2005/06/17

As Crónicas na RUM (12)


No passado dia 10, vi pela televisão uma mini-manifestação que aguardava as personalidades que tinham assistido em Guimarães às cerimónias comemorativas do dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. Eram certamente nossos alunos dos cursos de formação de professores, que protestavam contra as notícias divulgadas acerca da sua situação como estagiários. Creio que uma das faixas desfraldadas dizia mesmo que queriam estágios, o que aliás me parece não estar em causa.

Independentemente daquele discurso habitual que numa sociedade democrática todos os cidadãos têm o direito a manifestarem-se, vale a pena pensar nas razões que levem às manifestações. E tanto quanto me parece, aquela manifestação pecou por ser precoce. Na verdade, sabe-se muito pouco (à hora em que gravo esta crónica) sobre o que vão ser os estágios novo modelo. E o que se sabe, podendo levar a uma manifestação, não tem nada a ver com a não realização de estágios. A saber: os estudantes do 5º ano das licenciaturas em ensino vão deixar de ser considerados docentes e como tal cessam de ter direito a um vencimento; as actividades lectivas passarão a ser desenvolvidas em turmas de professores da escola (orientadores, ou como lhes queiram chamar).

Ora bem, a expectativa de em Setembro passarem a ter um vencimento e não o terem pode constituir motivo para manifestação (sobre isso poderemos falar mais tarde). Alterar o padrão do estágio, neste momento, não deve constituir motivo para contestar (por isso a minha surpresa por os manifestantes dizerem que queriam estágios, porque os vão ter).

Serão melhores? Piores? Aí, só depois de definida a praxis se pode argumentar. Mas posso desde já avançar alguns considerandos. Muito poucos países no mundo têm um estágio tão longo como Portugal, ou seja, um ano lectivo completo. Ainda que à primeira vista possa parecer que deva ser assim, porque é a melhor maneira de colocar o estagiário “em situação”, vendo o desenvolver de uma turma ao longo do ano, sendo responsável integral pelas aprendizagens dos seus alunos, tudo sob a supervisão de duas tutelas – escola e Universidade – a verdade é que muitas vezes este esquema tinha escondidas muitas ratoeiras. Nem sempre a dupla supervisão funcionava bem, nem sempre o orientador cumpria, e, finalmente, nem sempre o estagiário, a iniciar-se numa actividade para a qual terá muita teoria mas pouca prática, se sentia seguro. Isto para não falar nos casos em que não havia turmas das disciplinas por escassez de alunos ou quando os estagiários tinham de ir para terras longínquas, com graves prejuízos para eles e, digamos, para a própria Universidade.

Repito: não sei se as decisões do Ministério irão numa direcção certa ou não; o que não se pode é, antes de as conhecer, contestar. A questão do pagamento é outra coisa, mas nada tem a ver com a pedagogia; se há medidas que impõem austeridade, devem ser distribuídas, e desta vez calhou a sorte a alunos universitários que, contrariamente a colegas de outros cursos, tinham estágios remunerados.

O assunto não se esgota hoje; a ele voltarei, em breve.

Até para a semana.

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