: se procurarmos bem, talvez achemos um inglês simpático! (eu gosto do mr. bean!)
Mas, seja e que maneira for, o que lhes aconteceu foi terrível...
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