2005/06/22

O meu dia de greve… em 1977



Ora bem, vamos lá recuperar a essência do meu blog: fazer a minha memória flutuar. Ainda que possa ser surpresa depois do que escrevi, vou recuar a 1977 e lembrar que fiz greve… Estava-se no I Governo constitucional e era ministro Sottomayor Cardia, que estava longe de agradar na sua acção. Em Janeiro desse ano eu abandonara o cargo de director de serviços de Estudos que tinha no Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério da Educação, regressara à minha Escola (o então Liceu Filipa de Lencastre, em Lisboa) e pouco tempo depois fui convidado para ingressar na Universidade do Minho, como assistente convidado, o que aconteceu em Abril desse ano. Existia então na Universidade a Unidade Científico-Pedagógica de Ciências da Educação, na qual me integrei. Nessa altura, havia apenas um docente doutorado, e por motivos vários, quando se fizeram eleições, fui eleito presidente da Unidade. Entretanto, as relações entre Cardia e os Sindicatos agudizaram-se e foi decretada greve. Sinceramente, não me recordo data certa nem motivos específicos, e não tenho tempo de procurar em papéis que ainda estão desorganizados…

Não sou, nunca fui sindicalizado, e não simpatizo com greves, como já se percebeu. Por isso, nesse dia, como nos outros, fui para o meu gabinete trabalhar. A meio da manhã, recebo um telefonema da secretária do Reitor: do gabinete do Ministro, queriam a lista dos nomes dos professores em greve. Ainda me lembro: reagi como penso deve reagir um touro quando vê o vermelho… E disse à D. Ângela (creio que era ela): “A partir deste momento, considero-me em greve! Arranje outro que lhe dê a informação…”

Achei afrontoso o pedido, achei-o indigno. E por isso – e só por isso – fiz greve nesse dia.

(Não se pode estabelecer paralelo entre este episódio e o estabelecimento dos tais “serviços mínimos”, sejam eles legais ou não – pelos vistos, como sempre acontece quando juristas tocam nos assuntos, uns dizem que sim e outros que não. O que eu nunca poderia aceitar era enviar a lista dos grevistas para o gabinete do Ministro!)

2 comentários:

Anónimo disse...

O pedido dos nomes não terá sido excesso de zelo da funcionária?
Em altura de greve é hábito receber um pedido de informação sobre o número de funconários, o número de faltas por motivo de greve e o número de faltas port outro motivo.

Cândido M. Varela de Freitas disse...

Não, não foi excesso de zelo... O ministro queria mesmo os nomes; por muito que me custe dizê-lo no seu tempo houve quase uma espécie de "caça às bruxas" (ele via um comunista em cada pessoa que discordava dele, mesmo camaradas do partido).