Ontem foi dia mundial da criança. Não devia haver este dia, porque em todos os dias a criança devia ser lembrada, protegida, amada. Mas a praga dos “dias de” chegou à criança: que havemos de fazer? Aceitar, claro. Por isso, ontem, diversas organizações proporcionaram às crianças um dia com mais atenções, e eu só espero que as próprias famílias se tivessem sensibilizado e tivessem dado mais atenção às suas crianças. Tudo o que se faça por elas não é demais, mas, repito, não num dia, todos os dias!
Devo dizer que nem me lembrava que ontem seria o dia da criança, não fosse na véspera ter lido no jornal uma notícia que mo fez lembrar. Dizia a notícia que aquela criança indonésia que foi encontrada viva, muitos dias após o maremoto (vulgo, tsunami) de Dezembro do ano passado, de seu nome Martunis, envergando uma camisola da selecção nacional portuguesa, ia estar ontem – dia mundial da criança – em Lisboa, em contacto com outras crianças portuguesas de uma escola da capital, “sendo recebida” (palavras textuais da notícia) pelo presidente da Federação Portuguesa de futebol, um senhor muito conhecido chamado Gilberto Madail.
É evidente que, como todos ou quase todos nós, quando soube do caso, não deixei de me comover, mas sem perder a noção da casualidade da camisola da selecção estar a influenciar a nossa sensibilidade. Porque o que era importante na altura era o milagre da sobrevivência; se o Martunis tivesse uma camisola da selecção grega, porque deveria ser menor a nossa emoção? Tenho as maiores dúvidas que a camisola das quinas no corpo de uma criança humilde quisesse ser mais do que essa casualidade. Mas ela valeu-lhe uma série de benefícios (do qual esta viagem não será o mais importante). Ainda bem para ele. Porque no meio da tragédia teve sorte.
Não quero parecer muito crítico, talvez nem tenha razão em dizer estas palavras, mas causa-me uma certa perplexidade esta atenção particularizada a uma vítima de uma tragédia que tocou tanta gente. A generosidade com que os portugueses contribuíram para as vítimas, de uma maneira global, não só a entendo como a aplaudo; a que se concede a uma criança apenas porque envergava uma camisola da selecção nacional de futebol do nosso país, confesso, não a sinto como muito legítima.
Acredito que muitos não pensem como eu, e aceito que assim seja, claro. Mas estas crónicas devem reflectir a minha opinião, e por isso a dou a conhecer.
Bom, mudemos de tema: entrámos na última semana de aulas na Universidade, vamos agora ter uma pequena pausa e depois vêm os exames. Meus caros estudantes que me escutem, vamos aproveitar este pouco tempo para, nuns casos, apenas arrumar melhor os conhecimentos, noutros, fazer um esforço, maior ou menor, para tentar salvar o ano. É tempo de deixar de lado as festas e de se ter mais em atenção os livros e os apontamentos. A todos desejo bons êxitos.
Até para a semana.
2 comentários:
Olá boa tarde:
Estou aqui em nome dos pequenotes netescritores para lhe agradecer a visita que ontem lhes fez.
Queria ainda sugerir que, dado o conteúdo deste seu post, voltasse àquele cantinho. Eles deixaram lá algumas perguntas que gostariam de ver respondidas pelos amigos.
Um abraço,
Emília.
Concordo contigo em tudo: detesto os "dias de" e também acho que todasas crianças merecem o mesmo respeito e toda a ajuda possível qualquer que seja a camisola que tragam vestida...Uma coincidencia e só isso!
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