A propósito de um post do Miguel Pinto no Outroolhar, prometi reflectir sobre o problema da competitividade na escola. É um assunto que desde muito cedo me preocupou, primeiro como aluno, depois como professor, procurando encontrar respostas para situações que sempre considerei pouco educativas.
Eu sei que há um grande argumento para aceitar e até fomentar a competição nas escolas. Se na vida “real” (nas empresas, no desporto, na política) a regra é a competição, a escola deve preparar os alunos para enfrentar essa realidade. Não nego a evidência da competição no quotidiano, mas mesmo aí tem havido mudanças. Para muitas empresas, o perfil mais desejado para os seus quadros já não é o de pessoas competitivas mas sim o de pessoas que saibam colaborar com os outros. Não é também por acaso que se procuram bons gestores no sector das relações humanas, que saibam distinguir a competição saudável da competição doentia.
Ora na escola poderá haver lugar para uma competição saudável – nunca para a doentia. A escola é um espaço educativo onde os alunos devem aprender princípios de convivência solidária. O homem, como aliás outros animais, é um ser social que necessita dos outros homens; a sobrevivência de um homem isolado, ainda que teoricamente possível, constitui uma aberração. Por isso sempre combati o excesso de competição se o via despontar entre os meus alunos, e por isso muito cedo comecei a interessar-me pelos métodos de ensino-aprendizagem que valorizavam o trabalho em grupo.
Nos anos sessenta, foi a sociometria que me atraiu, depois a pedagogia de grupos e finalmente, já nos anos oitenta, a aprendizagem cooperativa, que constitui, a meus olhos, um conjunto de princípios e técnicas excelentes para uma escola que se queira desenvolver com qualidade quer sob o ponto de vista das aprendizagens curriculares quer no que se refere ao clima social.
Os princípios da aprendizagem cooperativa são simples: as crianças (ou adolescentes, ou adultos) devem aprender a trabalhar em grupo, considerando que para isso há cinco componentes relevantes: a interdependência positiva; a interacção face a face; a avaliação individual/ responsabilidade pessoal pela aprendizagem; o uso apropriado de skills interpessoais; e a avaliação do processo do trabalho do grupo. Insisto no primeiro ponto: é preciso aprender a trabalhar em grupo, porque não se nasce sabendo. Por isso tantos professores que experimentam o trabalho de grupo se desgostam cedo; sem regras aceites os grupos são fonte de problemas e não de bons resultados…
A aprendizagem cooperativa é dos tópicos mais investigados em educação, mostrando bons resultados. Não sendo uma panaceia para curar todos os males da escola, está na primeira linha dos que têm êxito.
É por isso que discordo da ideia de que a escola deva incentivar a competição “selvagem” do salve-se quem puder, aceitando, claro, a tal competição saudável que se pode estabelecer entre turmas em competições desportivas ou outras, mas nunca entre alunos na sua tarefa de aprendizagem.
1 comentário:
Aproveito a oportunidade para clarificar o meu ponto de vista concordando com o essencial desta entrada:
1. A competição é intrinsecamente positiva e a participação dos alunos em actividades competitivas são oportunidades para desenvolverem competências em direcção à excelência e à superação.
2. A competição “selvagem” é reprovável;
3. A colaboração artificial é uma forma de colaboração “selvagem”;
4. Os conceitos de competição e de cooperação não são antagónicos. Serão conceitos complementares e interdependentes.
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