2005/06/20

Esta greve


Sei que muitos dos que me lêem são professores. Terão posições políticas diversas, mas isso não é importante, verdadeiramente. Não sei, também, se estão ou não de acordo com a greve, se foram ou vão ser grevistas ou não. Mas também isso não é importante. O importante, para mim, neste momento, é, por um imperativo de consciência, escrever o que penso sobre esta greve. Com ela, os professores não estão a prejudicar um patrão: estão a prejudicar os alunos. E não posso entender como professores, friamente, se acham no direito de prejudicar os alunos. Infelizmente, tenho de considerar essa atitude pouco ética. Se pensam embaraçar a Ministra, os Secretários de Estado, o Governo, enfim – acredito pouco que embaracem. A opinião pública – quantos pais não se angustiam neste momento – voltar-se-á contra os professores. Os alunos que esperavam ter exames e não os tiveram – como se sentirão? Vão fazê-los mais tarde, quando? Entristece-me profundamente que isto aconteça e apesar do meu optimismo pergunto-me o que querem os portugueses para Portugal, quando os professores, que deviam assumir-se como os mais esclarecidos, são os primeiros a atear o fogo. Para onde vamos?

10 comentários:

Miguel Pinto disse...

Gostava de o ouvir pronunciar sobre o prejuízo dos alunos, dos outros alunos que nada tem a ver com este processo dos exames. Se o processo de realização dos exames é assim tão nefasto para os alunos talvez seja o momento de pensarmos em novas formas de controlar o sistema educativo evitando fazer dos alunos as cobaias do sistema. Quais os ganhos dos alunos com a realização dos exames nacionais? É no mínimo incongruente apelar aos professores que remedeiem os fracassos de um sistema de ordenação discriminatório.

Fernando Reis disse...

Concordo com a questão levantada por Varela de Freitas. Penso que a greve aos exames é contraproducente e um autêntico tiro no pé.
Quanto ao valor dos exames, questão levantada pelo Miguel, penso que devemos colocar os exames no seu devido lugar.
Os exames têm valor enquanto elemento de ordenação de candidatos a um sistema de ensino. E para isso valem o que valem. A maior fatia da avaliação é a avaliação contínua.
Não me parece que o processo de realização dos exames seja nefasto para os alunos, mas antes que a greve em cima dos exames constitui a destruição de grande parte do trabalho desenvolvido ao longo do ano. Um autêntico auto-boicote, é o que eu lhe chamo.
E de boicotes já me chegam os do Ministério da Educação e do governo em geral.
Defendo e apiarei uma greve bem organizada e discutida com tempo, totalmente centrada nos problemas a resolver, e não desviada para o problema dos exames.

Cândido M. Varela de Freitas disse...

Ém posts anteriores já expus o que penso sobre exames. Em qualquer caso, são os alunos que têm de fazer exames que estão em causa. A incerteza (haverá greve? não haverá? faço a prova? não faço?) não favorecerá uma concentração que é necessária em momentos destes. Por isso considero que uma greve marcada propositadamente para impedir que os exames decorram com um mínimo de perturbações é eticamente reprovável. Portanto, não discuto o valor destes exames (embora os do 12º ano tenham sentido, nesta ou noutra configuração); eles existem, os alunos são a eles obrigados, houve professores que quiseram perturbar os alunos. Espero que o que aconteceu ontem se repita nos próximos dias, ou seja, que os professores escalados compareçam, não por medo mas por profissionalismo.

Acilina disse...

Lamento muito mas não concordo. É uma pena, mas os professores não têm outras armas senão a greve. Talvez assim percebam que não estes os culpados da crise. Talvez assim percebam que assim como convem pagar bem e por portas travessas aos políticos para que eles não fujam, e não perseguir muito os empresários que fogem aos impostos para que estes continuem em Portugal, talvez convenha não humilhar mais os professores e os funcionários públicos fazendo passar para a opinião pública que são eles os culpados do défice. Há sempre que arranjar um bode espiatório. Desta vez todos se viram contra os funcionários públicos. Não acho justo que sejam estes a pagar e de muitas formas a grande factura do défice.

Miguel Pinto disse...

Reparem com esta linha de raciocínio é perigosa: Os professores prejudicam sempre os alunos quando faltam ao trabalho, logo não poderão fazer greve.
Pois…

saltapocinhas disse...

Concordo em género, número, grau e o que masi houver. Quando vejo os meus pequeninos tão preocupados com as "fichas de avaliação" imagino o que passam os "grandes" nestas incertezas. Os professores têm outras maneiras de lutar, outra altura para fazer greve... Agora não. Também tenho andado tão atarefada que mal ouço notícias, mas ainda não ouvi nada de concreto do ME acerca dos professores...Será que ando distraída?

Anónimo disse...

Esperava, naturalmente, reacções diversas. Cada um tem a sua maneira de ver as coisas e de a elas reagir. Tudo bem. Apenas uma observação ao Miguel: embora seja verdade que a falta de um professor prejudica sempre os alunos, esse prejuízo tem graus. Eu não escreveria o que escrevi se a greve fosse decretada em pleno período de actividades normais - porque nesse caso o prejuízo para os alunos não tinha a gravidade do que teria em período de exames. A greve é um direito, eu concordo; com ela pretende-se perturbar para levar os patrões a reflectir e eventualmente a ceder, tudo bem. Mas não a qualquer preço!
De qualquer modo, é bom discutir estes problemas. Mas atenção! Não podemos esquecer a realidade que é actualmente a nossa. Voltarei ao assunto.

Acilina disse...

Gravidade com gravidade se paga. O que o governo está a fazer aos professores afecta profundamente a vida futura destes. Não nos tratam com paninhos quentes. É mesmo a matar. Quando há greve dos transportes, não há mesmo transportes. Eles não fazem a greve apenas no período em que a greve não incomodaria muito (das 00H às 6H, por exemplo) Não faz sentido fazer uma greve que não incomoda.

Fernando Reis disse...

Compreendo a posição de Homoclinica, mas gostaria de lembrar que eu sou professor, e não motorista de transportes públicos. E a Educação não é o mesmo que os transportes públicos.
Podemos fazer muitas comparações, mas cada uma destas actividades tem a sua especificidade e grau de exigência, por isso a lógica da greve não tem que ser a mesma.

«« disse...

´Mas Professor, uma greve faz-se quando existe rotura, logo tem sempre consequências...não será dramatizar muito essa questão dos exames?...lembra-se da dos pilootos da TAP, ou da dos médicos?